O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) mostrou-se hoje surpreendido com a demissão do diretor do serviço de Cirurgia Geral do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), na quinta-feira, último dia de mandato do anterior Conselho de Administração.
“Surpreendeu-nos a todos, porque é precisamente numa altura em que se vão embora que tomam uma decisão que, na prática, não faz muito sentido que seja tomada por alguém que está no último dia e de saída”, disse à Lusa o secretário regional do Algarve do SIM, João Dias.
Segundo o médico, a decisão está relacionada com o facto de o ex-diretor de Cirurgia Martins dos Santos ter assumido o descontentamento da classe com a diferença de valores pagos pelo trabalho suplementar aos profissionais do hospital e aos contratados.
“[Martins dos Santos] Assumiu uma posição que é estar contra esta situação dos contratados – que é no fundo aquilo que todos nós nos queixamos a nível do país, que não faz sentido nenhum e é uma pouca vergonha – e, entretanto, como assume essa posição, cala-se as pessoas e resolve-se o problema”, lamentou.
De acordo com o dirigente sindical, os hospitais continuam a privilegiar o ‘outsourcing’, pagando “aos de fora três e quatro vezes mais” e, “se alguém levanta a voz ou se, pura e simplesmente, está contra, e toma posições contrárias, é demitido”.
“As pessoas se fazem urgências extra ou fora do seu horário devem ser pagas da mesma forma que pagam às pessoas que vêm de fora, caso contrário as pessoas não se disponibilizam”, referiu, considerando que a diferença no pagamento dessas horas está a provocar “a debandada” do Serviço Nacional de Saúde.
Questionada pela Lusa sobre a demissão, fonte do Centro Hospitalar Universitário do Algarve adiantou apenas que o centro “tem, desde a passada sexta-feira, um novo Conselho de Administração, que já se encontra a trabalhar no sentido de encontrar as melhores soluções para melhor servir os utentes”.
Num artigo de opinião publicado no sábado no ‘site’ do SIM, o ortopedista Jorge Salvador escreveu que a demissão de Martins dos Santos “devia no mínimo envergonhar quem a praticou pois revela-se fora de tempo e exímia de alguma cobardia”, colocando numa “situação menos confortável” o novo Conselho de Administração, “que vai ter de gerir” as consequências.
“Tem-se assistido nos últimos tempos a uma tentativa de amordaçar e fazer calar as vozes que de forma construtiva colocam em causa decisões políticas que na saúde prejudicam fortemente a região”, lê-se no artigo.
Antes de ser diretor do serviço de Cirurgia Geral, Martins dos Santos foi diretor do serviço de Urgência e presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve.
Em dezembro passado, os chefes de equipa de Cirurgia do Hospital de Faro manifestaram à anterior administração do CHUA a sua indisponibilidade para fazer urgências a partir de 1 de janeiro, reivindicando, entre outras, o pagamento idêntico ao dos chamados médicos tarefeiros.