Os membros da comissão política concelhia socialista de Vila do Bispo demitiram-se em bloco, por “discordarem da imposição” da comissão nacional na escolha do candidato autárquico, disse esta quarta-feira o presidente demissionário da concelhia do PS.
À agência Lusa, Nuno Amado, presidente demissionário da comissão política de Vila do bispo, disse que “a demissão vem na sequência da decisão da estrutura nacional do partido em impor Adelino Soares como candidato às próximas eleições autárquicas, depois de inicialmente ter dado indicações à estrutura local para liderar o processo”.
Nuno Amado acrescentou que a demissão dos 24 elementos da comissão política local “cria um vazio em todas as instituições públicas municipais, porque passam a independentes e deixam o PS sem representantes nas juntas de freguesia de Budens, Vila do Bispo e Raposeira, perdendo a maioria na Câmara Municipal e ficando praticamente sem membros na Assembleia Municipal.
Em 2014, o PS local retirou a confiança política ao actual presidente da Câmara, Adelino Soares, alegando que a conduta de governação seguida pelo autarca era contrária aos pressupostos que levaram à sua escolha nas autárquicas de 2013 e “desrespeitadora dos compromissos assumidos junto das populações”.
De acordo com o presidente demissionário, o partido “veio agora, ao arrepio dos estatutos, dar o dito por não dito, quando, anteriormente, através da coordenadora autárquica nacional e do presidente do PS/Algarve, comunicou que seria a estrutura local a escolher a equipa” para concorrer às próximas eleições autárquicas.
“Sem que nada o fizesse prever, o PS nacional voltou atrás na sua decisão e informou que ter-se-ia que fazer algum tipo de acordo com o actual presidente da Câmara, pois este seria o indicado como candidato do PS, evocando a moção aprovada em congresso que aponta para a recandidatura dos actuais presidentes de câmara”, sublinhou à Lusa.
Nuno Amado assegurou que os socialistas de Vila do Bispo “não se reveem nas práticas centralistas” da direcção nacional do partido, ao entender que a escolha de candidatos se faz com base na antiguidade, “em vez de se fazer com o critério da competência, cumprimento das promessas eleitorais ou aceitação pública”.
“É por este tipo de situações que, cada vez mais, temos os cidadãos a afastar-se da política e a desconfiar dos partidos”, destacou o presidente demissionário, acrescentando que “perante tamanha falta de respeito pelos militantes de base, violação dos estatutos e falta de critério na escolha de candidatos, não restava outra opção que não fosse a demissão dos membros da comissão política local”.
Nuno Amado disse ainda que a maioria dos 90 militantes socialistas de Vila do Bispo manifestou a intenção de “acompanhar os membros da comissão política e avançarem com o pedido de desfiliação do PS”.
“Cerca de 70 por cento dos militantes manifestaram-se solidários com a posição da comissão política e com a intenção de se desfiliarem do partido”, indicou Nuno Amado.
Para o presidente do PS/Vila do Bispo, o afastamento do partido “é um grito de revolta e de protesto contra a forma de atuar do poder absoluto do secretário-geral do PS”.
Nuno Amado admitiu à Lusa que está a ser equacionada a criação de um movimento cívico com todos os “descontentes e que entraram em ruptura com o PS” para concorrer às próximas eleições autárquicas em Vila do Bispo.