Confesso que não sei bem o que dizer neste artigo sobre a minha experiência no estrangeiro, pois tudo tem vindo a suceder-se de forma um tanto quanto aleatória, ainda que se possam encontrar fios condutores (e um mar “Nostrum” ao meio), e, por outro lado, porque, apesar da grande importância para mim, não sei que relevância poderá ter para outros. Mas aqui vai – prometo manter a narrativa curta.
Ponha-se como início a ida para o Chipre, em agosto de 2020, ao abrigo de um programa de voluntariado dos Corpos de Solidariedade Europeu da União Europeia. Foi um início atribulado. Houve que conciliar primeiro a viagem (e uma estada alongada forçada em Budapeste à ida) e o projeto com a pandemia covid-19. Foram muitas as demonstrações de falta de cooperação internacional e de egoísmos e receios nacionalistas durante essa altura, mas a minha experiência apenas reforçou a minha crença na solidariedade entre pessoas e povos.
No projeto, dedicado à promoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, vi-me com a oportunidade de trabalhar em diferentes áreas e atividades, algumas das quais não poderia imaginar antes, como arte urbana ou rádio. Mantenho a ligação a alguns projetos paralelos com que contactei na altura, como a Lemoni Radio. Tive ainda a oportunidade de cooperar com organizações a trabalhar no campo da História e Historiografia, com especial foco na história recente da ilha (e na sua divisão entre República do Chipre e a não-reconhecida República Turca do Chipre do Norte) e na promoção do diálogo entre as comunidades do Norte e Sul no Chipre.
O meu interesse por este país do Médio Oriente vinha de antes e bebia de duas frentes: em primeiro lugar o meu interesse pela história da região, com especial destaque para a Idade do Bronze (com a sua antiga “aldeia global” que unia Europa, Ásia e África, e com o seu enigmático – e rápido – colapso civilizacional), e, em segundo lugar, o meu foco na área do estudo dos conflitos congelados (de que a divisão da ilha desde a guerra de 1974 é exemplo).
Amizades e projetos multiplicaram-se e acabei por ficar em Nicósia após o final do meu projeto de voluntariado. A vida na capital cipriota é interessante e mostra-se uma janela para a história daquela ilha no centro de civilizações e que testemunhou a passagem de tempos e gentes. Entre muralhas venezianas, e seus remendos e entradas feitos durante o mandato britânico, e com uma linha – qual cicatriz – que divide a cidade e divide a ilha, Nicósia multiplica-se em fragmentos de história e em diversidade cultural. Pequena, mas cosmopolita capital.
Também no Chipre reforcei a ligação ao Mediterrâneo, espaço cujos laços umbilicais tendemos a esquecer um pouco no nosso Portugal voltado para o Atlântico. Acabei por me ver envolvido no mundo da diplomacia e cooperação mediterrânicas, sobretudo como membro do círculo de Nicósia da rede da Fundação Assembleia de Cidadãos e Cidadãs do Mediterrâneo (Fundación Asamblea de Ciudadanos y Ciudadanas del Mediterráneo) e como membro do Conselho Jovem do Mediterrâneo (Mediterranean Youth Council), e realizando neste momento uma pós-graduação na Universidade de Valência na área das Sociedades Mediterrânicas.
Fecho como comecei: reconhecendo (e agradecendo) a aleatoriedade dos meus últimos anos. Andei por sítios que não imaginava, colecionei experiências novas, fiz amizades e deixei memórias… reunindo aqui e acolá os pedaços que me formam.
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