Sou a Rita, algarvia de gema, em Faro mais conhecida por Maleita. Tenho 24 anos e encontro-me na Guiné-Bissau, país que me deixou enamorada desde que cá vim – há cerca de dois anos e meio. Escrever sobre onde estou e como estou, ajuda-me a ser mais consciente sobre todo o caminho que fiz para estar aqui agora, onde acreditei em mim, não acreditei, acreditei, voltei a não acreditar e acreditei de novo!
Posso dizer que não foi tudo um mar de rosas. Acabada de determinar a licenciatura em gestão, acreditava que ia seguir a área de gestão de eventos por muitas razões como gostar de diversas áreas, de lidar com a imprevisibilidade, de proporcionar momentos inesquecíveis a alguém e de ser uma pessoa que gosta muito de conhecer, comunicar e lidar com gentes diferentes.
Por tudo isto acima escrito, comecei a estagiar na área (dos meus sonhos) e a imaginar um dia alcançar uma grande empresa de organização de eventos culturais e de festivais. Mudei-me para Lisboa e após o término desse mesmo estágio, contrataram-me para uma outra empresa deste setor, que era mesmo a minha “onda”. No 2º dia de trabalho, todos os espaços eram obrigados a encerrar portas e a descansar por tempo indeterminado – tinha chegado o covid, para ficar. E eu fazia as malas para voltar para a casa onde cresci.
Meses em casa onde entre artes e hortas, tentei dar asas à imaginação para não definhar.
Decidi comprar um voo para Londres e tentar a minha sorte. Dias antes da partida – lockdown total. Fiquei em terra. No mesmo dia inscrevi-me no mestrado de Diplomacia e Relações Internacionais e porquê? Não vos contei do meu outro sonho? Acho que tenho muitos…
Queria trabalhar na área da Cooperação Internacional, no continente africano, e desde sempre que submetia candidaturas sem fim para organizações portuguesas e internacionais como UNICEF, Amnistia Internacional, etc etc.
Nunca consegui absolutamente nada, talvez uma resposta automática, não mais do que isso. O que me deixava muito frustrada, sentimento comum da minha geração, visto que em todas as vagas procuravam e procuram candidatos com muito currículo e muitos anos de experiência. Então e para aqueles que querem começar? Nunca haverá espaço para esses? Como é que ia um dia conseguir entrar neste setor?
Inscrita no mestrado (algo que sempre disse que nunca faria porque achava que não tinha capacidade), presumi que podia ser uma boa forma de me introduzir dentro do setor por adquirir mais conhecimento, mas nem sabia bem como.
Com a ideia de escrever a minha dissertação sobre uma problemática de direitos humanos aqui na Guiné-Bissau, enviei o meu currículo para uma ONG portuguesa que sempre admirei, a AMI – Fundação de Assistência Médica Internacional, a propor escrever a minha dissertação “em parceria” com eles e passados uns dias, contactaram-me. Conseguem imaginar a euforia? Entre várias trocas de e-mails com essa mesma organização, propuseram-me um pequeno estágio de 3 meses financiado pelo IEFP e eu claro, aceitei! Embora fosse por pouco tempo, não podia deixar escapar essa oportunidade de conhecer de perto, de aprender, quem sabe até, trabalhar lado a lado com uma dessas pessoas que parte em missão para outro país, que honra que seria!
Voltei a mudar-me para Lisboa, e mesmo com a contenção do covid, estive a trabalhar na sede da AMI e a aprender muito com os diferentes profissionais que se cruzaram comigo.
Mas havia algo que eu queria: ir para a Guiné-Bissau acompanhar o projeto que AMI desenvolvia no terreno! Fiz essa proposta à minha chefe e entre diversas conversações para perceber qual seria o meu papel lá, pois não tinha quase nenhuma experiência, permitiram-me ir, concedendo-me essa confiança.
Com o dinheiro acumulado das poupanças de vários a meses a trabalhar numa empresa de retalho, parti como voluntária para a Guiné, mais precisamente para a ilha de Bolama e por ali fiquei quase quatro meses.
Aquando do quase término da minha missão como voluntária recebi um telefonema da minha chefe com uma proposta – a proposta de ficar e coordenar, na Guiné-Bissau, um projeto ambicioso de saúde comunitária a nível de todo o país, implementado pela UNICEF e coordenado por duas ONGs internacionais, uma delas a AMI, durante dois anos.
Pânico? Alegria? Receio? Excitação? Insegurança? Sentimento enorme de gratidão? Todos estes sentimentos e mais uns quantos.
Aceitei. E aqui estou eu hoje em Bissau, a escrever-vos este meu testemunho cheio de memórias, pessoas e experiências. Se pudesse numa só palavra descrever todos estes meses na Guiné, diria DESAFIO. Desafio constante, todos os dias, a diferentes níveis, emocional, espiritual e físico. Posso dizer que tenho experiências para contar para sempre e que são tantas, que ninguém vai ter paciência nem tempo para as ouvir. Que sou mais compreensiva, mais tolerante, mais experiente. Que percebi que tenho em mim, muitos aspetos para melhorar, que o meu olhar para com a vida é agora mais leve, que a distância fortalece ainda mais as relações e que realmente para além de não devermos de deixar de acreditar em nós, é imprescindível ter pessoas à nossa volta que são connosco, uma equipa. Uma equipa que torce por nós na primeira fila e que fica sem voz de tanto gritar o nosso nome.
Se pelo menos uma pessoa que esteja a ler este testemunho ficar motivada a não desistir dos seus sonhos e decidir capacitar-se ou enviar mais um currículo, ou bater a mais uma porta de um trabalho, já fico muito feliz. Por mais cliché que seja, não podemos deixar que nos roubem os nossos sonhos.
Para terminar este meu testemunho que quase pareceu uma página de um livro de autoajuda, convido-te a vires visitar a Guiné. Estarei cá para te receber e mostrar-te os recantos deste país que, para mim, já é casa.
Rita, ou se preferires, Maleita.
Nota Final:
12 de Agosto – Dia Internacional da juventude
O dia 12 de Agosto foi declarado como Dia Internacional da Juventude em 1999, após recomendação resultante da Conferência Mundial de Ministros Responsáveis pela Juventude, que teve lugar em Portugal, em 1998. Desde então, tem-se celebrado mundialmente este dia, assinalando a importância de implementação de estratégias de desenvolvimento desta população, que sejam positivas e proactivas, centradas nos seus direitos, abertas à diversidade e orientadas para a inovação, promovendo oportunidades e a construção de aspirações.
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