Diana Pereira, médica interna que denunciou alegadas irregularidades no serviço de Cirurgia do Hospital de Faro era até há pouco tempo interna em Portimão. Diana demitiu-se, a 20 de junho, e está agora alegadamente envolvida na alta a Joana Nascimento, a jovem de Lagoa esfaqueada, a 15 de junho, à porta de casa pelo ex-namorado que morreu dias depois com uma septicemia, avança o Expresso.
Joana Nascimento, natural de Lagoa, com 26 anos deu entrada na urgência do Hospital de Portimão, onde Diana Pereira prosseguia a formação. A jovem foi admitida com duas perfurações no pescoço. O médico na urgência, um clínico geral, pediu apoio à equipa de cirurgia.
Segundo a mesma fonte, “Diana Pereira estava de serviço e acudiu. No registo clínico descreveu o episódio como ligeiro: ‘Visualização de duas feridas […] sem necessidade de sutura […] É feita limpeza e desinfeção da área e penso simples. Sem necessidade de cuidados adicionais por parte da cirurgia geral.’ E deu alta à jovem”.
Joana teve que recorrer a um hospital privado, dias depois, porque se encontrava “com febre, falta de ar, dores muito intensas no pescoço e dificuldade ao engolir”. Fez-se uma TAC e foi revelado um abcesso com 18 centímetros, “podendo ser devido a um hematoma que infetou, a perfuração faríngea ou do esófago infetada”. Com o agravar da condição de saúde, Joana teve que ir novamente para as urgências de Portimão, uma semana depois do ataque do ex-namorado.
A jovem entrou em choque séptico e foi transferida para o Hospital de Santa Maria de Lisboa, mas não sobreviveu.
Ao Expresso, o vogal da administração do hospital, Paulo Neves confirmou e lamentou o sucedido: “Lamentamos e reconhecemos como preocupante a circunstância em que a jovem veio à urgência, assim como o desfecho que viria a ter após a avaliação inicial que foi feita. O hospital não tem conhecimento de qualquer queixa apresentada. Não fazíamos ideia de que o caso envolvia a interna Diana Pereira.”
Para cirurgiões, que pediram anonimato “é grave e leviana a ligeireza, negligência e erro com que a situação foi avaliada. Feridas por arma branca, particularmente no pescoço, obrigam a um cuidado e a uma atenção ainda maiores. A morte podia ter sido evitada se a vítima tivesse sido devidamente tratada. Na primeira ida às urgências deveria ter sido feita TAC cervical e torácica, o que não aconteceu. Deveria ter ficado em observação no hospital, com repetição dos exames 24 horas depois, para acautelar possíveis lesões das estruturas importantes na região cervical, artérias, veias, nervos, faringe/esófago, laringe/traqueia ou penetração no tórax.”
Diana Pereira defendeu-se numa ‘story’ no Instagram afirmando que: “Enquanto interna de primeiro ano, nunca orientei sozinha/fiz prescrições/dei alta a doentes na urgência de Portimão. Fazia apenas exame físico e colheita de história com o devido registo clínico sempre acompanhada de internos mais experientes e especialistas que assumiam a orientação dos doentes. Dizerem que tenho responsabilidade seja em que caso for é no mínimo falso e criminoso”.