Os piores efeitos da pandemia podem ainda não ter acabado, e à medida que cada vez mais pessoas tendem a socializar mais em restaurantes, bares e cinemas, em vez de parques abertos ou jardins, e o clima fica mais frio, agravam-se os riscos de aumento nas taxas de transmissão da covid-19 – alertaram epidemiologistas britânicos em artigo publicado este domingo no jornal “The Guardian”.
O teletrabalho também tende a reduzir, com os funcionários a serem incentivados pelas empresas a voltarem presencialmente ao local de trabalho, o que previsivelmente aumentará o risco de infeções, apontaram ainda os especialistas.
Apesar das campanhas de vacinação contra a covid-19, permanece o perigo de surgir nos próximos meses uma nova variante do vírus que seja ainda mais contagiosa ou capaz de resistir à proteção fornecida por vacinas. “É uma perspetiva real”, apontou Martin Hibberd, professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (London School of Hygiene and Tropical Medicine).
Após um ritmo intenso nas campanhas de vacinação, o foco da sociedade está agora no desconfinamento das atividades, esquecendo o risco de uma quarta vaga. Os epidemiologistas britânicos apontam que o Reino Unido está a entrar no inverno com o número de casos de covid-19 ainda preocupantemente alto (cerca de 35 mil por dia), ao mesmo tempo que o esforço de vacinação no país parece ter parado.
“Precisamos de terminar o trabalho e dar o máximo de doses de vacina. Infelizmente, nosso programa de vacinação estagnou e as taxas estão a cair para menos de 100.000 doses por dia – abaixo de muitos outros países, sobretudo na Europa. Receio que agora estejamos a acumular problemas para o futuro”, indicou Mark Woolhouse, professor da Universidade de Edimburgo.
MAIS CONTACTOS, MAIS OPORTUNIDADES PARA A PROPAGAÇÃO DO VÍRUS
As pessoas estão a limitar os contactos, “que são cerca de dois terços do que eram antes do início da pandemia, e isso está a ajudar a manter baixas as taxas de transmissão viral”, reconhece Mark Woolhouse.
“Porém, à medida que voltamos cada vez mais à normalidade, esses contactos voltarão a níveis mais elevados, o que criará mais oportunidades para o vírus ser transmitido”, advertiu.
“No inverno, os casos de doenças respiratórias aumentam e precisamos de ter o maior número possível de vacinações para evitar que esse aumento se torne um problema real”, advertiu por seu turno Martin Hibberd, lembrando que no caso do Reino Unido não há sinais de haver programas de vacinação nas escolas. Para aquele professor, tal representa “uma oportunidade perdida”: “precisamos vacinar o maior número possível de alunos antes de novembro, mas parece que isso não não está a acontecer e é definitivamente algo que nos deve preocupar”.
O epidemiologista da Universidade de Edimburgo aponta ser “improvável que algumas das piores previsões feitas no verão sobre a evolução da pandemia no outono e no inverno se concretizem, e portanto há alguns motivos para otimismo. No entanto, ficaria muito mais confortável se agíssemos para que o número de casos possa cair num futuro próximo”.
Também o especialista da Escola de Medicina Tropical de Londres alertou que apesar de não se ter verificado uma variante do vírus pior que a Delta, é preciso estar-se ciente “de que uma nova estirpe séria pode aparecer, e ficar de olho para a identificar o mais rápido possível”.
Notícia exclusiva do parceiro do jornal Postal do Algarve: Expresso