*Aproxima-se uma vez mais as comemorações do dia 25 de Abril de 1974
Os anos dos acontecimentos marcantes da guerra do Ultramar “voaram” mas as marcas, essas permanecem ainda inscritas e para sempre na minha memória como combatente e na de outros que por aquela guerra sangrenta passaram.
Viveram-se momentos dramáticos de autênticas “toupeiras ou mesmo ratos” escondidos, ou mergulhados nos abrigos, ou ainda “protegidos” por tendas de campanha, algumas delas perfuradas de balas, provenientes de ataques dos grupos (IN) de guerrilha sofridos.
Apenas deixo aqui algumas simples fotos como um exemplo, entre tantos outros para chamar, sobretudo, a atenção dos nossos governantes e cidadãos em geral, pelo continuado “esquecimento” e quiçá alguma falta de respeito e atenção”, relativamente, aos combatentes portugueses da guerra do Ultramar.
Ao fim ao cabo foram eles, também, uma das partes principais e motivos do despoletar do golpe de Estado no 25 de Abril 1974, pelas suas condições de precariedade vividas nas forças armadas, no desenvolvimento do teatro de guerra, através das respectivas mobilizações e sofrimentos passados.
*”Esta ação foi liderada por um movimento militar, o Movimento das Forças Armadas (MFA), composto na sua maior parte por capitães que tinham já participado na Guerra Colonial e que tiveram o apoio de muitos Oficiais milicianos.
Muitos desses militares regressaram de África ainda antes do 25 de Abril de 74 para a então chamada metrópole. Assim, dessa forma, alguns deles fizeram parte do movimento das forças armadas no dia 25 de Abril 74. Outros participaram mas já colocados na situação de disponibilidade…
Se hoje em Portugal se pode falar de “Liberdade e Democracia” tem de se agradecer a todos aqueles que lutaram por as conquistar.
Infelizmente, assiste-se a um desgaste na práxis do “conceito de acção e desrespeito” para com os protagonistas combatentes, ou seja por parte daqueles já “montados no cavalo da chamada democracia mas de Representação”.
Então e os nossos governantes que tanto dizem defender, os valores e princípios destes homens guerreiros de um determinado momento político complexo em defesa da sua Pátria, cuja doutrina política do tempo era-lhes assim transmitida, pois que bem foi feito aos que ainda estão vivos, ou às famílias, daqueles que já faleceram?
Milhares de jovens perderam a vida naquela triste guerra, outros ficaram estropiados e traumatizados para sempre e outros ainda por lá ficaram, tristemente, abandonados pelo Estado, nos solos africanos.
Os restantes ainda vivos, cá vão seguindo, neste cantinho árduo com alguns ingratos a seu lado e que têm belas vidas de “aconchego, ou se repasto”.
Os combatentes da guerra do Ultramar, transportam consigo os traumas psicológicos das lembranças e que o tempo, nunca mais conseguirá apagar das suas memórias.
O que é que o nosso Estado tem feito, ou pretende vir a fazer para tudo isto poder reconhecer e compensar?
Será com uma “honrosa” atribuição “ridícula” de um suplemento de reforma com cerca de 75 a 150 euros anuais que nem chegam para comprar meia dúzia de caixas de medicamentos de calmantes ou antidepressivos?
Para que servirá, também, a atribuição do seu cartão de identificação de Combatente e algumas medalhas de mérito e honra recebidas, se mais nada for feito para eles.
Aliás, até há discriminação na forma de atribuição desse dito cartão, pois só se beneficia com ele em “passagens” nos tansportes públicos mas para as zonas metropolitanas de Lisboa e Porto e o resto espalhados por outras partes da nação, só terão direito a olhar para as paisagens, ou para irem passar o veraneio, nas praias algarvias.
Estarão os ditos “nobres “responsáveis” de Portugal à espera que os ex-combatentes “desapareçam todos” para poderem recuperar ainda as suas reformas, pagas pela Segurança Social, ou pensões pela CGA!?
Que não se esqueçam que a História fará registo de todas as atitudes e acções para que os vindouros venham a ter conhecimento das mesmas.
Se fosse nos EUA, ou noutros países evoluídos, não seria assim, nesta sua situação, certamente…
Aliás, até se sabe, sobejamente, o apoio e a correspondência com respeito atribuídas, condignamente, por esses países aos seus combatentes.
Vários discursos políticos irão surgir, nestes novos e briosos tempos ditos democráticos, a partir de cima dos diversos palanques público-políticos do país, comemorativos do dia 25 de Abril 74 com pins brilhantes de bandeirinhas espetados na “fatiota” e cravos vermelhos colocados nas lapelas nos seus fatos de “abas de grilo”, acompanhados pelo hino Maria da Fonte e pela sonoridade de lindas palavras, alusivas ao dito evento.
Também são feitas como que espécies de “romarias”, aos cemitérios da nação para serem homenageados os já falecidos combatentes. Então e os por cá estão ainda vivos, serão “ignorados”?
Algumas referências, certamente, serão dirigidas aos mesmos mas quiçá muitas delas serão elaboradas de improviso, ou mesmo feitas por “encomenda” e assim o vento se encarregará de as levar para longe como tem vindo a ser habitual…
As palavras só terão fundamento e substância com a devida correspondência em atitudes ou acções, a serem tomadas.
Que os nossos governantes passem pois, dessas suas lindas palavras aos actos, correspondendo os mesmos, ao valor humanitário, serviço público honroso, digno e solidário, entre outras boas atitudes que deverão ter nas suas práxis de ética e moral de governação, e que nos dias de hoje não devam ficar esquecidos, tais tristes e dolorosos episódios, ou vir mesmo a esquecê-los de vez…
As “mossas” essas continuarão na “pele” de quem por tudo isto passou e que ainda por cá andam, felizmente, para irem contando aos mais jovens cidadãos do seu país como foi a guerra colonial pr elesč desde o período entre 1961 a 1974.
*Ex-Alferes Mil. Atirador de Artilharia com a especialidade de Oficial de Minas e Armadilhas, tirado na E.P.Eng. em Tancos;
Combatente ao serviço da C.ART 7258/73 em Moçambique;
Tenente mil na disponibilidade;
Atualmente um cidadão pró-activo.