Muitos condutores portugueses ficam confusos ao conduzir em Espanha, especialmente quando chegam às rotundas. O comportamento dos espanhóis ao volante parece, à primeira vista, completamente caótico, mas na realidade segue regras diferentes das portuguesas. E é precisamente essa diferença que causa a maior parte dos sustos nas estradas ibéricas.
Enquanto em Portugal a circulação nas rotundas é estritamente regulada pelo Código da Estrada, ao conduzir em Espanha a norma é mais ambígua e interpretada de forma distinta por condutores e autoridades. O resultado é um estilo de condução que, para um português, parece um “vale tudo”.
Em território nacional, quem entra numa rotunda deve sempre ceder passagem a quem já lá circula. É também obrigatório escolher a faixa consoante a saída pretendida, sinalizar corretamente e mudar de faixa antes de sair. Estas regras são claras, mas nem sempre conhecidas por quem atravessa a fronteira.
Já do outro lado, o cenário muda completamente. Em Espanha, o condutor pode circular e sair de praticamente qualquer faixa, desde que o faça com segurança. Esta liberdade, que à primeira vista parece perigosa, é permitida pela legislação espanhola e amplamente tolerada pelas autoridades.
Uma diferença que confunde muitos portugueses
A principal divergência ao conduzir em Espanha está na forma de sair da rotunda. Em Portugal, a faixa da direita é reservada a quem pretende sair na primeira ou segunda saída, enquanto quem segue para as restantes deve circular à esquerda e mudar de faixa antes de sair. Ignorar esta regra pode resultar em multa.
Em Espanha, no entanto, o raciocínio é diferente. Um condutor pode permanecer sempre na faixa exterior, dar quantas voltas quiser e sair diretamente, algo impensável nas estradas portuguesas. A lógica espanhola valoriza mais a fluidez do que a hierarquia das faixas.
Esta diferença de prática tem levado a coimas a condutores portugueses em Espanha, nomeadamente quando saem diretamente da faixa interior sem respeitar a prioridade de quem circula na faixa exterior ou sem sinalização adequada, situação considerada manobra incorreta pela DGT.
Isto acaba por fazer com que muitos portugueses sintam que os espanhóis “fazem mal as rotundas”. No fundo, não é uma questão de má condução, mas sim de duas formas distintas de interpretar o mesmo tipo de intersecção.
O que diz a lei espanhola
A Direção-Geral de Tráfego (DGT) de Espanha confirma que, tecnicamente, é possível sair de qualquer faixa, desde que não se corte a trajetória de outro veículo e o sinal de mudança de direção seja usado corretamente. O princípio base é simples: segurança antes da prioridade.
Na prática, contudo, nem todos o cumprem. É comum ver condutores a sair sem pisca, a mudar de faixa abruptamente ou a circular pela direita durante longos troços — comportamentos que, para um português, parecem pura desorganização.
Em contrapartida, quem conduz em Portugal está habituado a regras mais rígidas. O artigo 14.º do Código da Estrada é claro: a prioridade é de quem já está na rotunda, e a mudança de faixa antes da saída é obrigatória. Falhar este procedimento pode resultar numa coima que vai dos 60 aos 300 euros.
Cuidados para quem atravessa a fronteira
Os especialistas em segurança rodoviária alertam que as diferenças culturais no volante são uma das principais causas de conflitos entre condutores dos dois países. O ideal é adotar uma condução defensiva, antecipar manobras e não assumir que o outro segue as mesmas regras.
Para os portugueses, o segredo está em manter a calma e observar o comportamento local. Em Espanha, é preferível deixar espaço e evitar disputar a prioridade dentro das rotundas, mesmo que a regra portuguesa esteja do nosso lado.
Apesar das divergências, as autoridades dos dois países têm procurado harmonizar as regras de trânsito no âmbito da União Europeia. No entanto, as rotundas continuam a ser um exemplo de como a prática nem sempre acompanha a teoria.
Uma questão de hábito
Muitos espanhóis aprendem a conduzir vendo os outros, não através de manuais técnicos. O resultado é um estilo mais intuitivo e menos formal. Já os portugueses tendem a seguir o regulamento à risca, especialmente desde a introdução das multas mais severas associadas às infrações em rotundas.
Para quem vive ou viaja entre os dois países, compreender estas diferenças pode evitar sustos e até acidentes. No fundo, não se trata de quem conduz melhor, mas de quem se adapta mais depressa.
Afinal, cada lado tem a sua lógica: em Portugal, a prioridade é a ordem; em Espanha, é o movimento. E entre regras e improviso, as rotundas continuam a ser o cruzamento perfeito entre duas culturas ao volante.
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