“E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!”
Friedrich Nietzsche, Gaia Ciência
Imagine um mundo em que os funcionários em vez de quererem criar obstáculos para se sentirem poderosos – perpetuando a tirania dos pequenos poderes que exerciam ao dizer não -, descobriam o prazer do sim.
Visualize nas Finanças, na Segurança Social, no Instituto de Emprego, no Centro de Saúde, no Hospital, um destes agentes do sim, a sorrir para si, totalmente disposto a ajudar.
Conceba esta mudança radical de atitude do funcionariado público como uma das principais rampas de lançamento da nossa economia.
Será tudo isto ficção? Por enquanto, mas apenas por enquanto…
Se algum actual funcionários resolvesse metamorfosear-se em agente do sim verificaria que os utentes lhe teriam ficado muito gratos. Ser o recebedor da gratidão de outro não só não é hierarquicamente inferior ao poder de dizer não, mas tem a vantagem de ser muito mais prazenteiro.
As repartições públicas passariam a ser sítios cheios de positividade e alegria, por causa deste efeito colateral aberrante: ser facilitador do sucesso dos outros traz felicidade!
Se assim acontece na esfera pública, também na esfera privada enfrentar a adversidade de peito aberto e com um sorriso nos lábios traz muitas vantagens. Nietzsche (1844-1900) acreditava que a felicidade requer que uma pessoa ame a sua vida no exacto momento em que se encontra, com todos os seus altos e baixos. Considerava que a fórmula para a grandeza de qualquer ser humano consistia no amor fati (amar o destino). Não se vitimar devido à desgraça que lhe caiu em cima, mas amar esta oportunidade de crescimento.
Bjarke Ingels (1974-) o jovem arquitecto fundador do grupo BIG é autor do manifesto Yes is more onde se afirma que se o que nos define é sermos o oposto de um outro, então, estamos apenas a ser seguidores em sentido inverso! “Não será possível fazer as pessoas felizes sem nivelar por baixo? E realizarmos os nossos desejos sem passar por cima de ninguém?” Resolveu filosofar de forma tridimensional. Os seus edifícios põem em prática os novos conceitos filosóficos que propõe, tais como o Edonismo Sustentável ou o Periscópio Democrático. “Os arquitectos tornam-se os parteiros [em sentido socrático, claro!] de uma nova espécie de arquitectura moldada pela multiplicidade de interesses”. Sem tomar partidos, a arquitectura do sim cria uma realidade em que não é preciso escolher, torna-se inclusiva, contempla todas as vertentes do conflito e aumenta o nó górdio. Resultados? Uma fábrica de reciclagem de lixo que é também uma estação de ski e cujo insipiente dióxido de carbono que cria é transformado em fumo artístico; um palácio governamental transparente onde o cidadão comum pode ver se, de facto, aqueles que elegeu para o representar dormem a sesta ou trabalham; uma sala de parlamento com um periscópio gigante que faz com que os políticos não possam deixar de ver a cidade e as gentes sobre a qual tomam decisões, e muito, muito mais…
Não é ficção científica. Tudo isto já existe num “pequeno” país europeu chamado Dinamarca. E se nós, portugueses, experimentássemos dizer sim?
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