Para existir uma literatura com características nacionais terá de existir diferenciação cultural e maturidade de uma língua estruturada com originalidade e maleabilidade expressiva, usada de forma corrente, reconhecida pela comunidade como sua.
Mais complexa é a explicação sobre as origens das literaturas latinas, abordagens foram realizadas a partir do estudo de textos da Antiguidade, da geometria egípcia à medicina grega, das análises da “Ilíada” e da “Odisseia” às derivações da cultura grega para o mundo romano, nomeadamente através da filosofia e do direito, mas também das ciências e artes.
Erradamente designada por “idade das trevas”, a Idade Media foi o período em que os árabes estudaram e copiaram textos gregos e os traduziram através do aramaico, obras, nomeadamente de Aristóteles, o “aristotelismo muçulmano”, que proporcionou o avanço do Al Andalus e reconhecimento dos seus mestres nas universidades medievais europeias.
A divisão territorial do poder romano e a queda do Ocidente destacou Bizâncio/Constantinopla, que resistiu mil anos, entre o século V e a sua a tomada em 1453 pelo sultão otomano, quando mestres bizantinos ensinavam grego em Veneza e Florença.
Embora o português surja com expressividade no decorrer da primeira dinastia num contexto galaico-português e palaciano, as cantigas de Amor e de Amigo deram-lhe forma original, com destaque entre outros do rei-poeta D. Dinis. Testemunham a época os cancioneiros da Vaticana e da Biblioteca Nacional, no século XIV as crónicas de Fernão Lopes, reconhecido como historiador, também as obras de D. Duarte, a “Arte de Bem cavalgar a toda a sela”, o “Livro dos Conselhos” e o “Leal Conselheiro”, mas foi sobretudo o Infante D. Pedro das Sete Partidas que introduziu a mundovisão renascentista.
Os primeiros gramáticos surgiram no século XVI, Fernão de Oliveira e João de Barros, Gil Vicente com os autos e tragicomédias, da tradição medieval, marcou o momento inicial de maior originalidade e criatividade na abordagem de traços universais da natureza humana.
Sobre a originalidade da literatura lusa, Jacinto Prado Coelho escreveu em 1977 um ensaio que relaciona a mitologia nacional como a justificação literária da existência. Teófilo Braga partira em busca do “celtismo” das origens étnicas nacionais, desmentindo pela genética populacional. Ao longo dos últimos séculos surgiram múltiplos ensaios sobre o “génio nacional”, a “vocação pelo mar”, o “Quinto Império”, o “Sebastianismo”, a “Saudade”…
Em diferentes épocas encontramos tentativas de caracterização de uma hipotética personalidade do “ser português”, “sentimental”, “místico”, “messiânico”, “aventureiro”, “descobridor”, dotado de “enigma existencial”, até ao mais recente “medo de existir”…
O “português” não constitui categoria unitária ou filosófica, heterogéneas são as origens e influências geográficas, étnico-culturais, religiosas, sociais, de estatutos de pertença… Historicamente é evidente o divórcio entre as elites nacionais colonizadas e estrangeiradas e o povo atrasado-força de trabalho, hoje ainda patente.
Os géneros e estilos foram múltiplos, épicos e barrocos, românticos e modernos,…
A literatura popular foi investigada e estudada a partir do século XIX, trabalhos que utilizam a arqueologia e etnografia, como Adolfo Coelho, Teófilo Braga, Leite Vasconcelos,…
Manuel Viegas Guerreiro observou “a designação de Literatura Popular, literatura do povo, associa uma entidade social que as mais das vezes não usa a escrita para representar a sua arte verbal.”
A relação entre Literatura e História é problema de metodologia para construção de uma nova História da Literatura. Resulta da necessidade de caracterizar a intemporalidade e universalidade humana, sem se circunscrever à época.
A situação é hoje mais rica e complexa pela expansão da língua portuguesa noutros continentes, resultante das novas nacionalidades pós-coloniais.
Com os novos vocábulos e expressões culturais vão surgir outras literaturas e novas histórias literárias.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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