Nove retratos de grandes dimensões, que corporizam uma tradição da vila de São Brás de Alportel, fazem parte da exposição “Tochas”, a inaugurar na quarta-feira, nas antigas oficinas de fardamento do exército, em Lisboa.
As fotos são do fotógrafo algarvio Vasco Célio e situam-se algures entre a lenda e a historiografia, disse à agência Lusa a curadora da mostra, Sara Goulart Medeiros.
Conta-se que, há cerca de quatrocentos anos, os habitantes de São Brás de Alportel, perante a ameaça de invasão por parte de uma frota inglesa, acenderam tochas de fogo no alto do cerro, à noite, criando a ilusão de exército grandioso, e conseguiram assim afastar o inimigo, explicou Sara Goulart Medeiros a propósito da lenda, à agência Lusa.
A vitória é anualmente evocada pelos homens de São Brás, que substituíram a tocha incandescente por uma composição floral, por eles elaborada e transportada numa procissão do rito pascal católico.
Nos anos de 2012 e 2017, Vasco Célio retratou as centenas de homens de S. Brás de Alportel que empunham as suas tochas floridas na procissão pascal da Ressurreição, de que resultou esta mostra de nove fotografias à escala real, acrescentou a curadora.
A mostra, que está patente até 11 de dezembro naquelas antigas oficinas ao campo de Santa Clara, conta com o apoio da Direção-Geral das Artes (DGArtes), da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, de Ironic Art Nation, Buala, Artadentro, Stills e Largo Residências.
As fotografias foram captadas em vários momentos distintos, tendo no final o fotógrafo captado mais de 500 retratos, com a ajuda de quatro assistentes.
Durante as cerca de três horas que antecedem a procissão, onde circulam e são exibidas as tochas, o fotógrafo teve de garantir o maior número de fotografias realizadas.
Para a exposição pensada e produzida em 2018 e que agora vai estar patente em Lisboa foram escolhidos nove, na fórmula clássica de ampliação à escala 1/1, resultando em imagens com uma lógica espacial dialética assumida com o espectador, que por vezes se deixa confundir com o realismo que essas dimensões comportam, conclui Sara Goulart Medeiros.
Vasco Célio nasceu em 1975 e reside no Algarve, onde desenvolve vários projetos no campo das artes visuais,
Enquanto artista tem trabalhado em reflexões com um olhar documental sobre Portugal, em registo individual ou coletivo.
Colabora também com regularidade com os artistas performativos João Borralho e Ana Galante.