Milhares de consumidores compram canela nos supermercados sem imaginar o que realmente está dentro das embalagens. Um estudo recente veio levantar dúvidas sérias sobre a qualidade desta especiaria tão usada na cozinha portuguesa.
De acordo com o jornal espanhol AS, os resultados foram divulgados por um centro de investigação europeu que analisou amostras vendidas em vários países, incluindo a União Europeia (UE), o Reino Unido e a Sérvia. A conclusão foi alarmante: dois terços da canela à venda não cumprem a legislação internacional de qualidade.
Entre os problemas encontrados está a presença excessiva de cumarina, uma substância natural que, em quantidades elevadas, pode ser tóxica para o fígado. O mesmo estudo detectou ainda níveis preocupantes de metais pesados em algumas marcas.
Uma ameaça escondida no frasco
Em quase 10% das amostras analisadas, os investigadores encontraram vestígios de chumbo acima do limite legal imposto pela UE. A legislação define o valor máximo em 2%, mas vários produtos ultrapassaram esse patamar.
A descoberta preocupa especialistas em saúde pública de acordo com a mesma fonte, já que o consumo contínuo de metais pesados está associado a doenças graves. Apesar disso, muitos consumidores continuam a comprar canela sem suspeitar destes riscos.
Canela adulterada com outros ingredientes
O estudo revelou também práticas de fraude que passam despercebidas a olho nu. Em alguns casos, a casca típica da canela foi substituída por folhas, raízes ou até flores trituradas. Noutras situações, a chamada “canela do Ceilão” era, afinal, uma imitação.
Cerca de 9% das amostras vendidas como canela de Ceilão eram, na realidade, compostas exclusivamente por canela de Cássia, uma variedade mais barata e com maior teor de cumarina.
A opinião dos especialistas
Para Enrique García, porta-voz da Organização de Consumidores e Utilizadores (OCU) espanhola, este trabalho é essencial. “Pode ajudar a comunidade científica e os responsáveis políticos a definir limites claros e a identificar quando uma amostra deve ser considerada suspeita”, referiu.
Segundo o mesmo responsável, esse tipo de estudos pode reforçar a fiscalização e fornecer às autoridades ferramentas para agir contra práticas fraudulentas.
Não é caso isolado
O problema não se restringe a esta especiaria muito utilizada na cozinha portuguesa. Já em 2022 a Comissão Europeia tinha conduzido um inquérito semelhante a outras especiarias como a pimenta, o açafrão, a cúrcuma, o pimentão e o cominho. Os resultados também apontavam para um nível elevado de adulterações.
Na altura, várias organizações de defesa do consumidor alertaram para a necessidade de reforçar os controlos e criar maior transparência nas cadeias de distribuição.
O que está em causa para o consumidor
A canela é usada em sobremesas tradicionais portuguesas, desde o arroz-doce às rabanadas de Natal. A revelação de que uma parte significativa pode estar adulterada levanta questões sérias sobre a confiança no setor alimentar.
Além da perda de qualidade, a presença de toxinas e metais pesados coloca em risco a saúde de quem consome regularmente a especiaria.
Próximos passos
As entidades europeias estudam agora formas de reforçar a regulamentação, criando novos valores de referência para substâncias como a cumarina. A aposta será numa fiscalização mais apertada e em sanções mais duras para quem enganar os consumidores.
Até lá, e segundo o AS, especialistas recomendam precaução na escolha dos produtos e atenção às origens declaradas nos rótulos. Comprar em locais de confiança pode fazer a diferença entre levar para casa uma especiaria genuína ou uma mistura sem qualidade.