– Se formos sempre em frente, chegamos ao mesmo sítio…
Fiquei a olhar para ele enquanto lhe media a seriedade das palavras. O meu silencio instigou-o a continuar:
– Já viste que em vez de regressarmos a casa via Paris, podíamos simplesmente apanhar um avião para Sidney, depois outro para Lima ou LA e regressar daí a Lisboa? Em vez de voltar para trás, íamos sempre em frente e regressávamos ao mesmo sítio…
Olhei à nossa volta. Sentados numa mesa do La Favela, percebi-me incapaz de reter tanta informação visual (quem já lá esteve entenderá) e, ao mesmo tempo, entendi que o mundo não se consegue absorver só com os olhos e com imagens captadas. Não. Para o capturar de verdade temos que nos entregar, deixar ir; temos que o abraçar com o ser, desligando toda a razão até que todos os sentidos se apurem…
Na verdade há um certo sabor irreal nas viagens, quase como se conseguíssemos sair de nós mesmos e sentíssemos cada vivência com muito mais intensidade; como se as paisagens se pintassem ali, só para os nossos olhos, com pinceladas divinas, provocadoras, a provar-nos que conseguimos ser mais e fazer melhor.
– Ainda não estou nesse ponto, Ricardo, de deitar fora voos de 13 horas já pagos e voltar para casa dez dias depois do previsto… – sorri-lhe com traquinice – quem sabe um dia? O que te posso garantir é que, com o que tenho absorvido nestes dias, vamos regressar com reatores nos calcanhares e preparados para tornar ainda mais bela, única e eficaz, a nossa realidade…
Viajar é isto: investir para crescer. E as viagens que fazemos, mais que um prazer ou recompensa, são o reflexo perfeito no compromisso assumido com a nossa evolução.