Manter a maioria das câmaras no Algarve e a presidência da AMAL são os grandes objetivos eleitorais do PS. O líder dos socialistas, Luís Graça, aponta para o futuro e avança com projetos que têm sido adiados durante anos consecutivos: o Hospital Central, a ponte de Alcoutim e a eletrificação da linha do Algarve, são alguns exemplos. E considera urgente a diversificação da base produtiva, reduzindo a dependência da monocultura do turismo.
P – Quais são as expectativas do PS para as próximas eleições autárquicas, sabendo que em 2017 conquistou dez das 16 câmaras existentes no Algarve?
R – O nosso objetivo é manter a liderança da Associação de Municípios do Algarve onde, primeiro com o presidente Jorge Botelho e agora com o presidente António Pina, temos procurado desenvolver pensamento, políticas e projetos de âmbito regional, de que são exemplo a Autoridade Intermunicipal de Transportes, que permitiu em parceria com o Governo reduzir em 50% o custo dos transportes públicos, rodoviário e ferroviário ou mais recentemente o desenvolvimento com a Universidade do Algarve e a CCDR de um plano estratégico de investimentos para a região, tendo em conta o novo quadro financeiro da União Europeia, o Plano de Resiliência e Recuperação e os 300 milhões de euros extraordinários e supletivos que o primeiro-ministro, António Costa, assegurou junto da Comissão Europeia para a diversificação da base económica do Algarve.
P – Manter o número de dez municípios pode ser considerado um bom resultado ou esperam aumentar o número de conquistas?
R – Enquanto algarvio, considero fundamental para a consolidação do processo de descentralização, que desejamos culmine na criação das regiões administrativas, que o PS continue a ser no Algarve a força política com mais câmaras, assembleias municipais e freguesias.
P – A Câmara de Lagoa, em resultado da candidatura do ex-presidente socialista, Francisco Martins, pode ser um caso problemático? Onde pensam poder compensar? Monchique, por exemplo?
R – A nossa expectativa, com toda a humildade, é vencer as eleições. O presidente Luís Encarnação que ficou a dirigir a autarquia, no meio de uma pandemia, quando o ex-presidente da câmara decidiu abandonar Lagoa aceitando um lugar de nomeação política em Lisboa, tem sido um exemplo pelo rigor e competência que implementou na gestão da autarquia. Em relação a Monchique não escondo que esperamos ter a oportunidade de voltar a gerir a câmara municipal até porque o concelho divergiu das prioridades regionais desaproveitando fundos comunitários disponíveis, por exemplo, nas escolas e educação. Monchique precisa de mais trabalho e menos Facebook e o Paulo Alves e a sua equipa têm as pessoas, e não as redes sociais, como prioridade.
P – Albufeira é uma câmara de onde o PS está afastado há mais de anos. É desta vez?
R – A gestão do PSD tem ao longo destes vinte anos perdido fulgor. A Câmara de Albufeira, que tem um dos maiores orçamentos do país, arrasta-se, os problemas acumulam-se. O tempo não perdoa e o PSD, o formal e o informal estão cansados. Veja-se que mesmo do ponto de vista turístico não têm capacidade para ser novidade, para liderar e do ponto de vista social não apresentam soluções. Como é que se explica que uma das câmaras mais ricas de Portugal não construa habitação para as famílias trabalhadoras? Albufeira precisa de um novo impulso, de uma nova energia e de novos protagonistas.
P – E Tavira? O PS vai resistir ao ataque de Macário Correia e do PSD?
R – A sua pergunta é bastante curiosa porque Macário Correia não é candidato à Câmara Municipal de Tavira. O Partido Socialista tem em Tavira uma ligação muito forte e próxima dos tavirenses. A presidente Ana Paula Martins foi o esteio do rigor, da eficiência e da transparência das contas da câmara ao longo dos 10 anos do presidente Jorge Botelho. Nestes últimos dois anos, em que assumiu a liderança da câmara já mostrou a força das suas convicções, quando obrigou o Governo a comprometer-se com um projeto de salvaguarda da antiga estação agrária, com a Estratégia Municipal de Habitação ou quando persistiu na execução da nova ponte do Gilão, obra assinada pelo eng. Appleton, um dos maiores especialistas deste tipo de estruturas em Portugal e na Europa e que o PSD fez tudo para impedir que fosse concluída. Sublinho, Tavira com a presidente Ana Paula Martins foi considerado um dos 10 municípios mais bem geridos em Portugal.
Até 2027 o Algarve vai gerir diretamente mais de 700 milhões de euros, o dobro do que tem atualmente
P – Na capital de distrito, o PSD vem dominando a câmara há 16 anos seguidos. O que é que tem faltado ao PS para estar há tantos anos afastado da praça mais importante do Algarve?
R – O PS tem tido sempre a ambição de vencer Faro. E volta agora a ter essa ambição, direi até, reforçada. Desde logo porque sinto uma absoluta união em torno dos nossos candidatos e existe hoje em Faro um desejo de mudança. Reconheço que as nossas dificuldades eleitorais começavam muitas vezes dentro da própria estrutura do PS local, demasiado fragmentada por lutas internas e vaidades pessoais. Eu defendi junto da direção nacional do PS a escolha do João Marques para ser o candidato à Câmara de Faro e quando ele, num segundo momento, disse que a sua candidatura à câmara dependia de o Luís Coelho ser o seu candidato à assembleia municipal fui o primeiro, apesar de ser o atual presidente da assembleia e por isso o candidato natural, a dizer que abdicava de ser candidato nas próximas eleições autárquicas em nome da unidade do PS. A federação e a direcção nacional do PS criaram todas as condições para a vitória eleitoral em Faro.
P – Há alguma particularidade que distinga uma gestão socialista de uma gestão do PSD? Há uma marca ideológica na gestão do poder local?
R – Quando olhamos para o desafio que o Governo lançou aos municípios para a construção de uma rede de habitação pública acessível aos jovens e às famílias que dependem do rendimento do trabalho verificamos que as autarquias socialistas foram as mais dinâmicas a apresentar as suas estratégias locais. O trabalho de proximidade com as juntas de freguesia e as instituições de solidariedade social na criação de redes de proteção dos mais fracos e desprotegidos, o combate às alterações climáticas e a valorização do património e da criação artística e cultural mostram que não somos todos iguais.
P – O Partido Socialista, sendo a força política dominante no Algarve desde o 25 de Abril, tem responsabilidades acrescidas nos problemas com que a região se confronta. Que leitura faz da presente situação de crise derivada da pandemia?
R – A pandemia não atinge apenas Portugal, mas todo o mundo. A forma como respondemos em conjunto, governo e autarquias, às dificuldades da pandemia, quer ao nível do apoio à economia, como em programas sociais não tem paralelo com qualquer outro momento da nossa história e olhe que apesar de tudo o desemprego no Algarve durante o Governo do PSD e de Passos Coelho foi maior do que aquele que temos hoje. Temos de avançar com a vacinação, única forma de atingirmos a desejada imunidade de grupo e até lá temos de apoiar os trabalhadores, defender os postos de trabalho e ajudar as empresas a manterem a sua capacidade produtiva.
P – Que Algarve vai emergir nos pós-pandemia?
R – Esta crise sendo global não atinge todos da mesma forma, tendo atingindo o coração da atividade turística. No Algarve, o turismo não é um setor económico é, infelizmente, toda a economia. A primeira prioridade é combater a pandemia e defender a economia. O layoff, as moratórias, o reforço dos apoios que o Governo tem disponibilizado têm sido fundamentais para manter a capacidade produtiva das empresas, os postos de trabalho e a coesão social. É preciso acelerar a vacinação. As pessoas querem sair de casa, estão cansadas de estar confinadas, mas para viajarem de novo têm de ter confiança e essa depende da vacinação. O Governo deu-nos uma oportunidade que não podemos desperdiçar. O Algarve vai ter um programa extraordinário e supletivo de mais 300 milhões de euros de fundos comunitários que temos de aplicar corretamente para deixarmos de ser uma monocultura turística.
P – A ideia que corre com frequência é que o Algarve não tem um plano de desenvolvimento estratégico, alternativo à sua dependência da monocultura do turismo e capaz de combater as assimetrias entre o litoral e o interior. Qual é a ideia do PS para o Algarve do futuro?
R – Nós não podemos escamotear o facto de a regionalização ter sido reprovada em referendo. Isso reforçou o papel dos municípios, mas simultaneamente provocou uma erosão do planeamento supramunicipal. Eu destaco o esforço da AMAL e o papel que a nova CCDR, agora eleita, têm tido para convergir juntamente com a Universidade do Algarve na elaboração de projetos regionais e no aprofundamento da descentralização. Estamos a preparar os estudos para a ligação de comboio ligeiro ao Aeroporto Internacional do Algarve e noutro âmbito, o prolongamento do Corredor Ferroviário do Mediterrâneo até Portugal, permitindo a ligação transeuropeia do Algarve. Mas importa destacar investimentos que estão previstos no âmbito da inovação e da investigação nas áreas do mar, onde já temos grande trabalho feito, mas também de outros centros de conhecimento e de grande especialização que podem contribuir para a diversificação da economia regional.
A ponte de Alcoutim e a variante a Olhão podem começar, a eletrificação da linha do Algarve com início ainda este ano (…) e temos uma resposta com financiamento garantido para o problema da água
P – Os investimentos do Estado para o Algarve chegam sempre com grandes atrasos. Pergunto-lhe, por exemplo, como estamos quanto ao tão prometido Hospital Central e ao plano hídrico para prevenir situações de seca prolongada?
R – O Plano de Eficiência Hídrica para o Algarve está inscrito no PRR.Vamos ter, pelo menos, 200 milhões de euros para diversificar a origem das nossas fontes de água, incluindo a ligação ao Pomarão / Alqueva e a dessalinização, mas também vamos investir na eficiência dos sistemas, em baixa e em alta, e no reaproveitamento das águas recicladas para rega de campos de golfe. Mais à frente, veremos ainda se existe viabilidade, ambiental e financeira, para o aproveitamento hídrico da ribeira da Foupana para reforçar a alimentação da barragem de Odeleite.
Em relação ao novo Hospital Central a minha convicção é que podemos esperar para breve uma decisão definitiva. Estão a decorrer avaliações jurídicas e económicas muito complexas que por envolverem também empresas privadas requerem alguma reserva. O que posso assegurar é que, como afirmámos na campanha eleitoral de 2019, o Hospital Central será validado nesta legislatura.
P – Ao longo dos anos, parece que o Algarve tem sido mais uma soma das apostas e investimentos locais das autarquias, em que o Estado, com algumas exceções, tem sido o grande ausente. O que falta ao Algarve para bater o pé em Lisboa? Protagonistas políticos ou peso eleitoral?
R – Confesso que não sou adepto da autoflagelação e daquilo que é a minha experiência de vida quando as lideranças fazem muito ruído é porque não são ouvidas e querem disfarçar. Nós terminámos a anterior legislatura com o fim da exploração do petróleo no Algarve e começámos esta com a nomeação de três secretários de Estado e do ponto de vista estritamente político o próximo presidente do Congresso Nacional do PS é pela primeira vez um algarvio.
Até 2027 o Algarve vai gerir diretamente mais de 700 milhões de euros, o dobro do que tem atualmente. Temos uma resposta com financiamento garantido para o problema da água no Algarve, a Serra de Monchique, de Silves e a Serra do Caldeirão, vão ter financiamento no PRR para o seu reflorestamento e para aumentar a resiliência aos fogos florestais. Depois do reconhecimento da Faculdade de Medicina do Algarve e do aumento do número de alunos vamos avançar com a reorganização dos cuidados de saúde hospitalares da região, incluindo o novo Hospital Central Universitário do Algarve. As obras de eletrificação da linha de caminho de ferro do Algarve vão começar ainda este ano e temos em curso a aldeia digital e o Tec Hub, polos tecnológicos para ajudar a criar e fixar empresas da área da inovação no Algarve.
A universidade vai avançar com uma nova residência para estudantes, a Polícia Judiciária tem em obra a nova sede em Faro, em Sagres vai começar a última fase de musealização da fortaleza, a ponte Alcoutim – Sanlúcar tem financiamento garantido e pode avançar, bem como a variante de Olhão e a ligação de São Brás de Alportel à EN2 e à Via do Infante.
Falta-nos muita coisa? Sim, mas nós mal saímos de uma crise económica entrámos numa crise de saúde pública e isso condiciona a vontade de fazer mais depressa. Por exemplo, a conclusão da requalificação da EN 125 é algo que nos incomoda, razão por que recentemente propusemos ao Governo a criação de uma empresa pública para gerir a mobilidade rodoviária no Algarve em parceria com os municípios, como já se faz para o abastecimento de água e a gestão dos lixos.
P – Como comenta o caso de suspeita de corrupção na Câmara de Vila Real de Santo António em ano de eleições para o poder local?
R – Lamento que nos últimos anos Vila Real de Santo António só seja notícia por más razões. O Partido Socialista votou contra a venda do terreno. Votámos contra na Câmara e na Assembleia Municipal. Aliás, toda a oposição votou contra. A venda do terreno foi exclusivamente viabilizada pelo PSD que utilizou inclusive o voto de qualidade do presidente da Assembleia Municipal. Mas à justiça o que é da justiça e à política o que é da política.
Operação Triângulo: À justiça o que é da justiça e à política o que é da política
P – Como comenta o caso de suspeita de corrupção na Câmara de Vila Real de Santo António em ano de eleições para o poder local?
R – Lamento que nos últimos anos Vila Real de Santo António só seja notícia por más razões. O Partido Socialista votou contra a venda do terreno. Votámos contra na Câmara e na Assembleia Municipal. Aliás, toda a oposição votou contra.
A venda do terreno foi exclusivamente viabilizada pelo PSD que utilizou inclusive o voto de qualidade do presidente da Assembleia Municipal. Mas à justiça o que é da justiça e à política o que é da política.