A onda de interesse e entusiasmo desencadeada durante e pós realização do debate efectuado na “Casa das Artes”, no pretérito dia 28 de Julho, sob o tema “Rumo a Sul – A importância da migração de artistas para Sul na cultura do Algarve”, constituiu um acontecimento MAIOR na habitual e rotineira pacatez das gentes “deste” Sul.
– Maior, pelo empenho na defesa dos valores regionais;
– Maior, pela vivacidade da argumentação que aí foi expendida;
– Maior, pela mobilização geral em defesa deste Algarve, dos seus “algarvios” e do orgulho no seu passado e nos valores e potencialidades desta região.
Procurando resumir, condensando o que de fulcral foi debatido, diremos que assumiram especial relevância os seguintes temas, apropriadamente expostos ou singularmente aflorados:
1º – Os contratos que permitem a pesquisa e exploração de petróleo/gás na nossa costa e nas áreas concessionadas nos concelhos de Aljezur, Lagos e Tavira.
Foi enaltecida a meritória acção de reprovação tomada pelo presidente da AMAL, secundada por TODOS os presidentes de Câmara, o que merece, e bem, o reconhecimento público. Realça-se a adesão popular a esta causa, nas manifestações de diversa índole, mobilizadoras dum querer popular como se não via há muito nesta região;
2º – Fixação de artistas e criativos no Algarve
A reconhecida importância para o Algarve do fomento/desenvolvimento de actividades cativantes da industria turística, nomeadamente na área das artes e da cultura em geral, foi tema focado por diversos intervenientes, que ressaltaram ser fundamental propiciarem-se condições de fixação de artistas e criativos na região, retomando aliás práticas dum passado recente.
(Ter-se-á aqui pecado por ter ficado omissa a premente necessidade de, duma forma continuada e estruturada, apoiar e incentivar os artistas e criativos locais).
3º – O Quartel da Atalaia – A saída do Regimento:
Na prossecução das orientações estabelecias no conceito estratégico de Defesa Nacional, o dispositivo de forças definido tem como principal factor de planeamento (e de execução) a racionalização, obtida pela concentração de meios, buscando a maior economia e a rentabilização do apoio logístico, o que passa pela limitação do número de infraestruturas utilizáveis. A desactivação de quarteis é uma realidade consonante com tais opções estratégicas, fundamentadas em disposições legais, tomadas nos órgãos próprios do Estado.
Daqui se chega aos fundamentos da saída de Tavira do Regimento de Infantaria Nº 1.
A legítima opinião de “querer manter” na nossa cidade forças militares, cai por terra face à dura realidade que a evolução, também em termos militares, em si comporta.
Atente-se todavia que, derivando do conceito estratégico de defesa, as forças armadas estão vocacionadas para missões de interesse público, associadas ao desenvolvimento sustentado e ao bem-estar das populações. Mas tal não implica que sejam sediados efectivos de proximidade. A mobilidade (pronta e célere) é nos dias que correm uma conquista civilizacional objectiva, não sendo entendida como necessária a presença próxima, nem permanente, dos meios.
Por tudo isto afirmamos que a romântica utopia de manutenção futura duma presença militar em Tavira não encontra suporte na realidade.
4º – Tavira, cidade de acolhimento cultural. A oportunidade e justeza da reversão para a cidade do Quartel da Atalaia.
A reformulação do dispositivo militar nacional, atrás referida, levou à retirada do Regimento de Infantaria de Tavira, deixando vago o Quartel da Atalaia, criando-se assim uma oportunidade única e de extraordinária valia para converter aquelas instalações num grande centro de artes e de divulgação cultural, lançando as bases de uma dinâmica cultural abrangente de toda a nossa região, proporcionando condições para a fixação de artistas e criativos na nossa cidade.
Tavira poderá ficar a dispor destas instalações devolutas, excelentes e bem preservadas.
A dedicação desta cidade às grandes causas e epopeias pátrias, que reportamos à longínqua crise de 1383/85, passando pelas lutas liberais, pelas invasões francesas, pelo flagelo da 1ª Grande Guerra, até à recente revolução dos cravos, é merecedora dum reconhecimento nacional que muito justamente lhe será conferido pela cedência da posse do Quartel da Atalaia. As forças vivas da cidade, o município e os cidadãos em geral, dar-lhe-ão a ocupação mais consentânea com a dignidade do edifício e com as reconhecidas carências e necessidades desta região. A Arte e a Cultura terão um determinante papel complementando-se a racional utilização com a instalação no local de outras valências, respeitando os antecedentes históricos deste monumental edifício.
É esta uma oportunidade ímpar para que em Tavira se criem condições óptimas para aqui se levarem à prática actividades de criação no domínio cultural que assumam um papel estratégico no seu desenvolvimento e no da região, construindo uma programação que traga mais valia cultural e turística, minimizando os efeitos da sazonalidade e que acrescente aos já grandes predicados turísticos da nossa cidade, uma vertente cultural com efectivo impacto e que se constitua como uma referência.
Para tal há que, sem demoras e reconhecendo tal tarefa como uma grande prioridade da cidade e da região, de oportunidade única, iniciar diligências que visem a obtenção da posse Municipal das instalações (em regime a contratualizar), sendo então formulada uma candidatura a fundos comunitários, via CCDR, no âmbito do programa operacional do Algarve 2020 para reconversão das instalações a funcionalidades museológicas e culturais em geral. E uma vez tornado o sonho realidade, pensar-se-á no desenho da estrutura orgânica capaz de conduzir o novo Centro de Cultura de Tavira na senda duma eficaz gestão e duma programação cultural meritória e sustentável.
O meu comentário final cabe numa palavra: URGENTE.