Fernando José Mártires é tavirense de gema, tem 54 anos e dedica-se ao mundo do audiovisual desde os 19. Até ao momento já fez quatro curtas-metragens e promete não ficar por aqui.
O POSTAL esteve à conversa com o artista para conhecer um pouco melhor a sua história de vida. “O meu percurso está muito relacionado com a minha família que também sempre teve uma grande ligação ao mundo artístico. Eu sou descendente de grandes artistas, no campo das artes plásticas e também do som. O tio da minha mãe foi um grande tocador e era uma grande referência na região”, começa por contar, em entrevista ao POSTAL.
Fernando Mártires começou a ganhar o “bichinho” pelas artes ainda no tempo da escola. “Foi durante o meu percurso escolar que fomentei este gosto pelo mundo do movimento, do trabalho, da performance e do espetáculo. Já na escola primária as professoras diziam que eu tinha muito jeito e convidavam-me, com frequência, para participar nos sketches teatrais da época”, recorda.
“A minha vida apresenta um fio condutor muito interessante. Aos 11 anos, o meu pai tinha um restaurante em Cabanas de Tavira e iam lá muitas vezes uns senhores de Lisboa. Eu senti uma grande empatia com eles e comecei a convidá-los para almoçarem e jantarem com a minha família e eles fizeram algo muito interessante: começaram a projetar filmes durante esses encontros, algo que me marcou até hoje”, salienta.
Fernando Mártires trabalhou, na adolescência, para adquirir uma câmara

Após os encontros com os lisboetas, Fernando Mártires começou a perceber que o mundo do movimento era aquilo que fazia o seu coração acelerar. “Durante a adolescência estudei e trabalhei em simultâneo, no verão, para conseguir comprar uma câmara semi-profissional e consegui. Tive durante muitos anos aquele esquema de VHS que durava apenas quatro horas”, explicou ao POSTAL.
A partir dessa altura, o tavirense começou a filmar eventos sociais, registos que guarda até aos dias de hoje.
“Tenho em arquivo muitos eventos sociais que caraterizam a história da cidade de Tavira e as pessoas reconhecem-nos, referindo-se carinhosamente a estes registos como “os tesourinhos”.
Fernando Mártires é licenciado em Turismo e trabalha há vários anos com os pais no restaurante João Belhi, na baixa-mar de Tavira. O espaço apresenta um conceito diferenciador: as paredes estão repletas de conteúdos cinematográficos.
“Como tinha a visita de muitos atores e figuras públicas da televisão e do cinema decidi fazer deste espaço um local de homenagem ao mundo do cinema e decidi remodelá-lo, tendo como base a temática ‘Cine Nostalgia’, revivendo vários génios desta área.
Artista recebeu uma visita no seu restaurante que lhe mudou a vida
Fernando Mártires recebeu, em 2012, uma visita que lhe viria a mudar a vida. “Recebi aqui no estabelecimento uma equipa de cinema que esteve a filmar durante o mês de outubro desse ano, desde Sagres até Vila Real de Santo António. Eles visitaram vários espaços e pediram-me autorização para expor o seu material aqui durante as tardes”, revelou.
O gosto por esta arte fê-lo passar tempo com esta equipa e trocar impressões. “Como já estava ligado ao mundo do audiovisual porque filmava eventos sociais, batizados e casamentos, eles perguntaram-me: ‘Porque é que não se inscreve num festival de cinema?’”.
“Aquela ideia ficou a pairar na minha cabeça durante algum tempo e decidi avançar. Os ingredientes fundamentais eram ter um bom argumento uma boa história e muita criatividade”, explica.
Fernando Mártires começou a escrever a sua primeira curta-metragem em meados de 2015 e em 2016 já a tinha pronta. “O Cordão Umbilical” contou com a participação de familiares.

“O meu cunhado (Luís Pacheco) e as minhas irmãs (Ofélia Pacheco e Sara Mártires) são os protagonistas. Também os meus filhos (David Mártires e Fernando Mártires) aceitaram o desafio em conjunto com os meus sobrinhos (Carlos Pacheco e Pedro Pacheco). Depois existem ainda vários amigos que participaram como figurantes”, relembra.
Fernando Mártires é peremptório: “nas minhas curtas existe sempre uma mensagem a transmitir”. A segunda curta do tavirense chama-se “Zoom-Lado Ocular” e é uma comédia. Por sua vez, a terceira curta-metragem é protagonizada pelo filho, David Mártires, que estudou teatro e também está ligado ao mundo do vídeo.
O último trabalho do tavirense tem tido muita repercussão e aborda duas temáticas na ordem do dia: a depressão e a violência doméstica.
“Esta curta-metragem acontece no ambiente de uma rádio, a 24 FM, e aborda os reflexos da depressão e da violência doméstica, vivida entre os funcionários dessa rádio. Este trabalho teve a colaboração dos meus colegas da Rádio Gilão e de outros amigos que não estão ligados a esta área”, salientou.
As curta-metragens do artista algarvio têm tido uma boa aceitação e já foram exibidas no Farcume – Festival Internacional de Curtas-Metragens de Faro. O tavirense gravou ainda o documentário “Perfil”, onde entrevistou várias pessoas da terra.
Fernando Mártires é produtor, realizador, locutor na Rádio Gilão e até já participou em vários projetos como ator. “Para o futuro breve tenho duas curtas em andamento. Eu quero chegar mais além e gostava que as pessoas percebessem que faço isto sem qualquer formação em cinematografia. Sou autodidata e o que me move é realmente a paixão que tenho por esta arte”.