Alteração radical nos padrões climáticos. Aquecimento global. Catástrofes tremendas por todo o lado. Rasto de destruição, perdas de vida humana e milhões de desalojados. Danos de eventos extremos ascendem a 140 biliões de dólares por ano. Mas essa é apenas a parte exposta, a dos custos imediatos. Os custos ocultos são muito mais expressivos, duradouros e destrutivos.
A crise da água é o próximo desafio global. A escassez de neve nos Himalaias ameaça o abastecimento de água de 25% da população mundial, pois compromete o fluxo nas bacias hidrográficas da região, revela o relatório do Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado das Montanhas. As secas e os processos de desertificação alastram-se e atingem em cheio a Península Ibérica.
Vozes levantam-se contra aquilo a que chamam “ecologia punitiva”. O que contestam?
A frequência e intensidade de incêndios florestais extremos mais do que duplicaram em 20 anos (2003-2023) e os seis anos com o maior número de grandes incêndios ocorreram nos últimos sete, assinala um estudo publicado na revista Nature. Portugal, Austrália, Canadá, Chile, Indonésia, Sibéria e Amazónia estão na lista das regiões mais afetadas.
Perante este cenário tenebroso, a resposta política global é dececionante. Promovem-se fóruns internacionais, definem-se metas, mas nenhum compromisso firme. Discute-se muito, faz-se muito pouco.
Desde logo na transição energética. Os planos dos principais países produtores de combustíveis fósseis projetam, até 2030, para uma extração superior a 460% de carvão, 83% de gás e 29% de petróleo do que é possível queimar para manter o aumento de temperatura de 1,5ºC, limite assumido no Acordo de Paris, refere a 4ª Edição do Relatório “Production Gap”, da ONU. No meio científico, acredita-se que o aquecimento está na rota de 3ºC, em relação ao nível pré-industrial, até ao final do século.
Mas, também, nos instrumentos de compensação de emissões e danos ambientais. Os mecanismos de remediação ainda prevalecem face aos mecanismos de prevenção. Os mercados de carbono são ainda muito incipientes e mal regulados.
A União Europeia procura liderar pelo exemplo. O “Pacto Ecológico Europeu” foi, depois da política de Coesão, o mais ambicioso, mobilizador e transformador pacote de medidas proposto pela Comissão Europeia. Estará, agora, em risco? Vozes levantam-se contra aquilo a que chamam “ecologia punitiva”. O que contestam? A neutralidade carbónica? O princípio do poluidor-pagador? A obrigação de cumprimento de normas estritas para evitar desastres ambientais? A transição para novos modelos de produção e consumo? Ou tão só a distribuição de sacrifícios?
Esta é uma das maiores controvérsias do nosso tempo. Há os que acreditam que corremos contra o tempo. E os que acreditam que o tempo resolve tudo.
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