A escalada dos preços está a transformar a vida de milhares de reformados na Austrália, e Annette Bleney é um dos rostos dessa realidade. Aos 71 anos, foi obrigada a vender a casa onde vivia, na costa de Capricornio, e mudar-se para junto da filha devido às dificuldades financeiras.
Durante anos, acreditou que a reforma seria uma fase tranquila, mas a subida do custo de vida acabou por lhe roubar a independência. “Não posso pagar nem uns óculos novos e custa-me chegar ao fim do mês”, desabafou à estação ABC News, visivelmente emocionada.
Pensão insuficiente
A mulher explica que vivia com uma pensão modesta, insuficiente para cobrir todas as despesas. O carro antigo que ainda possui tornou-se mais um fardo: “É preciso pagar a gasolina e trocar pneus. Já me cansei de procurar o posto mais barato. Não consigo aguentar mais.”, revelou, citada pelo portal espanhol Noticias Trabajo.
As faturas acumuladas acabaram por ser o ponto de rutura. “Vivia um dia de cada vez, mas quando sabia que vinha uma conta, pensava: ‘Meu Deus, como é que vou pagar isto agora?’”, confessa.
Uma decisão dolorosa, mas inevitável
Perante o cenário, a única saída foi vender a casa e partir. Annette arrumou as malas e foi viver com a filha, a cerca de 50 quilómetros. “A ideia é voltar a ter a minha casa, num apartamento perto do dela, mas por agora não é possível”, diz.
Com menos espaço e uma nova rotina, teve também de cortar gastos. “O carro era o que mais me pesava no orçamento. Fazia muitas viagens entre a cidade e a praia. Há pouco tempo, tive de pedir ao meu irmão que me ajudasse a pagar uma reparação.”
A sua pensão é de 1.280 euros mensais, valor que na Austrália corresponde à chamada pensão de velhice. Os beneficiários recebem o pagamento de forma quinzenal: 1.149 dólares australianos (cerca de 643 euros) para quem vive sozinho, e 886 dólares (aproximadamente 495 euros) por pessoa no caso de casais.
Annette trabalhou durante 45 anos e, como diz, “estava habituada a receber o meu salário e a gerir o meu próprio dinheiro”. No entanto, a realidade da reforma obrigou-a a aprender a fazer orçamentos rígidos. “Os tempos mudaram e o custo de vida também. Basta ir ao supermercado para perceber o quanto tudo subiu.”
Um problema que atinge milhares
Um relatório recente revelou que um em cada cinco australianos vive em situação de pobreza. O Governo tem procurado aliviar a pressão financeira aumentando as pensões duas vezes por ano, em março e setembro.
O grupo National Seniors Australia defende que reforçar as pensões não é apenas uma questão de dignidade, mas também de equilíbrio económico. “Muitos reformados enfrentam grandes dificuldades para cobrir o custo de vida com as pensões atuais”, explicou o diretor Chris Grice.
Na última atualização, o aumento foi de apenas quatro dólares. Desta vez, espera-se um ajuste maior. “Estamos satisfeitos, porque o valor da indexação subiu”, afirmou um dos representantes da associação, referindo que a situação é urgente.
Para tentar minimizar as carências, muitos idosos têm recorrido a redes de apoio e programas sociais. Vários grupos promovem serviços acessíveis, desde cuidados básicos até refeições a preços reduzidos.
Comida solidária e esperança
De acordo com o Noticias Trabajo, uma das medidas mais populares é a criação de refeitórios sociais para reformados. Nestes espaços, as refeições são quase simbólicas e ajudam a aliviar o peso das contas. “É barato e costumo levar dois menus para casa”, contou Denise Andrijasic, uma residente de Rockhampton. “Já nem cozinho tanto.”
Outros reformados lembram que a pensão é um direito conquistado. “Pagámos impostos toda a vida. É justo que possamos viver com dignidade”, afirmou uma idosa. “Hoje, até uma compra simples no supermercado custa uma fortuna. Com famílias grandes, é praticamente impossível.”
A história de Annette espelha uma realidade que se repete em muitos países desenvolvidos: o aumento dos preços está a transformar o sonho da reforma num desafio diário. Entre contas, combustível e alimentação, cada euro conta, e o futuro tornou-se uma incerteza.
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