Os franco-portugueses em França temem que “o caos” se instale no país caso Marine Le Pen ganhe as eleições presidenciais, havendo partidários de Emmanuel Macron que estão “preocupados” com a situação e outros pensam não votar na segunda volta.
“O caos de Marine Le Pen é como uma prenda de Natal. O embrulho é muito lindo, mas não sabemos o que está lá dentro. Só que isto não é uma prenda, não é Natal e não se pode voltar atrás numa eleição quando nos apercebemos que não era aquilo que queríamos”, disse Paulo Marques, autarca da cidade de Aulnay-sous-Bois que presidiu ao comité de portugueses que apoiou a candidata Valérie Pécresse na primeira volta das eleições, em declarações à agência Lusa.
Para este autarca franco-português, a derrota da sua candidata “não foi fácil”, mas agora que Emmanuel Macron vai defrontar Marine Le Pen na segunda volta das eleições presidenciais francesas, Paulo Marques considera que os eleitores de direita vão, “com sentido de responsabilidade”, manter a vontade de Pécresse que pediu aos seus apoiantes para não votarem na extrema-direita. No entanto, isso não chegará para Emmanuel Macron ganhar.
“Não pode haver muitos votos de Valérie Pécresse porque ela não fez 5%. Se ele conseguir 2%, ou seja, um milhão e tal de eleitores, é muito pouco e é por isso que Emmanuel Macron está a tentar conquistar os votos de Marine Le Pen e, por sua vez, ela quer os votos de Jean-Luc Mélenchon”, explicou.
Tendo conseguido 28% dos votos nas urnas na primeira volta, Emmanuel Macron tenta agora conquistar terreno, acelerando a campanha eleitoral e percorrendo a França para explicar o seu programa, mas resta pouco tempo para a votação final.
“Foi um resultado bom, no sentido que teve mais votos do que em 2017, mas não podemos ficar satisfeitos porque temos visto a insatisfação das pessoas e muitos votos de protesto. Os eleitores são seduzidos por promessas ilusórias e é complicado combater as falsas ideias. Estou muito preocupada”, alertou Rosa André, franco-portuguesa e conselheira municipal em Saint-Germain-en-Laye pelo partido República em Marche que apoia o Presidente.
Vitor Costa, que integrou a Convenção pelo Clima que estabeleceu prioridades cidadãs para o ambiente em França, chegou a concorrer às eleições municipais em Yvonne, na Borgonha, pelos Verdes, mas votou Jean-Luc Mélenchon nas presidenciais, declarando que não vai votar na segunda volta.
“Na primeira volta, votei Jean-Luc Melénchon porque é o que me pareceu ter melhores ideias para as pensões e também para a ecologia. Era a pessoa de esquerda com maior probabilidade de chegar à segunda volta. Agora não vou votar, não me interessa nem um nem outro. Para o ambiente qualquer um dos dois é o pior que podia acontecer”, declarou.
Tal como Vitor Costa, tanto o campo de Emmanuel Macron como Marine Le Pen temem que haja uma grande abstenção na segunda volta, o que vai perturbar as sondagens que dão atualmente vantagem ao Presidente, com cerca de 53,5% dos votos.
Vitor Costa chegou mesmo a ser convidado para concorrer às legislativas que se realizam em junho, mas diz não estar de acordo com os ecologistas.
“Acho que eles acabam por fazer mal à causa ambiental porque são ideias muito radicais. São contra a caça, eu sei que as leis da caça têm de ter uma evolução, mas eu próprio sou caçador ocasional e não se pode proibir, deve haver um debate”, defendeu.
O debate nacional centra-se agora no poder de compra, com o custo de vida dos franceses a aumentar diariamente impulsionado pelo aumento dos preços da energia. Um tema que acaba por esconder a extremização política no programa de Marine Le Pen.
“Marine Le Pen quer retirar da Constituição os direitos humanos de todos nós, a igualdade. Os autarcas portugueses em França seriam proscritos por Marine Le Pen por darmos relevância às nossas origens portuguesas”, sublinhou Paulo Marques, que lidera a associação CÍVICA, que agrupa todos os eleitos locais de origem portuguesa em França.
Até dia 24 de abril, os dois candidatos estão na estrada para convencer os franceses indecisos e, no dia 20 de abril, vão protagonizar o único debate desta segunda volta das eleições, um dos momentos fulcrais desta segunda volta.
“Tivemos uma campanha encurtada pelos eventos internacionais, o Presidente não pode fazer campanha na primeira volta e isso impediu que ele tivesse uma boa comunicação com os eleitores. Quero vê-lo agora combativo, como ele é sempre, no debate e quero que ele explique as suas medidas aos franceses”, concluiu Rosa André.