Durante décadas, o Algarve foi (e é) sinónimo de sol, mar e turismo. Esta imagem, embora sedutora, revela apenas uma parte do potencial da região. Hoje, um dos desafios e oportunidades está em repensar o modelo económico e social algarvio à luz da sustentabilidade. Não apenas como um imperativo ambiental, mas como um motor de inovação, competitividade e resiliência.
A sustentabilidade começou por ser uma preocupação ecológica: proteger recursos, reduzir poluição, preservar paisagens. Mas rapidamente percebemos que sem equilíbrio social e económico não há sustentabilidade possível. Um território que esgota os seus recursos naturais, que concentra riqueza num único setor ou que enfrenta assimetrias sociais profundas está a comprometer o seu próprio futuro. O Algarve, com a sua dependência estrutural do turismo e do imobiliário, enfrenta exatamente esse ponto de viragem.
O desafio é transformar essa dependência em diversificação. O Algarve tem condições únicas para liderar uma nova economia verde e digital: sol abundante, território fértil e talento humano crescente. A energia solar pode tornar-se o grande ativo da região; a agricultura regenerativa e a economia azul podem posicionar o Algarve como laboratório vivo de sustentabilidade. Mas isso exige visão estratégica, investimento em ciência aplicada e políticas públicas que alinhem incentivos com impacto.
Medir esse impacto é essencial. Sem métricas, a sustentabilidade é apenas uma boa intenção. As empresas e instituições algarvias precisam de adotar indicadores claros, emissões, uso de água, pegada energética, circularidade, inclusão social e reportá-los com transparência. O futuro não pertence a quem diz ser sustentável, mas a quem o prova. E é aqui que o Algarve pode ser pioneiro: criar uma cultura de dados e de responsabilidade, onde cada projeto turístico, agrícola ou urbano é avaliado pelo seu contributo líquido para o território.
A boa notícia é que há cada vez mais investidores e consumidores dispostos a premiar quem o faz bem. O capital está a mudar: as finanças verdes e o investimento sustentável estão a valorizar empresas que conciliam rentabilidade com propósito. Para o Algarve, tal significa atrair investimento de qualidade, não apenas capital financeiro, mas capital humano e tecnológico e reduzir a dependência de ciclos de curto prazo. A sustentabilidade é, neste contexto, o novo indicador de competitividade.
O futuro da região também depende de passarmos da neutralidade à regeneração. Não basta reduzir danos; é preciso devolver valor à natureza e às comunidades. Reflorestar zonas áridas, regenerar solos agrícolas, proteger ecossistemas costeiros e investir na eficiência hídrica são investimentos de futuro, não custos. Cada gota poupada e cada hectar restaurado representam segurança económica para as próximas gerações.
A sustentabilidade, no Algarve, não é uma moda, é uma estratégia e uma oportunidade de liderança. É o caminho que permite transformar vulnerabilidade em valor, escassez em inovação e sazonalidade em estabilidade. O que está em causa não é apenas o ambiente, mas a qualidade de vida, a coesão social e a capacidade de criar um modelo económico que dure mais do que uma estação turística.
Em suma, ser sustentável no Algarve é pensar a longo prazo. É gerir recursos como se o futuro importasse agora, porque importa. E talvez essa seja a maior mudança de todas, perceber que a sustentabilidade não é o contrário do desenvolvimento, mas sim o seu novo nome.

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