O navio “Ocean Viking”, da organização não-governamental (ONG) SOS Méditerranée, declarou hoje o estado de emergência a bordo, reforçando os pedidos de um porto seguro para o desembarque de 180 migrantes resgatados, que manifestam atualmente elevados níveis de ansiedade.
Alguns destes migrantes estão a bordo do navio humanitário da ONG francesa há uma semana a aguardar, em pleno Mediterrâneo, uma autorização para desembarcar num porto europeu seguro.
Na quinta-feira, vários migrantes ameaçaram lançar-se ao mar por falta de autorização de desembarque, sendo que dois chegaram a concretizar a ameaça e tentaram nadar até às costas europeias. Foram imediatamente socorridos.
Outros três migrantes também tentaram saltar, mas foram impedidos a tempo.
Num comunicado, a ONG SOS Mediterranée explicou que “a situação a bordo está a deteriorar-se, ao ponto da segurança dos 180 resgatados e da tripulação a bordo não estar garantida”, reiterando o pedido aos países da União Europeia (UE) para que permitam e autorizem o desembarque destas pessoas.
O navio humanitário resgatou estas 180 pessoas em quatro operações na rota migratória do Mediterrâneo Central, que sai da Argélia, Tunísia e Líbia em direção à Itália e a Malta.
A embarcação efetuou seis pedidos às autoridades de Itália e de Malta para atracar nos respetivos portos, mas a ONG francesa assegura que as respostas foram negativas e não foram apresentadas possíveis soluções.
Entre os migrantes resgatados estão 25 menores, dos quais 17 estão desacompanhados, e uma mulher grávida de cinco meses.
Hoje, a SOS Mediterranée pediu às autoridades italianas e maltesas que autorizassem a retirada urgente de um grupo de 44 migrantes, relatando que estas pessoas “encontram-se num estado de angústia mental agudo, expressando a intenção de infligir danos a si próprias e em outros, incluindo a membros da tripulação, manifestando ideias suicidas”,
Até ao momento, e de acordo com a ONG, nenhum dos dois países respondeu a este pedido específico.
A SOS Mediterranée relatou hoje que um migrante tentou enforcar-se a bordo do navio.
A ONG francesa reforçou que os migrantes resgatados “mostram sinais de extrema fadiga mental, depressão e agitação profunda”, denunciando que esta tensão já originou “várias rixas entre os sobreviventes” e “ameaças de violência física”, incluindo contra a tripulação.
Perante tal situação, a organização reiterou os apelos “a todos os Estados-membros da UE” para que cheguem a um acordo e ofereçam uma “solução para os 180 migrantes a bordo do ‘Ocean Viking'”.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) recordou recentemente que, e apesar da ameaça da pandemia da doença covid-19 e dos consequentes constrangimentos, o fluxo migratório (as travessias de migrantes irregulares) nas várias rotas do Mediterrâneo, nomeadamente no Mediterrâneo Central, acabou por nunca parar e continua constante.