Se forem confirmados pelo Senado, vários dos nomeados pelo presidente eleito Donald Trump para o seu governo representam perigos para a Saúde e Segurança dos Estados Unidos, devido à falta de formação, experiência e promessas alarmantes, disseram à Lusa analistas políticos.
“Trump quer nomear pessoas na base da lealdade e de poderem abalar os sistemas, mas o que está a fazer é a nomear pessoas que não são qualificadas e que não têm qualquer experiência a gerir os vastos departamentos de que serão encarregados”, defendeu o cientista político Thomas Holyoke, professor na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno.
“Dizer que algumas destas pessoas não têm qualificações é um eufemismo”, continuou, apontando para Robert F. Kennedy Jr. nos Serviços de Saúde e Humanos, Tulsi Gabbard na direção da Inteligência Nacional e Pete Hegseth como secretário da Defesa, além de Matt Gaetz, cuja nomeação para procurador-geral foi tão controversa que este acabou por se retirar de consideração.
“Em grande parte, parece que foram buscar o carro dos palhaços”, opinou.
Holyoke considera que a nomeação de RFK Jr. é a mais perigosa, uma vez que colocará à frente dos serviços de saúde um advogado radicalmente anti-vacinas que quer suspender a investigação sobre o cancro e doenças infecciosas e eliminar várias agências.
“Se ele tentar realmente cancelar o apoio federal ao desenvolvimento de vacinas, é um perigo para o interesse público. As vacinas salvam muitas vidas”, apontou. “Também quer retirar o flúor da água, algo que sabemos que ajuda a saúde oral das pessoas”.
Sobre Tulsi Gabbard, o analista referiu que paira suspeição devido à proximidade da ex-democrata a ditadores, como Bashar al-Assad da Síria e Vladimir Putin da Rússia.
“Se houver qualquer fundamento nisso, ela deve absolutamente ser desqualificada”, salientou. “Não faz sentido colocar à frente do aparelho de inteligência dos Estados Unidos alguém que está ligada às pessoas que estamos a tentar espiar”.
Com estas e outras nomeações polémicas, está em dúvida a disponibilidade do Senado, que será controlado pelos republicanos, para confirmar os candidatos escolhidos por Trump.
Para a cientista política Daniela Melo, a retirada de Matt Gaetz é um aviso de que o Senado não está disposto simplesmente a carimbar as escolhas e Trump terá mais dificuldade que o esperado em constituir o governo que deseja.
“Tornou-se absolutamente óbvio que ele não tinha votos suficientes da bancada republicana”, disse à Lusa a professora da Universidade de Boston. “É uma sinalização forte do Senado de que há nomeados que são inaceitáveis e que não estão dispostos a abdicar das funções do Senado de avaliar os nomeados”.
Com a saída de Gaetz, disse Melo, a nomeação de Tulsi Gabbard também deve estar em risco.
A analista antecipa um braço de ferro entre o novo líder do Senado, John Thune, e o presidente eleito Donald Trump, que tem falado publicamente de querer obrigar o Senado a suspender a sessão legislativa para fazer confirmações diretas.
“Há uma tendência que é absolutamente iliberal de Trump, isso está patente”, apontou a especialista. “Estamos aqui a ver uma manobra ‘a la’ Hungria, em que há uma intimidação ou aviso, um torcer do braço a todos os que fazem parte da bancada republicana para que eles entrem na linha”.
Thomas Holyoke considera “altamente improvável” que o Senado aceite essa imposição, mas nota que Trump está muito empenhado em conseguir os seus nomeados e não é conhecido por desistir de desafios.
“Isto coloca os republicanos numa posição terrível. Se cederem, são vistos como covardes obsequiosos e invertebrados; se resistirem, estarão a entrar numa luta com o líder do seu partido”, disse o professor. “É uma situação em que perdem sempre, especialmente para o senador Thune”.
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