Espanha tem eleições dentro de uma semana com quatro partidos com pretensão de chegar ao Governo, menos do que nas legislativas anteriores por causa do desaparecimento do Cidadãos e da união da extrema-esquerda na plataforma Somar.
O partido liberal de centro-direita Cidadãos, que tinha dez deputados, não apresentou listas este ano, após uma sucessão de derrotas que ditaram o seu quase desaparecimento de parlamentos regionais e autarquias.
Crescimento do Partido Popular
O desaparecimento do Cidadãos é uma das razões para o crescimento do Partido Popular (PP, direita), que deverá absorver os votos de quem antes escolheu os liberais, segundo os estudos e sondagens.
Do outro lado, o Podemos, que tinha a hegemonia do espaço à esquerda do partido socialista (PSOE) e que estava na coligação do atual Governo, teve uma derrota considerada desastrosa nas últimas eleições locais e regionais, em maio, e acabou por ser absorvido, num papel secundário, pela plataforma Somar, que conseguiu reunir 15 forças de extrema-esquerda para uma candidatura conjunta nas legislativas de 23 de julho.
Sondagens dão a vitória ao PP sem maioria absoluta
Nestas eleições em Espanha haverá assim menor dispersão de voto tanto à esquerda como à direita.
As sondagens dão a vitória ao PP sem maioria absoluta, que poderia conseguir com uma coligação com o partido de extrema-direita VOX, como já aconteceu em três governos regionais.
O PSOE será o segundo mais votado, dizem as sondagens, que se dividem quanto ao terceiro lugar (VOX ou Somar), determinante para a formação de coligações de governo.
Se não houver maioria absoluta entre PP e VOX ou entre PSOE e Somar, a chave do governo voltará a estar em partidos mais pequenos de âmbito regional, incluindo independentistas da Catalunha e do País Basco, que viabilizaram com a abstenção no parlamento a tomada de posse da atual coligação de esquerda e extrema-esquerda.
Estes são os pontos mais mediáticos dos programas dos quatro partidos que podem entrar no próximo Governo de Espanha (PP, PSOE, Somar e VOX):
PP – eleições em Espanha
“Revogar o Sanchismo” é a principal mensagem da campanha do PP e refere-se à política do primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez, marcada, no entender dos populares, por concessões à extrema-esquerda mais radical e aos separatistas que acabaram por dividir e crispar os espanhóis nos últimos quatro anos.
No programa do PP, a “revogação do Sanchismo” traduz-se, por exemplo, na recuperação do crime de sedição abolido no início deste ano e pelo qual foram condenados ou de que estavam acusados protagonistas da tentativa de independência da Catalunha em 2017, como o ex-presidente da região Carles Puigdemont.
No mesmo sentido, o PP quer revogar a lei da eutanásia, rever a do aborto e revogar e substituir a designada “lei trans”, que permite a mudança de género no registo civil sem relatórios médicos a partir dos 12 anos.
Ainda para “revogar o Sanchismo”, o PP propõe medidas para dar maior independência em relação ao poder político a instituições do Estado como os conselhos do poder judicial, o Tribunal Constitucional ou o Ministério Público, revogar e substituir a “lei de Memória Democrática”, relacionada com a reparação de vítimas da ditadura franquista e da guerra civil de 1936-39, e acabar com o designado “imposto sobre as grandes fortunas”.
PSOE – eleições em Espanha
Os socialistas têm focado a campanha na ameaça da entrada da extrema-direita no Governo, que dizem que seria a passagem para “um túnel obscuro do tempo”, com retrocessos de décadas em direitos, liberdades e apoios sociais, como já mostram os acordos entre PP e VOX em regiões autónomas e municípios.
O programa e a campanha do PSOE têm como lema “em frente” e as propostas socialistas passam por aquilo que o partido diz ser um objetivo de consolidação e aprofundamento das políticas da legislatura que agora termina, o que se traduz, por exemplo, na valorização do salário mínimo, mais apoios à classe média e grupos desfavorecidos ou medidas relacionadas com a transição energética e digital, no quadro da luta contra as alterações climáticas.
O PSOE promete, por exemplo, alargamento da isenção de propinas no ensino superior, mais transportes públicos gratuitos, novos apoios ao pagamento de hipotecas e a construção de milhares de casas pelo Estado com vista ao arrendamento, para tentar tornar mais fácil o acesso à habitação.
SOMAR – eleições em Espanha
O Somar, liderado pela atual ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, centra-se em apoios sociais, políticas de habitação e redistribuição da riqueza (tornando, por exemplo, permanentes os impostos extraordinários em vigor sobre as empresas da energia e os bancos), a par de medidas para promover e preservar a multiculturalidade espanhola e combater “os discursos de ódio”.
Entre as propostas mais polémicas do Somar está uma relacionada com a Catalunha, que prevê “submeter a votação” um acordo “saído da negociação” entre governo central e regional, o que é interpretado como a admissão de um referendo sobre a independência.
VOX – eleições em Espanha
O VOX tem um programa alinhado com as ideias habituais da extrema-direita, consideradas securitárias, anti-União Europeia, negacionistas das alterações climáticas, anti-imigração, xenófobas e discriminatórias de grupos sociais, a que junta propostas sobre a organização do Estado espanhol que passam pela eliminação das autonomias e o regresso a um país centralizado, tal como existia antes da democracia.
Do programa do VOX consta assim, por exemplo, a revogação da lei espanhola das alterações climáticas, a saída de “todos os acordos lesivos da soberania energética de Espanha”, a expulsão imediata de todas as pessoas que acedam a território espanhol de forma considerada ilegal ou a revogação da lei da violência de género por “consagrar a assimetria penal e a desigualdade entre homens e mulheres”, assim como acabar com a legislação do aborto, da eutanásia e dos transexuais.
O partido quer também ilegalizar os partidos independentistas, acabar com as televisões regionais e impor o castelhano como idioma único de ensino em todo o país.