As eleições autárquicas de 12 de outubro prometem redesenhar o mapa político do Algarve. Se em 2021 o Partido Socialista (PS) dominou a região, beneficiando da fragmentação da direita, em 2025 o cenário surge bem mais competitivo: a Aliança Democrática (AD) aparece reforçada em vários concelhos e o Chega, que foi o partido mais votado no distrito nas Legislativas, ameaça quebrar o ciclo habitual de bipolarização.
A leitura que o jornal POSTAL do ALGARVE faz, concelho a concelho, revela uma tendência clara: o PS continua favorito em mais de metade dos municípios, mas com margens cada vez mais curtas e risco de executivos mais plurais. A AD/PSD defende bastiões como Albufeira e entra em Faro com ligeira vantagem, embora sem garantias. A CDU, mesmo com mudança de rosto, mantém posição sólida em Silves. O Chega deverá conquistar vereadores em quase todo o Algarve e pode mesmo discutir vitórias em Albufeira e Faro, dois dos tabuleiros mais incertos.
No conjunto, a região apresenta um retrato político em mutação: concelhos como, Monchique, Lagoa, Loulé e Faro concentram a maior incerteza, abrindo espaço a equilíbrios inéditos. O PS preserva “terreno natural” no litoral e barlavento, mas enfrenta maior pressão no sotavento, onde a direita e sobretudo o Chega cresceram nas Legislativas. A poucos dias da votação, o Algarve é hoje um dos distritos onde as autárquicas prometem maior indefinição e potencial surpresa.
Possíveis cenários concelho a concelho (ordem alfabética)
Albufeira
Candidatos principais: José Carlos Rolo (PSD/CDS “Ser Albufeira” – recandidatura), Rui Cristina (Chega), Victor Ferraz (coligação “Albufeira é Tua” – PS/LIVRE/BE/PAN). Sinais de tendência: Nas Legislativas 2025, Chega foi 1.º no concelho (CH 8.016 votos; AD 5.293; PS 3.365). Cenário provável: corrida a três. A máquina incumbente dá vantagem ao PSD/CDS; a coligação de esquerda mitiga dispersão; Chega parte forte mas tem maior dificuldade histórica em converter voto legislativo em presidências de câmara. Prognóstico: ligeira vantagem PSD/CDS; risco de surpresa por CH ou pela coligação PS/LIVRE/BE/PAN.
Alcoutim
Candidatos: Paulo Paulino (PS – presidente em funções), Carlos Ludovico (PSD), José Miguel Ghira (Chega), Luísa Barros (CDU). Sinais: Em 2025, AD venceu no concelho nas Legislativas (AD 38,1%; PS 31,5%; CH 16,2%). Cenário: terreno pequeno e muito personalizado. Prognóstico: equilíbrio PS–PSD, com vantagem táctica do PS pela incumbência.
Aljezur
Candidatos: José Gonçalves (PS – recandidatura), Manuel Marreiros (independente apoiado pelo PSD), Fernando Cortes (Chega). Cenário: PS governa e parte na frente; apoio formal do PSD a um independente torna a disputa mais competitiva no Barlavento interior. Prognóstico: PS favorito, com probabilidade média de disputa taco‑a‑taco se o independente captar voto anti‑PS e de protesto.
Castro Marim
Candidatos: Filomena Sintra (PSD – sucedeu a Francisco Amaral e já preside), Ricardo Cipriano (PS), Jorge Pinto (Chega), Maria José Madeira (CDU). Sinais: Em maio, Chega foi 1.º no concelho nas Legislativas; PSD e PS a seguir. Cenário: direita fragmentada (PSD incumbente vs. CH forte). Prognóstico: PSD parte na frente por incumbência e estrutura, mas é um dos concelhos voláteis do Algarve. Vereação plural muito provável.
Faro
Candidatos: Cristóvão Norte (coligação alargada PSD/CDS/IL/PAN/MPT), António Miguel Pina (PS – impedido de recandidatar Olhão), Pedro Pinto (Chega), entre outros. Saída por limite de mandatos de Rogério Bacalhau. Sinais: Nas Legislativas 2025, AD ganhou por 271 votos em Faro, com Chega muito perto; é a capital de distrito mais tripolar. Cenário: disputa a três. Prognóstico: AD entra ligeiramente favorita (máquina instalada desde 2009 e coligação ampla), mas a notoriedade regional de Pina e a força recente do CH tornam o resultado muito incerto.
Lagoa
Candidatos: Luís Encarnação (PS – recandidatura), Paulo Serra (coligação PSD/CDS), Lurdes Alemão (Chega), Victor Carapinha (CDU). Cenário: PS governa com conforto desde 2019; oposição mais estruturada em 2025. Prognóstico: PS favorito, mas pode haver surpresas; AD e CH bem colocados para reforçar vereação.
Lagos
Candidatos: Hugo Pereira (PS – recandidatura), Gilberto Viegas (PSD/CDS), Paulo Rosário (Chega), Maria João Sacadura (LIVRE), Alexandre Nunes (CDU). Cenário: bastião do PS; oposição fragmentada. Prognóstico: PS favorito, com AD a disputar aproximação e CH a tentar 1 vereador.
Loulé
Candidatos: Telmo Pinto (PS), Hélder Martins (AD/PSD‑CDS‑IL), Fernando Santos (Chega), Ana Poeta (BE/LIVRE), Catarina Piedade (CDU). Sinais: Nas Legislativas 2025, Chega foi 1.º no concelho (CH 11.480 votos; AD 10.086; PS 6.385). Cenário: transição de candidato no PS e vento nacional à direita tornam a corrida bem mais renhida do que em 2021. Prognóstico: PS ligeiramente favorito, mas pode haver surpresas.
Monchique
Candidatos: Paulo Alves (PS, recandidatura), João Miguel Silva (PSD), Fábio Ferreira (Chega), Stephen Hugman (CDU). Sinais: Legislativas 2025 deram AD ligeiramente à frente, com PS logo atrás e CH na casa dos 20% — quadro tripolar. Cenário: concelho pequeno, voto muito personalista. Prognóstico: PS vs AD em aberto; CH com hipóteses reais de eleger vereador e condicionar governação.
Olhão
Candidatos: Ricardo Calé (PS), António Andrade (coligação PSD/CDS), Ricardo Moreira (Chega), Alexandre Pereira (PAN), Florbela Gonçalves (CDU). O atual presidente, António Miguel Pina, atinge limite de mandatos e é candidato em Faro. Cenário: É um concelho historicamente socialista, mas com CH a crescer (37,45% nas legislativas, contra 22,17% da AD e 20,36% do OS); atenção à possibilidade de dispersão à esquerda/direita na vereação. Prognóstico: PS favorito, mas pode haver surpresas.
Portimão
Candidatos: Álvaro Bila (PS – atual presidente desde 2024), Carlos Gouveia Martins (coligação PSD/CDS/IL), João Graça (Chega), João Vasconcelos (movimento independente “Unidos por Portimão”), Nuno Cordas (CDU). Cenário: PS governa desde as primeiras autárquicas; sucessão interna testa fidelidade do eleitorado. Prognóstico: PS favorito, mas com margem mais curta; AD e CH muito bem colocados para ganhar vereadores adicionais.
São Brás de Alportel
Candidatos: Víctor Guerreiro atinge limite de mandatos e PS apresenta Marlene Guerreiro, Bruno Sousa Costa (PSD/CDS-PP), Mário Botelho (Chega), Antonino Costa (PCP-PEV/CDU). Cenário: longo histórico de governação PS e forte personalização local; direita e CH mais competitivos em Legislativas do que em autárquicas. Prognóstico: PS favorito; AD e CH disputam 2.º e 1 vereador.
Silves
Candidatos: Rosa Palma atinge limite de mandatos; CDU apresenta Luísa Conduto; Ana Sofia Belchior (PS), João Garcia (PSD/CDS/IL), José Paulo Sousa (Chega), Sérgio Correia (BE/LIVRE). Sinais: autarquia com base estável da CDU desde 2013. Cenário: mudança de rosto é teste para a CDU; direita e PS tentam capitalizar a fragmentação. Prognóstico: CDU favorita, mas com risco real de maioria absoluta cair e executivo ficar mais repartido.
Tavira
Candidatos: Ana Paula Martins (PS – recandidatura), Dinis Faísca (PSD), Anaísa Gonçalves (Chega), Venceslau Peres (CDU). Cenário: concelho tradicionalmente competitivo PS–PSD; subida de CH aumenta incerteza. Prognóstico: PS ligeiramente favorito, mas AD com caminho curto para discutir 1.º lugar; CH perto de 1 vereador.
Vila do Bispo
Candidatos: Rute Silva (PS – recandidatura), Paula Freitas (PSD), Afonso Nascimento (Chega), Bruno Boaventura (CDU). Cenário: concelho pequeno, redes PS muito sedimentadas. Prognóstico: PS favorito; oposição com margem para reforçar presença na Assembleia Municipal.
Vila Real de Santo António
Candidatos: Álvaro Araújo (PS – recandidatura), José Carlos Barros (PSD), Lígia Martins (CDU), Sebastião Pires (BE), David Costa (Chega). Cenário: PS recuperou a Câmara em 2021 e consolidou presença; direita e CH mostram força em Legislativas no sotavento. Prognóstico: PS ligeiramente favorito, mas é um dos tabuleiros mais competitivos do sotavento para AD/CH tentarem travar maioria ou disputar vitória.
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