Aniquilação, de Michel Houellebecq, com tradução de José Mário Silva, publicado pela Alfaguara, é o oitavo romance do polémico escritor francês.
O protagonista, Paul Raison, é um alto funcionário ministerial, com uma vida sexual desinteressante (quase inexistente), que trabalha diretamente com o ministro da Economia, ganha na casa dos 8.000 euros, já passou dos quarenta anos (pertence à geração que assistiu ao Matrix no cinema), vive uma relação estéril de conveniência (mais de dez anos sem sexo) com Prudence, a sua mulher, que se tornou, por seu lado, vegan e adepta da Wicca, uma religião neopagã. O casal convive o mínimo possível num apartamento em Paris.
O romance abre com uns bizarros vídeos que se tornaram virais online – num deles, o ministro da Economia francês é guilhotinado. Seguem-se uma série de atentados terroristas que lançam o alarme em França, onde decorre a campanha para as eleições presidenciais… de 2027 – pois a ação localiza-se anos adiante do nosso tempo. Entretanto o pai de Paul entra em coma, e ficaremos gradualmente a saber que colaborou com os Serviços Secretos, trazendo ao romance novos laivos de espionagem…
Neste romance, entre o thriller político e a reflexão existencial, a trama rocambolesca e as cenas de sexo gráficas a que o autor nos habituou dão lugar a uma relação redescoberta, construída com base no amor e no companheirismo, em que o sexo surge apenas como prolongamento da ternura, e abordam-se questões atuais e prementes, como as relações familiares, a conjugalidade, a política e o ativismo terrorista cibernético. Um romance sobre o declínio do Ocidente, mas também uma reflexão mais abrangente sobre o sentido da existência, em que há uma nota inédita e quase desconcertante de esperança, a roçar a espiritualidade. A linguagem é mais contida, a intriga mais linear (ainda que mais perto do final o romance dê uma viragem súbita), e a prosa mais extensa – o livro tem mais de 600 páginas.
Michel Houellebecq é um autor francês nascido na ilha de Reunião, em 1956. Escreveu mais de vinte livros, entre romance e poesia. Publicado em mais de quarenta países, tem milhões de leitores em todo o mundo; em Portugal os seus livros venderam mais de trinta mil exemplares. Com Aniquilação, a Alfaguara completa o catálogo dos seus romances em Portugal. Terminada a leitura deste seu mais recente romance, é oportuno (re)ler Intervenções, o único livro de ensaios do autor editado em Portugal.