Inês Sousa Real esteve ao ataque e deixou divididos os comentadores do Expresso. Contas feitas, há um empate técnico, com uma diferença de um ponto apenas. Veja como se repartiram as análises
João Vieira Pereira
Inês Sousa Real 2 – Rui Rio 4
Depois de tantos debates já não há paciência para as não respostas de Inês Sousa Real sobre um possível acordo com o PS ou sobre o imposto sobre os combustíveis. Em todas as hipóteses que teve em vários debates nunca deu uma resposta, fugiu sempre às duas perguntas o que diz muito sobre si… Continuando… a líder do PAN entrou ao ataque sobre o fim dos debates quinzenais no Parlamento acusando o PSD de apoiar uma espécie de ataque à democracia, Rio respondeu, bem, que se é isso que representa mais democracia então basta instituir debates semanais… Sousa Real continuou ao ataque sobre Rui Rio na política florestal ou sobre a localização do aeroporto de Lisboa. Por sua vez o líder do PSD jogou à defesa numa clara tentativa de não querer hostilizar o PAN. A argumentação de Rui Rio foi fraca até entrar na temática fiscal.
Cristina Figueiredo
Rui Rio 7 – Inês Sousa Real 7
Foi viva mas civilizada a troca de pontos de vista entre dois partidos que, como sublinhou Rui Rio, estão “abertos à negociação” entre si. Inês Sousa Real chegou ao seu último frente-a-frente em muito melhor forma do que no início desta longa maratona. Voltou a ficar claro que ganhe o PS ou PSD as eleições, a porta-voz do PAN estará disponível para conversar com qualquer deles, aproveitando estes minutos de debate com o líder do PSD para lhe deixar bem identificadas quais as linhas vermelhas dessa eventual negociação. Fica a dúvida se essa “clareza na indefinição” (de apoio aos dois partidos de um “bloco central” que começou por criticar) lhe dá mais votos do que os que lhe retira.
Eunice Lourenço
Rui Rio 6 – Inês Sousa Real 6
Não concordam em quase nada, mas admitem conversar sobre quase tudo. Um bom princípio democrático, mesmo quando começam logo por discordar sobre o funcionamento da Assembleia da República. Rui Rio considera que os debates quinzenais que Inês Sousa Real quer recuperar são uma “berraria” e “um espetáculo mediático” que não aceita recuperar.
Inês Sousa Real, apesar de pôr sempre a sua “cassete” independentemente da pergunta que lhe é feita, esteve bem a defender as suas bandeiras e a rebater os argumentos do presidente do PSD em matéria de impostos e de floresta. Rio foi firme no seu condicionamento da descida de impostos ao crescimento económico e pragmático na defesa do eucalipto. Um bom debate a terminar esta maratona.
Martim Silva
Rui Rio 6 – Inês Sousa Real 5
Ao fim de duas semanas e de uma longa maratona de frente a frente televisivos (foram 30 com o desta noite, e seis não se realizaram por causa da recusa dos comunistas, senão seriam 36), aos líderes do PSD e do PAN coube a tarefa de encerrar este ciclo.
Uma discussão civilizada em que o principal foco de interesse era perceber até que ponto as pontes e possibilidades de entendimento entre as duas forças, num cenário pós-eleitoral, são possíveis.
E a verdade é que depois de ouvir Rio e Sousa Real se percebe que apesar do mundo que os divide (caça, touradas, pesca, eucaliptos, etc, etc) não parecem existir aqui muros totalmente intransponíveis em caso de necessidade (por exemplo, para aprovar orçamentos, como aconteceu nos últimos anos). E Inês Sousa Real foi clara ao dizer que para o seu partido o que interessa é o avanço da causa animal e ambiental e que tanto faz qual é a cor do partido que governa o país.
A discussão de hoje foi, e tem sido muitas vezes assim nos debates com pequenos partidos, marcada pelos temas que a força com menor expressão eleitoral traz. Com isso beneficiou Inês Sousa Real.
O ponto menos positivo para Rio foi a defesa acérrima que continua a fazer do fim dos debates quinzenais do primeiro-ministro com os deputados no Parlamento, dizendo que assim se ganha eficácia na governação e não se perde escrutínio da AR ao Executivo.
David Dinis
Rui Rio 4 – Inês Sousa Real 6
Inês de Sousa Real partiu para o debate com Rui Rio com uma nuvem sobre a cabeça: seria o PAN um parceiro para o PSD ou só para o PS?
No debate final, a líder do PAN nunca deixou uma resposta cabal, mas passou todo o debate a fazer críticas a Rui Rio e ao seu programa.
Debates quinzenais, petições populares, novas regras de contratação pública (nestes três pontos, sempre a par do próprio PS). Também a plantação de eucaliptos que está nas propostas de Rio, a mudança de tutela da defesa dos animais, a pressão para reduzir já o IRS ou o apoio ao novo aeroporto em Alcochete. Contadas só assim, foram sete críticas, pondo Rio muito à defesa.
O líder social-democrata não fez igual. Deixou leve referência ao que classificou como linhas vermelhas (“na pesca, na caça, nas touradas”), mas também deixou concordâncias — as críticas às PPP rodoviárias e mais “algumas coisas interessantes” na Saúde que disse ter visto no programa do PAN (e que não teve tempo de concretizar no debate, mas que detalhou à saída da RTP ser sobre a “medicina preventiva”).
A verdade é que Rio, que só pareceu o mesmo de quinta-feira na questão dos impostos, pareceu um líder sem vontade de cortar pontes. Se isto era expectável, mais estranho é que Rui Rio tenha discutido (como quem negoceia) questões como os eucaliptos ou o fim da isenção de impostos às grandes empresas poluidoras, mas tenha sido liminarmente intransigente na defesa do fim dos debates quinzenais com o primeiro-ministro.
Estranho é dizer pouco: Rio, que é candidato a deputado e candidato a primeiro-ministro, disse que o Parlamento está degradado e que os debates com o chefe de Governo servem para “perder uma tarde inteira e o dia anterior a preparar” e para “fazer espetáculo”. Admito que seja popular, mas é triste que, em vez de querer mudar esse estado que vê no Parlamento, qualificando-o e tornando os debates realmente fiscalizadores, Rui Rio prefira cortar-lhe a voz. Pior que aqui, só mesmo com Ventura.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL