Vivemos numa época em que a humanidade parece ter perdido a conexão com as suas raízes mais autênticas – o encanto de um mundo menos apressado, a beleza das coisas simples, e a humanidade que outrora nos definia.
Vivemos numa era de avanços tecnológicos sem precedentes, onde os relógios, os satélites e as máquinas ditam o ritmo das nossas vidas. Tudo é cronometrado, desde o nascer ao pôr do sol, desde o primeiro choro ao último suspiro. No entanto, neste processo de modernização, algo fundamental foi deixado para trás: a nossa capacidade de errar, de aprender com esses erros e, acima de tudo, de sermos humanos.
Antigamente, os erros eram considerados oportunidades de crescimento. Eram os erros que nos ensinavam a sermos resilientes, a sermos criativos, a desenvolvermos empatia e compreensão. No entanto, hoje, vivemos numa sociedade que parece não tolerar o erro. Qualquer falha é imediatamente exposta, amplificada e criticada, especialmente nas redes sociais, onde a imperfeição humana é muitas vezes julgada com dureza. Este fenómeno tem consequências graves, especialmente para as gerações mais jovens, que crescem num mundo onde o medo de errar pode ser paralisante.
Fica uma certa nostalgia por tempos mais simples, onde a vida seguia o ritmo natural das estações, onde havia espaço para o silêncio, para a reflexão, e para a conexão genuína entre as pessoas. Hoje sente-se que esses valores estão a ser substituídos por um mundo onde tudo é instantâneo, onde a profundidade foi trocada pela superficialidade, e onde a busca incessante pela perfeição nos tornou mais robóticos e menos humanos.
Este sentimento de nostalgia é partilhado por muitos que veem nas nossas conquistas tecnológicas não apenas progresso, mas também uma alienação crescente. As florestas são derrubadas, os rios são poluídos, e o coração dos homens é cada vez mais endurecido por uma sociedade que valoriza o sucesso imediato em detrimento da sabedoria adquirida através da experiência e do erro.
Neste contexto, a liberdade de imprensa, que deveria ser um bastião da verdade e da humanidade, está também a ser ameaçada. Em muitas partes do mundo, inclusive em democracias consolidadas, a liberdade de expressão está a ser relegada para segundo plano, sacrificada em nome de uma ordem social que valoriza a conformidade e o silêncio.
Precisamos de redescobrir a nossa humanidade, de voltar a valorizar o erro como uma parte natural e essencial da vida. Precisamos de tempo para viver, para sentir, para nos reconectarmos com o que realmente importa. E, acima de tudo, precisamos de garantir que a nossa voz, a nossa liberdade, e o nosso direito de errar sejam preservados como parte do que nos torna verdadeiramente humanos.
Neste mundo cada vez mais apressado e desumanizado, é essencial que nos lembremos que a perfeição não é o objetivo. O objetivo é viver plenamente, com todas as imperfeições que nos tornam únicos e, acima de tudo, humanos.
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