A saúde ocular tem vindo a ser desafiada, desde a era digital, pela intensidade de atividades diárias que tinham peso relativo ou diminuto no passado: já víamos televisão, já conduzíamos de noite, mas não líamos com regularidade um livro no ecrã nem tínhamos a intensidade do teletrabalho. Isto para dizer que a doença do olho seco tem que ser encarada com o melhor respeito, está a crescer devido a razões multifatoriais: a mudança climática, o envelhecimento, a multiplicidade de ecrãs. Recorde-se que os olhos se hidratam naturalmente quando se pestaneja e o uso dos ecrãs fixa o olhar, o que contribui para que as pessoas pestanejem menos ou que façam um pestanejo incompleto ou aumentando a abertura palpebral, tudo conjugado temos a secura ocular, o mesmo é dizer a diminuição da qualidade de visão.
Os sintomas mais frequentes são a sensação de corpo estranho ou “areia nos olhos”, ardor, irritação, lacrimejo acentuado, sensibilidade acrescida à luz solar, visão enevoada com sensação de corpos flutuantes e até mesmo intolerância às lentes de contato. É bastante comum verificar-se um agravamento dos sintomas ao fim do dia. Convém ter em conta que certas doenças e afeções podem estar associadas a manifestações de olho seco – é o caso da inflamação das pálpebras, da rosácea, do lúpus, da artrite reumatoide, da diabetes, de perturbações da tiroide, da deficiência da Vitamina A, entre outras.
Por onde passa a prevenção? Fugir de atmosferas persistentes de fumo de cigarro e outras formas de poluição atmosférica, controlar o sistema de aquecimento no trabalho e em casa, o ar condicionado e os monitores do computador, cada um a seu modo pode aumentar a evaporação da componente aquosa das lágrimas. Ter igualmente em conta que a secura ocular pode aparecer associada ao processo natural do envelhecimento: aos 65 anos a produção das lágrimas é cerca de 40% daquela que é produzida aos 18. E atenção, a secura ocular pode também aparecer como efeito adverso de alguns medicamentos, caso dos anti-histamínicos e dos antidepressivos, contracetivos, certos analgésicos, diuréticos e medicamentos usados no tratamento da hipertensão arterial e ocular. Considera-se que a utilização prolongada de lentes de contato é também suscetível de provocar o olho seco.
O aconselhamento farmacêutico revela-se muito importante, este profissional de saúde pode ajudar a avaliar os fatores de risco: mulheres na menopausa, o fator do envelhecimento, as doenças, as cirurgias prévias, o uso de lentes de contato, o ambiente em que vive e trabalha o doente que o consulta. Nos casos de secura ocular leve e moderada, ele pode dispensar medicamentos oftálmicos, promover o uso correto de colírios, geles e pomadas. O tratamento de primeira linha são os lubrificantes tópicos, as lágrimas artificiais. É nessa conversa que o farmacêutico pode apurar se o doente está a ter alteração de visão, dor no olho, fotofobia não transitória – nesse caso, impõe-se com urgência uma visita ao oftalmologista.
O doente deve pedir sempre para lhe explicarem a técnica correta de aplicação de colírios, geles e pomadas oftálmicas. É um assunto mais importante do que pode pensar: a gota não cai de cima, deve aplicar-se junto ao olho, sem que lhe toque, entrando numa bolsa que é formada pela pálpebra inferior junto do canto interior do olho com a ajuda do dedo indicador, mantendo depois o olho fechado durante algum tempo.