Vai votar e está tentado a tirar uma foto do boletim de voto para partilhar nas redes sociais? Essa prática é muito comum na sociedade, normalmente com o objetivo de partilhar nas redes sociais. Este gesto pode parecer inocente ou até patriótico, mas há regras claras sobre o que é permitido e o que pode dar problemas legais.
O que diz a lei sobre o segredo de voto
Nas eleições, o momento do voto é, por definição, reservado. No entanto, com a popularidade das redes sociais, muitos eleitores sentem vontade de mostrar o seu envolvimento cívico através de uma fotografia do boletim. Seja em branco, preenchido ou apenas com o dedo em cima da cruz, a questão é: será que é legal?
Segundo o Código Penal, mais concretamente o artigo 342.º, há crime quando alguém revela o voto de outra pessoa, refere o Ekonomista. A lei chama-lhe violação do segredo de escrutínio. Mas este artigo não fala em momento algum sobre o eleitor revelar o seu próprio voto.
A Comissão Nacional de Eleições veio esclarecer este ponto em 2021, explicando que o Código Penal não penaliza quem, de livre vontade, mostra o seu próprio boletim. Ou seja, o problema não está em partilhar o seu voto, mas sim em divulgar o de outra pessoa.
Mostrar o próprio voto não é crime, mas tem riscos
Isto significa que, de forma geral, tirar uma fotografia ao seu próprio boletim e partilhá-la não é crime. Mas nem tudo é tão simples quanto parece. Há outras normas e momentos específicos do calendário eleitoral que mudam o cenário.
A diferença entre partilhar o próprio voto ou o de outra pessoa é crucial. No primeiro caso, é uma decisão pessoal, com possíveis críticas, mas sem consequências legais. No segundo, pode tratar-se de uma infração penal, mesmo que a partilha seja acidental ou feita com boa intenção, refere a mesma fonte.
A lei portuguesa protege a confidencialidade e liberdade de cada voto. Por isso, o sistema é construído para garantir que cada cidadão possa votar sem pressões, influências externas ou medos.
O problema do “período de silêncio”
No entanto, a publicação do boletim de voto já preenchido, nos dias imediatamente anteriores e no próprio dia da eleição, é vista como uma ameaça a essa neutralidade. Por esse motivo, torna-se uma infração.
A razão é simples: manter o espaço público livre de influência. Seja de partidos, de figuras públicas ou de simples eleitores, ninguém deve condicionar a escolha de outro cidadão.
Durante estas 48 horas críticas, que incluem a véspera e o dia da votação, até o gesto mais inocente, como uma selfie com o boletim, pode ser entendido como tentativa de pressão ou propaganda encapotada.
Recomendamos: Só o passaporte pode não chegar: estas são as novas regras que deve conhecer antes de entrar em Espanha
As recomendações da Comissão Nacional de Eleições
Nestes casos, a Comissão Nacional de Eleições recomenda silêncio. Nem posts, nem hashtags, nem apelos à votação em determinado partido. Apenas o exercício livre e silencioso do voto.
A recomendação serve para todos, incluindo cidadãos comuns, candidatos e partidos. O apelo é claro: evitar qualquer manifestação pública que possa interferir com a decisão de outros eleitores.
Voto antecipado: regras diferentes
Mas há uma exceção importante: o voto antecipado. Quando um eleitor decide votar antes do dia oficial, fá-lo fora do chamado período de reflexão e por isso, as limitações são diferentes.
Nessa situação, o boletim pode ser fotografado e até partilhado, desde que se trate do voto do próprio e não haja qualquer tentativa de condicionar a decisão de terceiros.
Apesar de ser legal neste contexto, a CNE, citada pelo Ekonomista, apela à descrição. A mensagem é clara: só porque a lei permite, não quer dizer que seja aconselhável. E, no mundo das redes sociais, tudo pode ser mal interpretado ou usado fora de contexto.
Mais vale pensar duas vezes
O orgulho cívico é legítimo e merece ser celebrado. Mas, como em tudo na democracia, deve haver espaço para o respeito pelas regras comuns que garantem a liberdade de todos.
Por isso, antes de pegar no telemóvel e publicar a cruz do seu boletim, convém pensar duas vezes.
Leia também: Adeus oficina: aprenda o truque que os mecânicos não contam para ter faróis como novos