As novas regras ainda não entraram em vigor mas já surtiram efeito: quer a restauração, quer a hotelaria já tiveram cancelamentos de reservas. A partir de sábado, para entrar nestes estabelecimentos, é preciso apresentar o certificado digital ou um teste negativo à covid-19 que pode ser feito sem custos em 146 farmácias portuguesas. Apesar das dúvidas e inexperiência, os estabelecimentos adaptam-se para tentar cumprir as novas orientações. O Expresso falou com um restaurante, um hotel e uma farmácia para perceber como é que estão a ser preparadas as medidas anunciadas pelo Governo na quinta-feira.
“Em primeiro lugar, ligámos a todas as nossas reservas para informar o que vai suceder. Alguns decidiram cancelar, outros vêm na mesma porque já têm a vacinação completa e por isso têm o certificado digital no telemóvel”. A Cervejaria Brasão, que conta com três restaurantes no Porto, além de aceitar os testes PCR e de antigénio feitos em laboratórios e os testes feitos na farmácia, vai também vender autotestes à covid-19 no próprio restaurante.
O teste vendido no estabelecimento é pré-pago: “os clientes compram, primeiro, o teste e depois fazem-no à porta do restaurante (não temos um sítio, tem de ser lá fora)”, explica uma das responsáveis ao Expresso. Os clientes aguardam então pelo resultado e, caso dê negativo, entram e apresentam-no.
Já o hotel Pestana de Vilamoura, no Algarve, vai ter um espaço específico para a realização dos autotestes: “Há uma salinha onde os clientes, se quiserem, podem fazer o teste que compraram na farmácia a si próprios”. Se o resultado der positivo ou inconclusivo não é possível fazer o check-in e, neste caso, ninguém da família vai poder entrar, apesar de se tratar de apenas uma pessoa, esclarece uma profissional do grupo Pestana, com mais de 90 unidades em Portugal e no estrangeiro. “Até agora, são mesmo as indicações que temos”, acrescenta.
A alternativa ao teste à covid-19 é apresentar, na altura do check-in, o certificado digital de vacinação (com as duas doses tomadas há mais de duas semanas) ou de recuperação (que prova que a pessoa já teve covid-19 e recuperou da doença). As crianças até aos 12 anos estão isentas, não precisam de mostrar nada.
A Farmácia do Lago, em Lisboa, confirma que tem tido muita procura por testes rápidos de antigénio. “É absurdo, não fazemos mais nada praticamente senão isto. Tivemos um dia com 600 chamadas em quatro telemóveis, tem sido incomportável”, conta um farmacêutico. A situação não deve melhorar porque a partir de agora a expetativa é de ainda mais procura, estima.
Os testes rápidos que podem ser apresentados na restauração e turismo têm de ser feitos na presença de um profissional de saúde ou da área farmacêutica que certifique a sua realização e o seu resultado. Como é que isto vai funcionar, na prática, na farmácia? “Ainda não sabemos como vamos fazer. Soubemos ontem”, responde o profissional, que lamenta a “zero preparação” para o aumento da procura. “As farmácias foram apanhadas completamente desprevenidas e têm de se desenrascar”, queixa-se.
REGRA VAI TER UM “IMPACTO NEGATIVO” PARA OS SETORES
A PRO.VAR — Associação Nacional de Restaurantes — antecipa uma “grande quebra na faturação” e por isso já veio pedir, em comunicado, a suspensão “de imediato” da nova regra aplicada nos restaurantes à sexta-feira a partir das 19h00, fins de semana e feriados, para refeições no interior. Esta restrição, recorde-se, aplica-se apenas aos concelhos de risco elevado e muito elevado. A exigência de teste negativo ou certificado digital é transversal a todo o país no caso da hotelaria.
Os dois estabelecimentos ouvidos pelo Expresso preveem um “impacto negativo” para ambos os setores. “Vai prejudicar a restauração, claramente. Hoje já começámos a sentir a quebra e ainda nem se aplicam as regras”, constata a Cervejaria Brasão, que lamenta também o encerramento às 22h30: “Isto é uma bola de neve”.
O hotel Pestana em Vilamoura diz que já teve pedidos de cancelamento de reservas e estima mais, uma vez que nem toda a gente tem a vacina ou o certificado digital e nem toda a gente quer fazer o teste. Apesar da “pouca antecipação” e da inexperiência, o hotel considera estar preparado para o que aí vem.