Postscriptum. Porque a crónica ficou grande e nem todos têm paciência para ler tudo até ao fim aqui fica um resumo executivo:
- Saiu agora em 2025 um estudo financiado em crowdfunding, que põe em causa a teoria ortodoxa que defende que colesterol elevado é causa de doença cardiovascular.
- Esse estudo conclui que a progressão da placa aterosclerótica não está associada ao LDL-colesterol, mas sim ao nível de base medido dessa placa – quanto mais elevada, hoje, mais rapidamente progride.
- Linus Pauling, há mais de 30 anos atrás, mediu essa mesma progressão e comprova que essa conclusão é replicável para outras populações.
- Só que Linus Pauling vai mais além: postula que a causa do aparecimento de placa aterosclerótica, não é o colesterol, mas uma insuficiência crónica de Vitamina C. E demonstra que para o caso de placa recente o progresso pode ser atenuado e até revertido.
- E se alguém tiver colesterol mesmo muito elevado, saiba que poderá ter uma doença de origem genética chamada hipercolesterolemua familiar (FH para os amigos).
Interessados? Vamos a isso.
Quem não conhece a teoria do bom e do mau colesterol no que diz respeito ao risco de um enfarto ou um AVC? Provavelmente ninguém acima dos 40 anos, já dificilmente passa desapercebida a estatística que diz que morte por doença cardiovascular é a principal causa de morte no mundo industrializado.
Pois bem, segunda-feira passada, saiu um estudo que é uma autêntica bomba, que, se por um lado, põe em causa o tratamento preventivo destas doenças, por outro lado, dá mais peso à teoria do nosso amigo Linus Pauling (exatamente, esse estupendo químico que ganhou dois Prémios Nobel), que diz que a culpa é de falta de Vitamina C.
Mas vamos por partes, e comecemos do princípio, ou antes comecemos pelo fim, do mais recente ao mais antigo.
Em abril de 2025, agorinha mesmo, saiu um estudo que reporta a segunda parte de uma investigação que pretendia medir a evolução da placa aterosclerótica em pessoas magrinhas e bem saudáveis mas que viram os seu LDL-colesterol aumentar imenso, mas mesmo imenso, pelo facto de estarem a alimentar-se pelo que é chamada a dieta cetogénica, ou seja, no que diz respeito aos macronutrientes, comem mais proteína e mais lípidos e muito menos carboidratos.
Esta história é interessante por várias razões, mas também porque esta investigação foi realizada com financiamento das pessoas e não por instituições ou por laboratórios farmacêuticos e afins. (É importante quem financia a ciência? Gostaria de dizer que não, mas sim). Mas continuando. Criaram uma entidade, Citizen Science Foundation, que tal como o nome indica, faz investigação a pedido e financiada pelos próprios cidadãos, através de um modelo de financiamento chamado crowdfunding. É ou não é fabuloso? Um monte de gente junta-se para resolver um problema científico, angaria fundos entre todos e faz-se um estudo bem feito, contratando cientistas e especialistas. Et voilá!
E o que eles fizeram foi duas coisas – compararam duas populações de 80 pessoas, o mais iguais possível, onde a supostamente única diferença estaria no seu nível de LDL no sangue e onde foi medida a placa arteriosclerótica, usando um teste chamado CCTA, que é uma angiografia realizada por tomografia axial computorizada (TAC). É como o Score de Cálcio (CAC Score) mas mais completo, mas também mais invasiva.
No primeiro grupo, uma amostra deles próprios, que se autointitulam como LMHR (Lean Mass Hyper-Reponders), que são magrinhos saudáveis que praticamente não ingerem carboidratos, que se quiseram comparar com o segundo grupo, de controlo, retirados de um banco de dados chamado Miami Heart (dados obtidos basicamente de um grande número de médicos e enfermeiros, também saudáveis), e que também teriam feito o mesmo teste de CCTA no mesmo hospital e que puderam ser mapeados, um a um, para serem o mais parecidos possível, na maioria dos parâmetros considerados relevantes (sexo, idade, etnicidade, fumadores, hipertensos, etc-etc-etc.) em tudo, menos nos níveis de LDL. Porque escolheram o LDL? Obviamente que o estudo não explica, mas é bastante fácil de compreender: a dieta cetogénica nesta população de LMHR faz aumentar drasticamente o nível de LDL no sangue e, porque falamos basicamente de uma população americana, isso faz subir o preço dos prémios dos seguros de saúde, pois LDL aumentado supostamente aumenta o risco de doença cardiovascular, os respetivos médicos entram em stresse e começam a prescrever tudo e mais alguma coisa para fazer baixar esse LDL-colesterol. E aquela malta LMHR simplesmente não está interessada e começaram a organizar-se. A sigla LMHR reflete essa situação, Lean Mass, magrinhos, Hyper-Responders, resposta fisiológica considerada exagerada e fora do padrão no que diz respeito aos níveis de LDL-colesterol no sangue.
E neste primeiro resultado do estudo dos LMHR o que é que se observou? Observou-se nenhuma diferença significativa entre os dois grupos. Cerca de 50% em cada grupo não tinha placa nenhuma; os outros tinham; e não havia correlação entre ter mais placa e ter LDL-colesterol mais elevado. E, portanto, como ficamos relativamente ao risco cardiovascular, perguntam eles? E esta foi a primeira meia bomba.
A segunda coisa que eles fizeram neste estudo foi esperar um ano, e voltar a medir a placa aterosclerótica de todos os LMHR e comparar com os resultados obtidos no ano anterior, para medir a progressão. E o que observaram? A segunda meia bomba – que quem não tinha placa, continuava a não ter; e que, quem já tinha placa medida no ano anterior, essa placa progredia, e quanto mais placa tivesse de início, maior era a progressão. E com nenhuma correlação com os níveis de LDL no sangue. Bum! Bomba!
Continuando a história do fim para o princípio, recuemos mais um pouco, 11 anos, até 2016, porque agora é que a coisa fica ainda mais interessante.
Porque esta crónica se chama, Crónica da Vitamina C e dos seus amigos, vou agora passar a palavra para o nosso amigo Linus Pauling, laureado Prémio Nobel da Química e aos seus amigos – o seu co-autor, médico e cardiologista, Matthias Rath, e também à investigadora doutorada Aleksandra Niedzwiecki – onde eles explicam, 11 anos antes, em artigo intitulado ‘Aterosclerose e a teoria do colesterol: uma reavaliação’, como as coisas eram, e continuam a ser, no que diz respeito à teoria que relaciona colesterol elevado aos seus efeitos perniciosos à qual chamamos aterosclerose:
A aterosclerose é o precedente para a doença cardíaca isquémica, que pode levar à angina, infarto do miocárdio ou insuficiência cardíaca; ou para a doença cerebrovascular isquémica, que pode levar ao derrame. A crença predominante subjacente às abordagens convencionais para o tratamento da aterosclerose e suas sequelas é que uma dieta rica em colesterol e gordura saturada é o principal fator contribuinte, desencadeando o acúmulo de colesterol na íntima dos vasos sanguíneos. Nos últimos 60 anos, a culpa mudou das gorduras para as gorduras saturadas, para a lipoproteína de baixa densidade (LDL) e, finalmente, para a LDL oxidada (Ox-LDL). A terapia tem sido predominantemente voltada para a redução do colesterol e controle dos fatores de risco.
No entanto, há uma hipótese alternativa sobre a causa da doença cardíaca, ligando-a ao enfraquecimento da matriz de colágeno vascular nos locais de alto stresse hemodinâmico (artérias coronárias), que desencadeia a infiltração de lipoproteína (apo) [Lp(a)] e o desenvolvimento de placas.
Consequentemente, a deposição vascular de grandes moléculas como Lp(a) e aterosclerose é o resultado do mecanismo de proteção endógeno do corpo para reforçar as paredes arteriais enfraquecidas.
Entender esse mecanismo pode orientar a prevenção natural dessa doença e formar a base para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas eficazes visando a reversão natural da aterosclerose através do reforço da estrutura da parede vascular como o seu objetivo principal.
Essa reavaliação da aterosclerose e da teoria do colesterol analisou o desenvolvimento histórico da teoria e a teoria unificada de Rath e Pauling sobre doenças cardiovasculares.
Perfeitamente explicado. Entretanto, voltando de passagem aos dias de hoje, e só para atualizar, na lista dos mais culpados poderemos incluir um outro indicador, mais recente, o apoB-100, que na prática significa exatamente a mesma coisa que LDL-colesterol, só que um mede quantidades e as outras concentrações. É só mais um indicador mais modernaço para somar ao barulho. E também uma outra também horrivelmente culpada, a Lipoproteina (a), a qual irá ter destaque nesta história, mas tem um problema – aparentemente ainda não há nenhum medicamento capaz de a fazer baixar, o que não é bom para o negócio
Continuando a história, recuemos ainda mais até 1996, já lá vão quase 30 anos, onde Linus Pauling e Matthias Rath, publicaram uma teoria unificada.
O artigo intitula-se: Hipótese: a lipoproteína (a) é um substituto do ascorbato. (traduzindo este título por miúdos: Lp(a) é uma lipoproteína igualzinha ao LDL, à qual está acoplada uma outra proteína chamada apoproteina ‘little a’; e ascorbato é, obviamente, Vitamina C).
Vitamina C? Exactamente. Confessem que já estavam à espera que a Vitamina C aparecesse algures nesta história, certo? Continuando. Dizem os autores:
O conceito de que a lipoproteína(a) [Lp(a)] é um substituto do ascorbato é sugerido pelo fato de que essa lipoproteína é encontrada geralmente no sangue de primatas e da cobaia, que perderam a capacidade de sintetizar ascorbato, mas apenas raramente no sangue de outros animais. As propriedades da Lp(a) que são compartilhadas com o ascorbato, de acordo com essa hipótese, são a aceleração da cicatrização de feridas e outros mecanismos de reparo celular, o fortalecimento da matriz extracelular (por exemplo, nos vasos sanguíneos) e a prevenção da peroxidação lipídica. A Lp(a) plasmática alta está associada à doença cardíaca coronária e outras formas de aterosclerose em humanos, e a incidência de doença cardiovascular é diminuída pelo ascorbato elevado. Observações semelhantes foram feitas em cancro e diabetes. Formulamos a hipótese de que a Lp(a) é um substituto do ascorbato em humanos e outras espécies e reunimos as evidências que sustentam essa hipótese.
Sublinhei porque achei também importante, mas não é agora o tempo certo para desenvolver o tema, fica para a próxima. Seguindo. No artigo também é reforçado que:
Não há correlação entre os níveis de Lp(a) e os níveis de colesterol no sangue, e em doentes cardíacos com níveis considerados normais de lípidos, o único fator de risco para doença cardiovascular encontrado é elevados níveis de Lp(a). Esta observação indica que Lp(a) pode causar doença cardiovascular sem hiperlipidemia.
A hipótese destes dois grandes dá que pensar: eles postulam que em situações de deficiência prolongada de Vitamina C, um co-factor essencial para a síntese de colagénio, mesmo que subclínica, ou seja, sem sintomas, as paredes das artérias cardiovasculares ficam fraquinhas. E estando fraquinhas estão particularmente vulneráveis a mudanças bruscas de pressão sanguínea, como bifurcações e curvas, que é o que acontece em zonas muito específicas, como nas artérias vasculares coronárias, carotídeas, aórtica e umas poucas mais, mas nunca nas veias, que é onde a placa aterosclerótica se desenvolve. E aí defendem que, para sobreviver, o corpo tem de rapidamente reforçar esses tecidos danificados, para não se esvair em sangue. E eis que aparece a Lp(a), a tal lipoproteina a que eles qualificaram “substituta” da Vitamina C. Eu chamar-lhe-ia “complementar” – quando há pouca Vitamina C, há mais Lp(a). A Lp(a), ao contrário do restante LDL, é como uma super-cola-3, e funciona como um penso poderoso, com o objetivo de ficar por ali, firme e hirta, para reforçar as artérias danificadas, por algum tempo, até que o próprio tecido se regenere.
Portanto: será mesmo a Lp(a) a causa, ou uma das causas da aterosclerose, como a classe médica na sua maioria hoje pensa? Ou será simplesmente uma consequência de uma deficiência prolongada, subclínica, de vitamina C que está na origem desse dano e a Lp(a) só lá está porque é um poderoso penso rápido, postula Linus Pauling?
Também em 1996, o mesmo Mattias Rath, ainda em vida de Linus Pauling, porque tal como Linus Pauling reconheceu, é de Rath a ideia original desta hipótese, publicou com A.Niedzwiecki, mais uma série de estudos nesta área, in vivo e in vitro, todos importantes e reveladores, mas dos quais eu salientaria o intitulado “Programa de Suplementação Nutricional que pára a progressão de aterosclerose coronária recente documentada por tomografia computacional ultra-rápida” e que reza assim:
O objetivo deste estudo foi determinar o efeito de um programa de suplemento nutricional definido na progressão natural da doença arterial coronária. Este programa de suplemento nutricional foi composto de vitaminas, aminoácidos, minerais e oligoelementos, incluindo uma combinação de nutrientes essenciais patenteados para uso na prevenção e reversão de doenças cardiovasculares. O estudo foi projetado como um estudo prospetivo de intervenção antes e depois ao longo de um período de 12 meses e incluiu 55 pacientes (idade 44-67) com vários estágios de doença cardíaca coronária. As mudanças na progressão da calcificação da artéria coronária antes e durante a intervenção do suplemento nutricional foram determinadas por Tomografia Computadorizada Ultrarrápida (TC Ultrarrápida). A taxa de progressão natural da calcificação da artéria coronária antes da intervenção foi em média de 44% ao ano.
A progressão da calcificação da artéria coronária diminuiu em média 15% ao longo de um ano de suplementação nutricional. Em um subgrupo de pacientes com estágios iniciais de doença arterial coronária, ocorreu uma diminuição estatisticamente significativa, e nenhuma progressão adicional da calcificação coronária foi observada. Em casos individuais, a reversão e o desaparecimento completo de calcificações coronárias previamente existentes foram documentados. Este é o primeiro estudo clínico que documenta a eficácia de um programa de suplemento nutricional definido em interromper formas precoces de doença arterial coronária em um ano. O programa de suplemento nutricional testado aqui deve ser considerado uma abordagem eficaz e segura para prevenção e terapia adjunta de doença cardiovascular.
E assim se fecha esta história, em beleza. Há mais de 30 anos Linus Pauling e Matthias Rath calcularam a progressão media da placa aterosclerótica, em 44% ao ano. Impressionante. E com isso reforçam e quantificam os resultados do estudo equivalente dos LMHR, de 2025, com que iniciámos esta crónica – a bomba que mostrou que a progressão da placa aterosclerótica não depende do LDL ou de qualquer outra coisa, mas do valor de que partimos: quanto maior o valor base, maior a progressão da placa. E ainda disseram mais:
Descobrimos que quanto maior a pontuação CAS inicialmente, sem intervenção, mais rápido a calcificação coronária progrediu. Consequentemente, a taxa média de crescimento mensal de calcificações coronárias variou de 1 pontuação CAS por mês em pacientes com doença cardíaca coronária precoce a mais de 15 pontuações CAS por mês em pacientes com estágios avançados de calcificações coronárias. O padrão de crescimento das calcificações coronárias pode ser descrito como uma curva de ajuste polinomial de terceira ordem. O formato exponencial dessa curva significa uma primeira quantificação da natureza agressiva da aterosclerose coronária e enfatiza a importância da intervenção precoce.
Resumindo: Pouca placa? Progride um ponto por mês. Muita placa? Pode progredir 15 pontos por mês. Progressão segundo uma ‘curva de ajuste polinomial de terceira ordem’, o que quer dizer que uma das variáveis está elevada ao cubo.
Descobertas de um laureado Prémio Nobel da Química e dos seus amigos. Vale alguma coisa?
Talvez não, porque tem sido ignorada nos últimos 30 anos. Mas agora, fia mais fino: o estudo dos LMHR vai viralizar nas redes sociais que estão por demais ativas na área da prevenção e saúde, aos cardiologistas vão certamente ouvir falar e se calhar alguma coisa vai mudar.
(continua na próxima semana, a não ser que seja FH, ou seja, quando todo um ramo da sua família tem colesterol muito elevado)
NOTA complementar para os FH (Familial Hypercholesterolemia):
Este é um à parte só para nós, os FHs. Nós somos 1 em cada 250 pessoas no mundo, dizem. Temos um, mas não dois, genes mutados – somos heFH-heterozigóticos, que convém não confundir com os homozigóticos, os coitados que morrem cedo, que são somente um, num milhão. Somos os reis e as rainhas do colesterol. Para a vida!
Quem de nós ainda não sofreu a pressão para um tratamento agressivo ad eternum, com Estatinas, o mais forte possível, mais Ezetemiba, ou até injeções de PCSK9 e quem sabe, talvez ainda uma aférese (para filtrar o sangue e voltar a mete-lo lá para dentro), de seis em seis meses, para nós e para toda a nossa família, incluindo as crianças e quanto mais cedo se iniciar o tratamento, melhor? É uma perspetiva simplesmente horripilante, fundada no terror. Não vos aconselho a experiência, mas tenho seguido os canais das Associações de apoio aos FH – e há várias – que recolhem testemunhos em programas apresentados por bondosas senhoras e é de partir o coração – pessoas desesperadas que tudo fazem para ser incluídas em estudos experimentais para novos medicamentos, jovens que vivem na depressão porque acham que não têm futuro e não tomam decisões porque acham que podem não acordar amanhã.
Para alguém que queira realmente saber o que se passa com a saúde dos FH, aconselho a leitura deste artigo de 2018 de U. Ravnskov et al, ‘Fatores de coagulação inatos são fatores de risco cardiovascular mais importantes do que o colesterol LDL alto na hipercolesterolemia familiar’.
E aconselho também que tomem o controlo da vossa saúde e ajam de acordo com o resultado do teste CAC Score. O CAC Score, o equivalente ao CAS Score utilizado pela equipa de Linus Pauling, é um teste relativamente barato para medir a calcificação da placa aterosclerótica. Tem de ser prescrito por um cardiologista ou provavelmente por um endocrinologista, ou médico de medicina interna – médico de família não consegue.
Um CAC Score igual a zero quer dizer um muito baixo risco de, no período de dez anos, desenvolver doença cardiovascular. Entre 1 e 100, significa risco médio; entre 101 e 400, risco elevado e acima de 401, risco muito elevado. É um indicador muito adequado e até bem-conceituado para aferir risco cardiovascular e que se pode resumir numa frase simple: The Power of Zero, ou o poder do Zero.
Estudos bem recentes, de 2022, mostraram que 48% de pessoas com FH têm CAC Score igual a 0. Como é possível? Sabendo que todos os FHs têm níveis elevados de colesterol, LDL, LDLox, ApoB-100, ou outro indicador equivalente, desde que nasceram, faz com que a teoria de defende que a acumulação ao longo do tempo também é importante, deixe de fazer tanto sentido – é o poder do Zero!
No estudo dos LMHR, de pessoas que se consideram super saudáveis, com níveis de triglicéridos baixos e de HDL (o bom) elevado, com LDL (o mau) a níveis equivalentes aos nossos, sem diabetes ou resistência a insulina, também só cerca de 50% deles é que têm CAC Score (ou CCTA, que é um outro teste ainda mais sensível) igual a zero. O mesmo se observou no grupo de controlo, Miami Heart, com uma população diferente e com LDL supostamente ‘normais’.
Linus Pauling postulou que placa é criada por deficiência de Vitamina C e que Lp(a) não correlaciona com colesterol. E, portanto, se querem medir risco o melhor mesmo é fazer um CAC Score e medir Lp(a), que, enquanto uns afirmam que basta medir uma vez na vida, porque é definido geneticamente, Linus Pauling sugere que a Lp(a) é sintetizada por nós próprios por necessidade, porque temos as artérias fragilizadas por insuficiência sustentada de Vitamina C e o corpo está a proteger-se para não se esvair em sangue.
Portanto … alguém quer concluir alguma coisa?
Ou será uma boa ideia enviar esta Crónica para os LMHR / Citizen Science Foundation, para sugerir uma resposta à pergunta que todos lhes estão a fazer: então se a culpa não é do LDL elevado, então de quem é? E que tal somente comparar a ‘curva de ajuste polinomial de terceira ordem’, obtida de uma população de pessoas já com doença cardiovascular, com a deles? Até seria fácil. E depois bolar um estudo novo que envolvesse uma população de FHs, também com níveis de LDL pelas nuvens e já agora ver como se comporta essa placa após um ano de suplementação agressiva com Vitamina C vs placebo?
É isto – ciência cidadã, dá vontade de participar.
(agora é que é, continua na próxima semana)

a opinião de TERESA F MENDES
Química e comunicadora de ciência.
Curiosa por natureza.
Humanista por opção.
Disruptiva por defeito.
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