
A empresa Águas do Algarve iniciou o novo ano com uma campanha de sensibilização “Resolução de Ano Novo para 2020: Utilizar a água com consciência. Para que os momentos felizes perdurem e o essencial nunca falte”.
O POSTAL esteve à conversa com Teresa Fernandes, responsável pela Comunicação e Educação Ambiental da Águas do Algarve, sobre várias temáticas subjacentes à nova campanha, bem como questões relacionadas com a água e a sua disponibilidade na região algarvia.
Porque deram início a esta campanha?
Na verdade, trata-se de uma continuidade e não de um início. Infelizmente, já não são novidade os dados divulgados acerca da seca que se mantém na nossa região. Bom seria que assim não fosse. Pese embora, o facto da escassa chuva que caiu na região tenha contribuído para a efetiva diminuição do stress hídrico do solo.
De acordo com a APA, a região ainda se encontra em situação de “seca severa e extrema”. As barragens que sustentam o Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água do Algarve estão com níveis muito abaixo dos que seriam os desejáveis para esta altura do ano. Veja-se Odelouca no barlavento, está com um volume útil de cerca de 41%; Odeleite 28% e Beliche 25%, ambas a sotavento.
Esta situação de privação de chuva, levou inclusivamente a que desde o dia 7 de janeiro, e por indicação do nosso concendente, estejamos a usar a água que existe na Barragem do Funcho para as necessidades de abastecimento humano a toda a região.
A situação continua muito preocupante e a Águas do Algarve não está indiferente a esta realidade, investindo em várias matérias para enfrentar os dias difíceis que certamente se avizinham. Uma coisa é certa, o clima está a mudar.
Também nós temos de mudar na forma como atuamos, nos nossos hábitos e comportamentos do dia-a-dia, para responder ao desafio das alterações climáticas. Esta Campanha de Ano Novo vem reforçar as diferentes ações de sensibilização, desenvolvidas pela empresa em 2019, para a importância de se integrar o uso eficiente e racional de água de forma permanente, uma vez que a escassez de água é uma realidade inevitável, designadamente no contexto das alterações climáticas.
Qual é o objetivo desta resolução de ano novo?
Para além das medidas urgentes que venham a ser implementadas pelos organismos e instituições públicas, para alterar o rumo do aquecimento global, e no nosso caso da gestão dos recursos hídricos para consumo humano, a população deve ser sensibilizada para este problema atual.
Mantendo-se a situação de seca na região, não tenho dúvidas acerca da necessidade de implementação de uma gestão e controlo mais rigorosos naqueles que são os consumos e as perdas em todas as atividades que necessitam de água e junto dos vários atores nesta matéria.
Nesta fase, acredito que as campanhas de sensibilização são também elas fundamentais, assumindo uma posição privilegiada na promoção de atitudes e valores, bem como no desenvolvimento de competências da população.

Os nossos objetivos focam-se essencialmente na responsabilização de cada um para um maior esforço individual na alteração dos hábitos diários de vida, versus a realidade de falta de água nas torneiras. Veja-se o que aconteceu em 2018 na cidade do Cabo, com o alerta do dia ZERO. Felizmente, a combinação de diferentes medidas drásticas parece ter surtido efeito e o tão receado dia não chegou (para já) a acontecer. Assim, tudo o que possamos fazer para mitigar a falta de água, hoje e no futuro próximo, conta.
O que é usar a água com consciência?
É interessante colocar essa pergunta. São poucas as vezes em que o cidadão se debruça sobre essa questão. Afinal ela está sempre disponível nas nossas torneiras, 24 horas por dia, em quantidade (e qualidade). São poucas as pessoas que param para pensar no valor da água, no quanto é essencial para a nossa sobrevivência e de toda e qualquer vida no Planeta. Coloco o desafio de nos imaginarmos um dia apenas sem água. E se for uma semana?! Se porventura é daqueles que já pensou, é porque se preocupa com o ambiente e com o nosso futuro. Se for das pessoas que ainda não teve oportunidade de refletir sobre esta possibilidade, está na hora de começar a fazê-lo. Experimente limitar a imaginação às utilizações práticas da água no dia-a-dia… saciar a sede, não ter como fazer uma boa higiene diária, como tomar banho, lavar as mãos, lavar a roupa, escovar os dentes, usar a casa de banho, cozinhar, etc. Já pensou?
O nosso estilo de vida seria muito diferente do atual. Por estes e tantos outros motivos é preciso aprender, o quanto antes, o real valor da água, quer para a preservação da vida humana, quer da natureza. Sabemos que a água é fundamental para o funcionamento da vida, mas muitas vezes renegada para segundo plano.
E isto foi comprovado através do Estudo Nacional sobre as Atitudes e Comportamentos dos Portugueses face à Água, realizado em abril de 2018, pela Águas de Portugal, que identificou a existência de discordâncias entre as atitudes e os comportamentos dos portugueses face à água, que a consideram como o mais importante recurso mas não o valorizam e reconhecem que praticam desperdício.
Tendo consciência destas atitudes, é urgente a identificação de medidas que reaproveitem a água de forma a reduzir a quantidade consumida. De acordo com a ONU, se os atuais padrões de consumo não forem modificados, a escassez de água irá afetar já em 2050 cerca de seis bilhões de pessoas, praticamente 2/3 da população do planeta.
Que medidas podemos tomar para utilizar a água de forma consciente?
É bastante simples. Basta querer. Também a existência de uma consciência coletiva é essencial para que todos continuemos a ter acesso à quantidade e qualidade desejáveis é essencial. Observar o uso que se faz diariamente com a água e mudar estes hábitos ou o seu formato de forma a economizá-la. Algumas dessas mudanças, que levam a um consumo mais consciente de água, começam logo em nossas casas. Não está a usar? Feche a torneira!
O nome da campanha é um alerta para a situação que se vive atualmente?
Sim. Não tenhamos dúvidas. A seca existe! É uma realidade que pode ter consequências muito graves, a todos os níveis da sociedade. No entanto, estas podem ser minimizadas, com a criação de medidas específicas, as quais não aparecem, contudo, de forma imediata, levando o seu tempo. As mudanças climáticas e o clima atual não vão mudar de um dia para o outro, pelo que um dos principais desafios é educar a sociedade para o tema dos recursos hídricos e mostrar a importância de usar conscientemente a água. Na minha opinião, a relação do utilizador com a água tem de ser mais próxima e mais interventiva na sociedade, no âmbito de “discussões” sobre esta matéria.
Não é desejável sermos passivos nestas questões de sustentabilidade. Todos nós, para além do que já foi referido, podemos fazer mais, ser mais proativos. Por exemplo, se virmos que algo não está bem, se identificarmos uma rotura, ou outra situação irregular, devemos atuar, informando a entidade responsável sobre a situação, entre outras.
Atuações simples que geram impactos de expressão significativa. É importante ter consciência da quantidade de água que gastamos. Sabendo que cada pessoa consome, em média, 187 litros de água/dia, direta ou indiretamente, devemos ser mais responsáveis e ter opções de consumo mais sustentáveis, sempre, mas principalmente em períodos de seca.
A que públicos-alvo pretendem chegar com esta campanha?
Independente da faixa etária, formação profissional, ideologia política, residentes ou turistas, a necessidade de água é comum a todos nós e, consequentemente, uma responsabilidade partilhada por todos os consumidores/utilizadores. A campanha é por isso transversal a todos os públicos da nossa região.

Atualmente, quais são as disponibilidades hídricas da região?
As reservas de água da região estão muito abaixo do que seria desejável para esta altura do ano, em virtude da fraca ou praticamente nula pluviosidade que tem havido no Algarve.
A gestão que fazemos na Águas do Algarve deste recurso é muito criteriosa e controlada, contudo, os números são o que são. Infelizmente, a meteorologia também não augura boas notícias nesta matéria.
O abastecimento público está a ser efetuado com recurso a captações subterrâneas e superficiais – barragens. Estas últimas, a sotavento (Odeleite e Beliche) estão com um armazenamento da ordem de 28% e 25% respetivamente, enquanto que a barlavento (Odelouca), está com um armazenamento da ordem dos 41%. Pontualmente, devido a este cenário de seca em que nos encontramos, estamos a utilizar a água que se encontra na Barragem do Funcho.
Todas estas soluções estão a ser geridas de forma integrada permitindo-nos garantir o abastecimento público com tranquilidade (quantidade e qualidade) durante todo o ano.
A seca é igualmente um problema bastante grave. O que fazer para tentar minimizar este problema a curto/médio prazo?
Como já referi anteriormente, esta é de facto uma situação complexa pela sua gravidade e por isso as soluções não são por si só imediatas. Se considerarmos que não vamos ter mais água, num curto/médio prazo, então temos de mudar os nossos hábitos com urgência, garantindo que também não teremos menos.
Reitero a necessidade célere de maior eficiência nos usos da água, uma maior aposta na reutilização e em todos os setores onde esta é necessária. E são tantos os atores presentes nesta matéria. É uma responsabilidade de todos, que não cabe apenas à Águas do Algarve.
Que medidas concretas está a tomar a Águas do Algarve para ajudar a solucionar este problema?
Para além das medidas já referidas acima, que se referem à gestão das origens de água que “alimentam” o sistema multimunicipal de abastecimento de água da região, com alguns investimentos e projetos de desenvolvimento associados, estamos a trabalhar na criação de um Plano de Eficiência Hídrica para o Algarve, o qual será apresentado, em breve, ao nosso concedente.
Qual o maior desafio que a Águas do Algarve enfrenta?
Na Águas do Algarve temos como objetivo principal a garantia de fornecimento de água em quantidade e qualidade para consumo humano durante todo o ano e o tratamento das águas residuais urbanas, de acordo com os mais elevados padrões ambientais, praticando uma tarifa socialmente aceitável pelos serviços que são prestados a todos os 16 municípios do Algarve, nossos clientes e acionistas.
Como sabe, os serviços que prestamos à região são essenciais, não apenas para a população residente como também para os nossos visitantes ao longo de todo o ano, procurando-se um desempenho de excelência, o qual só é possível atingir através da obtenção de um elevado grau de satisfação dos utilizadores.
Temos consciência que os desafios climáticos atuais e dos próximos anos, particularmente na região do Algarve, serão muito exigentes, pelo que continuaremos a trabalhar para os superar, na certeza de continuarmos a manter a qualidade dos serviços, sendo esta uma prioridade de atuação, associada à construção de um futuro sustentável, inclusivamente nas vertentes ambientais.

Que investimentos tem previstos a Águas do Algarve para 2020?
O nosso investimento na região tem sido progressivo, assentando essencialmente na melhoria e resiliência do nosso Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Abastecimento de Água e de Saneamento de Águas Residuais da região. São investimentos fundamentais para se conseguir atingir o nível de satisfação que nos são intrínsecos à nossa atividade e para os quais a nossa dedicação e empenho são totais. Os investimentos já efetuados aproximam-se dos 700 milhões de euros.
Para este ano de 2020, não será diferente, sendo que o volume de investimento é na ordem dos 13 milhões de euros.
Destaco as principais intervenções que têm a ver com a reformulação do sistema de telegestão do Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água, as beneficiações da ETA de Alcantarilha que já começaram em 2019, a ampliação da Central Fotovoltaica da ETA de Alcantarilha, outro grande investimento com um impacto muito significativo na produção de energias limpas, redução da missões de dióxido de carbono e da fatura de eletricidade, a reabilitação da ETAR de Lagos que há muito era desejada, a implementação de um Sistema de Macrófitas na ETAR de Paderne, a implementação de uma Central de Secagem solar de Lamas, uma primeira fase de reabilitação de Caixas de Visita e a reabilitação do intercetor Ibis-Aeroporto.
Existe algum projeto futuro que gostasse de desvendar?
A Águas do Algarve celebra este ano 20 anos de atividade. É uma data marcante não apenas para nós, enquanto funcionários, mas também e principalmente para toda a região.
Congratulamo-nos pelo facto de termos alcançado uma imagem e uma reputação de excelência junto da comunidade, conseguida com o esforço e dedicação de todos os nossos colaboradores e fruto das melhores relações com os nossos stakeholders.
É uma data que não podemos, nem queremos, deixar de assinalar, junto de todos aqueles que fazem desta casa, um GRANDE Família. É uma celebração que a todos pertence e por isso iremos promover um conjunto diferenciado de iniciativas, para que tenham oportunidade de celebrar connosco esta importante data. Muito em breve avançaremos com novidades.