A ViniPortugal, que termina esta sexta-feira uma ação de promoção de vinhos portugueses nos Estados Unidos, vai reforçar o investimento no mercado norte-americano, onde antecipa que as vendas cresçam a dois dígitos em 2022.
“Este ano temos como objetivo incrementar as nossas ações de promoção aqui, até porque não vamos poder fazer promoção em dois mercados que estavam a crescer para nós, a Ucrânia e a Rússia”, disse à Lusa o presidente Frederico Falcão.
“Vamos desviar muito desse orçamento para aqui, porque é um mercado com muito potencial”, explicou.
As exportações de vinhos portugueses para os Estados Unidos atingiram os 104 milhões de euros no ano passado, refletindo um crescimento de 13% que ficou acima do crescimento global (8,19%).
“O objetivo é claramente crescer acima do que crescemos no ano passado”, afirmou Frederico Falcão.
A tour da ViniPortugal, feita através da marca Wines of Portugal, começou em Boston, passou por Chicago e terminou em Los Angeles, com conversas, provas de mais de 200 vinhos portugueses e a presença de dezenas de produtores.
Em Los Angeles, a sommelier Taylor Grant, que fundou a empresa de consultoria de vinhos Salutay, frisou a relação qualidade-preço dos vinhos portugueses.
“Descobri que os vinhos não só são bons como têm um excelente valor”, disse Grant. “São vinhos que vão bem com a comida e que conseguem fazer uma ponte entre o que as pessoas estão habituadas a beber e o que aceitam experimentar”.
A sommelier considerou que há alguns vinhos portugueses “que se destacam” e defendeu que a aposta deve ser afunilar o foco para promover quatro ou cinco vinhos, de modo a aumentar o reconhecimento por parte dos clientes.
Sendo os Estados Unidos o segundo maior mercado de exportação para os vinhos portugueses (e o maior excluindo vinho do Porto), a ViniPortugal planeia regressar para mais provas. Frederico Falcão disse que estão a ser desenhadas novas investidas em Nova Iorque, Texas e Florida, a partir de outubro.
“Queremos massa crítica na América”, disse Eugénio Jardim, embaixador da Wines of Portugal nos EUA, durante o evento em Los Angeles. “Desculpem, somos gananciosos”, gracejou.
Mas o intuito não é massificar a presença de vinhos portugueses nos supermercados, onde há uma pressão para preços baixos e elevados volumes. A ideia é chegar mais às lojas de vinhos e restaurantes, onde a qualidade é valorizada.
“Nós estamos claramente interessados em aumentar a nossa exportação em preço, em valorização do vinho, e não tanto em aumentar volumes”, notou Frederico Falcão.
“A nossa estratégia é atingir garrafeiras, bons restaurantes, ter uma boa presença nos mercados mas sem ser em supermercados”, continuou.
Os compradores e distribuidores nos três eventos “dizem que os vinhos portugueses ao preço de 50 dólares [46 euros] põem num canto os vinhos europeus e de novo mundo do mesmo preço”, disse Frederico Falcão. “Muitos já começam a olhar para Portugal não como preço baixo mas como uma boa relação qualidade-preço em todos os patamares de preço.”
O facto de não serem tão reconhecidos quanto os vinhos franceses ou italianos também intriga os compradores que procuram coisas novas.
“Temos uma secção de vinhos portugueses e as pessoas ficam curiosas porque é um país do velho mundo mas não o conhecem bem”, explicou o sommelier Eduardo Bolaños, comprador de vinhos ibéricos e latino-americanos para a The Wine House, no evento em Los Angeles.
“Por causa da pandemia, as pessoas desfrutaram mais de vinho e começaram a querer explorar melhores opções”, disse Bolaños, notando que a categoria dos vinhos verdes está a atrair muito interesse.
Os anos de pandemia foram de enorme crescimento para os vinhos portugueses a todos os níveis, disse Frederico Falcão. A perceção de melhor relação qualidade-preço foi um dos principais fatores nessa expansão.
Com um investimento de 8,3 milhões de euros por ano, o trabalho que a ViniPortugal tem feito “começa a dar frutos”, considerou o presidente.
“Há quinze anos, se perguntasse a um regular americano, todos conheciam vinho do Porto mas não sabiam que era um vinho de Portugal”, disse Falcão. “Essa perceção está a mudar”.