Um snack-bar de São Teotónio, no concelho de Odemira, está a trabalhar quase em exclusivo para alimentar os bombeiros que combatem o fogo que deflagrou no sábado no concelho, disse a proprietária, agradecendo a colaboração da população e voluntários.
Vânia Mateus, do snack-bar “O Sobreirinho”, disse à agência Lusa que, quando o fogo começou, no sábado, foi contactada pela coordenadora logística dos Bombeiros de Odemira e começou a trabalhar na preparação de refeições para os operacionais do dispositivo de combate ao fogo, que progrediu para os concelhos de Monchique e Aljezur, no distrito de Faro.
“Comecei a trabalhar com ela desde o início do incêndio e tivemos de fazer apelos de ajuda na segunda-feira, porque deixei de ter ‘plafond’ meu para dar resposta às necessidades”, afirmou Vânia Mateus, referindo-se aos pedidos de colaboração feitos pelas redes sociais e que geraram uma onda de solidariedade superior à que se podia esperar.
A mesma fonte disse que, após os pedidos de doação de alimentos, “vieram pessoas do concelho, do Algarve, de Lisboa, entregar alimentos”, foram abertos ‘plafonds’ no supermercado para comprar géneros alimentares para os bombeiros” e contou com o apoio “de muitas pessoas da freguesia e muita gente do Sobreirinho para fazer a comida”.
“Foram horas e horas a descascar cebolas, cenouras, a fazer sandes. Em 39 anos de vida, acho que nunca tinha feito tanta comida. Hoje sei que foram já perto de 600 refeições e são sempre 300, 500, e há mais gente aqui no concelho a fazer o mesmo”, contou, agradecendo a “ajuda que tem vindo de todo o lado, menos da Câmara, da Junta de Freguesia ou da Proteção Civil”.
Vânia Mateus, que ainda tem um snack-bar cheio de caixas de cartão para embalar as refeições, perdendo espaço para o seu negócio, disse que hoje apenas pôde fazer “seis ou sete refeições” para a caixa e espera agora, com o fogo já dominado, ir regressando à normalidade para poder retomar o trabalho habitual.
A generosidade das pessoas continua e os responsáveis do snack-bar já lançaram apelos nas redes sociais para não serem feitas mais doações, porque o que foi recebido já cobre as necessidades.
“Hoje de manhã já reforçámos a publicação a dizer que não precisamos de mais, mas as pessoas continuam a trazer, dizendo que é para os bombeiros”, referiu, frisando que teve de “montar uma cozinha no quintal para poder cozinhar tanta comida”.
Entre os voluntários que dão apoio à confeção de refeições está Sónia Saraiva, que criticou a falta de apoio e as condições em que têm estado a trabalhar e que podiam ser melhores noutro espaço, como a escola, “que tem agora as crianças de férias”.
“Então não era melhor estarmos num espaço em que pudéssemos ter uma linha de montagem? A escola está agora fechada e a cozinheira que lá trabalha tem estado aqui a ajudar. Ali faríamos tudo de seguida”, exemplificou.
Sónia Saraiva enalteceu a colaboração das pessoas e a resposta que deram aos apelos feitos na redes socais, destacando que, “num momento em que a carne acabou, fizemos um apelo e uma hora depois houve um rapaz que vinha da Jornada Mundial da Juventude e entrou aqui com 50 quilogramas de carne”.
“Fez um apelo e numa hora recebeu mil euros”, acrescentou, referindo-se ao montante que esse jovem conseguiu angariar em tão pouco tempo.
Tanto Vânia Mateus como Sónia Saraiva esperam que o fogo possa ser extinto, mas sabem que as marcas no território ainda vão ficar visíveis por um longo tempo, dada a voracidade do incêndio que lavrou ao longo de quatro dias e deixou amplas zonas de Odemira, Aljezur e Monchique afetadas.
Ao longo da Estrada Nacional 120, entre São Teotónio e Aljezur, os efeitos do fogo são claros, com áreas florestais ardidas e ainda fumegantes, em particular em redor de Odeceixe, onde tudo em volta ardeu e só as casas não foram afetadas.
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