O primeiro-ministro, António Costa, revelou hoje que o Ministério da Defesa Nacional mobilizou mais 140 camas para doentes com covid-19, mais do que aquelas disponibilizadas por todo o setor privado, rejeitando assim qualquer “complexo ideológico”.
“Só hoje, o ministro da Defesa Nacional conseguiu mobilizar mais 140 camas [para doentes covid] e 10 camas de cuidados continuados integrados, o que significa que são mais que aquelas que os privados disponibilizaram no seu conjunto para combater a covid-19”, afirmou.
Este número foi revelado por António Costa já na segunda parte do primeiro debate do ano com sobre política geral, na Assembleia da República, depois de ter sido acusado por um deputado do CDS-PP de sobrepor uma “questão aparentemente ideológica a tudo o resto”.
Em resposta, o primeiro-ministro rejeitou essa ideia e retorquiu: “não venha com fantasmas sobre ideologia”.
“O que é que quer que lhe diga? A realidade é esta e não há da nossa parte nenhum complexo. Haja mais disponibilidade [do setor privado], venham eles, são muitíssimo bem-vindos”, afirmou.
Ainda assim, António Costa considerou que os hospitais privados têm “disponibilizado aquilo que têm podido disponibilizar”, e sublinhou, ainda a propósito da acusação de complexo ideológico, que respeita “a sua lógica própria de funcionamento”.
Na sua interpelação ao primeiro-ministro, o deputado centrista Telmo Correia considerou que o executivo de António Costa não soube preparar a época do outono-inverno, deixando de fora o setor privado do plano para combater a pandemia da covid-19.
“O Governo assumiu mais do que uma vez que o SNS (Serviço Nacional de Saúde) era autossuficiente, quando efetivamente não era, e só em outubro começaram a procurar à séria o apoio dos privados”, criticou o deputado.
Esta questão já tinha sido está em cima da mesa logo na primeira parte do debate, quando a a coordenadora do Bloco de Esquerda voltou a apelar ao primeiro-ministro para que use a requisição civil para ajudar o SNS.
“Quando os privados depois de meses de negociação não são capazes de por a disponibilidade do estado sequer 10% da sua capacidade, se não é agora que os requisitamos, quando? Quando temos hospitais de campanha do SNS que não podem abrir porque não têm profissionais suficientes, mas há profissionais e instalações no privado e não os requisitamos agora, senão agora, quando? Quando?”, questionou a deputada.
Na intervenção de Telmo Correia, o deputado do CDS-PP criticou também esta posição, questionado o que é que o Governo vai requisitar. “Os privados também estão cheios, o que é preciso é contratualizar camas que possam ainda ser disponibilizadas”, argumentou.