Tavira é uma cidade de muitas igrejas, conventos, ermidas e capelas, espaços ajardinados, pontes, muralhas, um espaço público de enlevo que é a Biblioteca Álvaro de Campos, uma reconversão da antiga cadeia civil, projecto do arquitecto Carilho da Graça, é bom cirandar pela cidade, ver as suas portas com carácter, resquícios do manuelino, visitar o Palácio da Galeria, que será o futuro museu da cidade e passar pelo imponente quartel, um expoente da arquitectura pombalina, aqui foram formados muitos sargentos milicianos que deram com os costados nos teatros da guerra.
Subindo a colina de Santa Maria, observa-se a intersecção de diferentes estilos desde o gótico ao renascentista e barroco. Convém recordar que Tavira, logo no primeiro quartel do século XVI, era o mais próspero centro urbano do Algarve, beneficiava da situação estratégica no contexto da expansão portuguesa, funcionava como a retaguarda das praças do Norte de África. Não há viandante que não se impressione com os vestígios arquitectónicos góticos, as portas de arco quebrado até chegar ao sóbrio portal da igreja de Santa Maria do Castelo que, segundo a tradição, foi construída sobre a antiga mesquita maior. Na igreja restam algumas capelas góticas. O viandante embevece-se com a porta principal, com quatro arquivoltas com arco quebrado, capitéis com temas vegetalistas, que beleza dentro dos cânones da sobriedade.
O período renascentista, é esta a modesta opinião do viandante, tem duas jóias preciosas em Tavira: a Igreja de Misericórdia e a Loggia do Palácio da Galeria, o tal onde se podem observar poços rituais fenícios. Neste tempo distinguiu-se um arquitecto local, André Pilarte, que já trazia pergaminhos do seu trabalho no Mosteiro dos Jerónimos. É ele que projecta e dirige a construção da Igreja da Misericórdia, em meados do século XVI. A igreja é de uma enorme riqueza, tem azulejaria preciosa, um esplendoroso altar-mor, um belo órgão, aqui assistiu a um concerto com o soprano finlandês Olga Heikkilä, cantou Puccini, Strauss, o das valsas, Franz Lehár, Sibelius, Grieg e muito mais.
As recordações militares são muito intensas em Tavira. Logo a evocação dos combatentes, em ponto central da cidade. No exterior, impressiona o que resta do forte de Santo António de Tavira, também conhecido por forte do Rato ou forte da ilha das Lebres, na foz do rio Gilão, junto à barra da cidade de Tavira. Destinava-se a proteger a entrada da barra, isto no reinado de D. Sebastião. Acontece que houve alterações profundas na linha de costa, perdeu utilidade. Na Guerra da Restauração foi sujeito a remodelação. Perdeu função militar em 1840. Consta que vai ser concessionado, bom seria que não se perdesse este belo património.
(Continua)
* Assessor do Instituto de Defesa do Consumidor e consultor do POSTAL