O Dia Nacional da Água, celebrado a 1 de outubro desde 1983, surge este ano com uma urgência renovada. Comemorado no início do ano hidrológico, este dia deveria ser uma oportunidade para refletir sobre a importância da água enquanto recurso vital, e para assumir compromissos reais para a sua gestão sustentável. No entanto, Portugal enfrenta uma crise hídrica crescente, e as alterações climáticas têm tornado este desafio ainda mais crítico, sobretudo no sul do país.
A Associação Ambientalista Zero lançou recentemente um apelo urgente para que se mude a forma como gerimos a água no país. Segundo a associação, as perdas de água são alarmantes: 35% no setor agrícola e 30% no setor urbano. Estes números refletem não apenas uma ineficiência na utilização dos recursos hídricos, mas também a falta de uma política robusta que priorize a poupança e reutilização da água.
Este editorial reforça a necessidade urgente de uma gestão mais eficiente e sustentável da água, destacando os desafios e soluções que o país enfrenta no contexto da crise hídrica e das alterações climáticas
As secas prolongadas, cada vez mais frequentes no sul de Portugal, em particular no Algarve, têm exacerbado a escassez de água, colocando em risco a agricultura, a biodiversidade e até o abastecimento de água às populações. A Zero alerta ainda para o uso descontrolado da água em setores como a agricultura intensiva e o turismo, dois pilares da economia nacional que, sem uma gestão responsável, podem contribuir para a degradação dos recursos hídricos.
Um dos exemplos que levanta preocupação é a proposta de construção de uma “autoestrada da água”, que visa transferir água entre bacias hidrográficas até ao Algarve. Embora o objetivo seja responder à escassez de água na região, esta solução, segundo a Zero, pode ter graves consequências ecológicas e económicas, desequilibrando ecossistemas e aumentando a competição por um recurso já escasso.
A solução para a crise hídrica de Portugal, como defendido pela Zero e outros especialistas, não passa por infraestruturas que possam ser desastrosas a longo prazo, mas sim por uma gestão mais eficiente e sustentável da água. Reduzir as perdas nos setores agrícola e urbano, apostar na reutilização das águas residuais tratadas e garantir que todos os utilizadores paguem um preço justo pelo consumo de água, são algumas das medidas defendidas para evitar um colapso dos nossos sistemas hídricos.
Este Dia Nacional da Água é, por isso, mais do que uma data simbólica. É um momento de chamada à ação. A água é um recurso cada vez mais escasso, não só em Portugal, mas a nível global. A ONU tem alertado para a necessidade urgente de garantir que todos os países implementem políticas que assegurem o acesso a água potável e saneamento seguro para todas as populações. No entanto, estamos longe de alcançar esse objetivo. A poluição, o uso intensivo e desregulado da água e a pressão crescente das alterações climáticas colocam o mundo – e Portugal – em risco de enfrentar uma crise de água sem precedentes.
Portugal precisa de liderar o caminho em direção a uma gestão sustentável da água, não apenas para garantir o bem-estar das gerações presentes, mas também para assegurar o futuro das gerações vindouras. A utilização da água deve ser regida pelos princípios da sustentabilidade e da eficiência, com uma aposta clara na reutilização e na poupança deste recurso vital.
Todos nós, como cidadãos, temos também um papel a desempenhar. Desde pequenas mudanças em casa, como reduzir o desperdício de água, até à participação ativa na defesa de políticas públicas que assegurem uma gestão justa e eficiente da água. O futuro da água em Portugal depende de decisões tomadas hoje – e a responsabilidade é de todos nós.
Neste Dia Nacional da Água, que possamos refletir sobre o nosso papel e agir em prol de um futuro onde a água, esse recurso vital e insubstituível, seja preservada e utilizada de forma sustentável.
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