O deputado do PS Porfírio Silva colocou hoje ao mesmo nível PSD, CDS e o Chega pelas suas reações à pandemia de covid-19 e pediu-lhes que “deixem de ser profetas da desgraça” e de “explorar o sofrimento dos outros”.
Foi desta forma que acabou o debate, aceso, no parlamento, da declaração política de Porfírio Silva, centrado no Orçamento do Estado de 2021, passada uma semana sobre a sua aprovação, e que definiu como “um orçamento de combate à crise” e não de “combate à oposição”.
O deputado socialista enumerou as medidas sociais para resposta à crise criada pela epidemia, como a nova prestação social ou a contratação de pessoal médico para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), e defendeu um “sentido profundo de reciprocidade” e não “comportamentos puramente destrutivos”.
Depois, ouviu e respondeu a perguntas de cinco deputados, incluindo da direita do hemiciclo (Cristóvão Norte (PSD), João Gonçalves Pereira (CDS) e André Ventura (Chega), a que não faltaram referências à falta de resposta do Governo aos empresários da restauração em greve de fome “à porta da Assembleia”.
Ao Chega, que tinha acusado o PS de já não ser a “salvação do país”, se não consegue “resolver um conflito à porta” do parlamento, Porfírio Silva pediu que “deixe de ser hipócrita” e “não mude de opinião todos os dias”, depois de recordar que o partido tinha retirado do programa, e o programa do “site” do Chega, a proposta de acabar com o SNS.
“Imagine se tivéssemos feito o que propunha no seu programa”, afirmou, com ironia.
A Gonçalves Pereira, que perguntou a Porfírio se o PS estava de consciência tranquila pela resposta dada pelo Governo à crise, pediu que “não se junte ao colega de trás [Ventura] para explorar o desespero dos outros”, que “não é para explorar audiências e as pessoas, é para ser resolvido”.
“Não temos vergonha e estamos de consciência tranquila”, afirmou o deputado do PS que admitiu que nem tudo correu bem ao executivo de António Costa.
Por fim, a Cristóvão Norte, do PSD, que criticou o Governo por anunciar medidas que depois “não são bem” como foram anunciadas ou deixam empresários de fora, Porfírio Silva apontou incoerência, por ter dito, no debate do Orçamento, que o PS queria “dar tudo a todos” e agora dizer o contrário.
“O PSD, já nos habituou, é mais ou menos como aqueles que tiram o programa do ‘site’ [Chega]. Um dia diz uma coisa, noutro diz outra”, disse.
E aconselhou o partido a “ser responsável”, recordando que um deputado social-democrata, Ricardo Batista Leite, que não identificou, ter referido, em junho, “já estamos numa segunda onda”, numa altura em que o Presidente da República dizia que “estava tudo controlado”.
“Deixem de ser profetas da desgraça e deixem de explorar o sofrimento dos outros, isso fica-vos melhor”, afirmou.
Na sua declaração política no plenário, o PAN defendeu uma resposta mais robusta à crise imposta pela pandemia de covid-19 em matéria de apoios sociais, e afirmou que a resposta a protestos de setores como a restauração ou os trabalhadores da TAP “não pode ser a indiferença”.
“Podemos e devemos fazer mais, de modo a garantir respostas mais concertadas em vez de continuarmos a acrescentar remendos a uma manta de retalhos já de si curta”, defendeu a líder parlamentar Inês Sousa Real, considerando que são precisos “apoios robustos a fundo perdido”, mais do que soluções que aumentem o endividamento das empresas.
Se o diagnóstico do PAN foi apoiado por BE, PCP e até PSD, o deputado do CDS-PP João Almeida apontou contradições a um partido que, na semana passada, viabilizou a proposta orçamental do Governo através da abstenção.
“É com alguma coragem que a sra. deputada se dirige a esta Assembleia. O que aconteceu entre a semana passada e hoje que permitiu ao PAN ver as insuficiências que antes não viu?”, perguntou.
Na resposta, Inês Sousa Real respondeu que o PAN continuará a bater-se por melhores soluções, mas rejeitou a “irresponsabilidade de abrir a porta uma crise política em cima de uma crise socioeconómica sem precedentes”.