Os ex-combatentes nas ex-colónias em África cimentaram o hábito de se juntarem anualmente num almoço-convívio entre si e os seus familiares.
As avalanchas de rapazes fogosos que calcorrearam as picadas da sorte naquelas terras de outros Povos, forjaram, na bigorna da guerra, amizades de muito longo prazo que hoje continuam a frutificar passado mais de meio século. Que as novas gerações saibam colher tais frutos.
Fui este sábado, 14/10/2023, a mais um desses almoços do BCAC 2929. A refeição da alma é mais importante do que aquilo que se come. Naqueles locais sagrados não há lugar para as histórias da sorte e azar, há apenas a celebração da amizade daqueles que ainda percorrem os trilhos da Vida.
Demos um abraço àqueles que já percorreram todos os caminhos da Natureza.
Nas agruras do desejo de vida e paz na Guiné, conheci jovens, alguns ainda meninos porque eram voluntários, os quais são hoje velhos abandonados pelo Poder que para lá os mandou. Estão envelhecidos pela Natureza mas são poços de histórias que já nada valem, apenas lhes restam as memórias retorcidas pelo tempo e a infinita vontade de continuarem a celebrar a vida com aqueles a quem o acaso os juntou.
A celebração da vida ocorre desde que nos livrámos da farda e continuará até ao tombar do último que por lá passou, começará então o arraial de homenagens ocas promovidas por todos aqueles descendentes dos que mandaram, e voltariam a mandar, todos os nascidos nas décadas de 40 e 50 do século passado, para os campos de batalha em África.
Quero deixar aqui um abraço a todos aqueles que, na aviação, na marinha ou no exército, foram obrigados a desaproveitar a sua juventude, mas que apesar de tudo continuam hoje, com quase noventa anos, a ensinar aos mais jovens o que é a amizade forjada ao som dos disparos.
Continuemos a celebrar as nossas memórias em reencontros que nos dão vida até ao dia em que a sombra de uma pequenina árvore dê abrigo aos que restarem.
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