O PCP vai debater e analisar a experiência da “geringonça”, acordo histórico à esquerda, num congresso, de sexta-feira a domingo, em que a substituição de Jerónimo de Sousa como secretário-geral deverá ficar adiada.
Nos últimos meses, militantes discutiram as chamadas teses, ou proposta de resolução política, um longo documento de 77 páginas (e mais de 265.000 carateres) de balanço dos últimos quatro anos no partido e que define a estratégia até 2024 num congresso que, mesmo antes de começar, com 600 delegados, metade do que em 2016, já está envolto em polémica por se realizar uma altura de pandemia e sob o estado de emergência.
Nas teses, os comunistas fazem uma avaliação positiva da “nova fase da vida política portuguesa” — como se refere o PCP à “geringonça” — embora admitam que teve resultados limitados.
E sobre a repetição da experiência no futuro, tanto nas teses como em entrevistas de Jerónimo de Sousa, fica claro que há mais espinhos do que rosas, quando, à Lusa, o líder comunista disse que desde o início da epidemia em Portugal se aprofundaram as divergências entre o PS e o PCP — políticas e de resposta à crise.
Aliás, os comunistas acusam os socialistas de bloquearem outras propostas e soluções para os problemas do país e de “aceitarem passivamente” os “ditames da União Europeia”.
Em março, o comité central que aprovou a primeira versão das teses apelava ao partido para “retirar ilações” sobre a experiência das “posições comuns” entre 2015 e 2019, que permitiu, por exemplo, viabilizar os Orçamentos do Estado do Governo do PS, com os votos do BE e PEV e é essa análise que se prevê seja feita durante o congresso.
Além da eleição do novo comité central, o órgão máximo entre congressos vai escolher o secretário-geral do partido e, apesar de não existir uma decisão, todos os sinais apontam para a continuação de Jerónimo, líder desde 2004.
Se, em 2019, Jerónimo de Sousa admitiu sair neste congresso porque “é da lei da vida”, desde setembro que tem dado sinais de “ficar mais um bocadinho”.
O último foi numa entrevista à Lusa, na quinta-feira. Ao ser questionado sobre que marca pensa ter deixado ao longo de 16 anos de liderança, respondeu: “Eu hoje não estaria em condições de escrever um livro de memórias. Continuo a pensar que meu futuro, seja como secretário-geral seja como membro do comité central ou como militante, é ainda a olhar para frente. Continuo com mais projeto do que memória.”
Uma das dúvidas que só se desfará em cima do congresso é quanto à composição do novo comité central. Jerónimo admitiu uma pequena redução e prometeu um reforço da participação de mulheres.
Os comunistas enfrentam uma segunda vaga de críticas, em especial da direita, por fazer um congresso em plena pandemia de covid-19, depois da polémica, em setembro, com a festa do Avante.
Na semana que antecedeu o congresso, a questão aqueceu o debate político, com críticas violentas da parte do PSD, CDS e Chega, que também atingiam o Governo por nada fazer para impedir a reunião dos comunistas.
O primeiro-ministro, António Costa, respondeu que mesmo que a lei, de 1986, que estabelece que “as reuniões dos órgãos estatutários dos partidos políticos, sindicatos e associações profissionais não serão em caso algum proibidas, dissolvidas ou submetidas a autorização prévia”.