Portugal enfrenta um dilema crítico na defesa aérea: substituir os 28 obsoletos F-16, com mais de 30 anos de serviço, pelos modernos e furtivos F-35, uma necessidade sublinhada pelo chefe do Estado-Maior da Força Aérea. “Está em causa uma questão essencial, que é a integridade e a defesa aérea do nosso país, a nossa soberania. Sem caças credíveis, não existe”, adverte o general Cartaxo Alves, em declarações ao semanário ‘Expresso’.
A urgência de substituir os F-16 torna-se mais evidente quando se considera o custo astronómico dos F-35. Com um preço de 5 mil milhões de euros para 27 aeronaves ao longo de 20 anos, este investimento equivale a todas as compras militares em Portugal nos últimos 12 anos. A aprovação do governo para a entrada de Portugal neste programa é crucial, embora o primeiro F-35 só chegaria entre oito a dez anos. Nessa altura, os F-16 terão mais de 40 anos, perdendo completamente a sua relevância operacional, segundo a Executive Digest.
A inação traz consigo riscos consideráveis. Sem os F-35, Portugal arrisca-se a perder a soberania aérea e a credibilidade junto da NATO, num momento de crescente insegurança internacional. “Estamos a ficar sozinhos”, alerta o general, sublinhando que a exclusão de Portugal da quinta geração de caças de combate implica que “alguém tem de vir aqui” para garantir o policiamento aéreo. “É uma perda de soberania. E nós acompanhamos muitos aviões russos que sobrevoam as nossas águas, porque é o circuito da aviação russa de longo curso até à Venezuela.”
A manutenção dos envelhecidos F-16 é outra dor de cabeça. “Tínhamos um programa em que comprávamos tudo em conjunto e assim conseguíamos preços mais favoráveis”, explica o general. No entanto, à medida que os aliados deixam de atualizar este modelo, “a obsolescência destes caças começa a ser crescente: só mudar o radar a 18 dos F-16 portugueses custaria mil milhões de euros”, exemplifica.
A entrada operacional de países como Dinamarca, Bélgica, Países Baixos e Noruega na frota dos F-35 poderá relegar Portugal para uma posição secundária. “Quando começarem a voar operacionalmente o F-35, deixamos de ser chamados para a linha da frente”, antevê Cartaxo Alves. “Passamos a ser uma liabilidade para todos os outros. Ou seja, passam a ter de estar preocupados connosco, em vez de estarem preocupados com o inimigo.”
O futuro da defesa aérea portuguesa está em jogo. A decisão sobre a adesão ao programa dos F-35 não é apenas uma questão de modernização militar, mas sim uma escolha fundamental sobre a capacidade de Portugal manter a sua soberania e relevância no cenário internacional. Num contexto de incertezas e ameaças crescentes, a opção por continuar com os F-16 pode ser um risco demasiado alto para o país.
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