As fraquezas competitivas do Algarve manifestam-se em insuficiências de vária ordem, designadamente no que se refere à prestação generalizada de serviços de saúde.
Esta fragilidade resulta do facto das infraestruturas hospitalares existentes se encontrarem desactualizadas, mal dimensionadas, deficientemente equipadas e, sobretudo, sem os recursos humanos necessários, especialmente ao nível de pessoal médico, enfermagem e outros.
Os Centros de Saúde concelhios estão ultrapassados, não dispõem das valências necessárias, nem de capacidade efectiva para responder às procuras locais, quer das populações residentes, quer da população flutuante, sobretudo em determinadas épocas do ano.
Estas debilidades têm-se agravado nos últimos anos, nomeadamente nas urgências dos hospitais centrais de Faro e Portimão, uma consequência directa da falta de resposta das estruturas concelhias, forçadas a desviar utentes para as unidades centrais de referência.
“O ancestral tratamento de desfavor dado à região, só é desculpável pelo masoquismo dos algarvios“
Não é difícil prever que, sem reformas profundas e urgentes, o chamado SNS irá ruir e colapsar sobre si próprio no curto/médio prazos. Esta situação acentuou-se com a redução dos horários de trabalho da função pública, sem que tenham sido contratados médicos, enfermeiros e auxiliares para suprir a redução de postos de trabalho causada por esta medida.
A falta de investimento estruturante no sector da saúde no Algarve, cujo exemplo mais marcante é o eterno adiar da construção do novo Hospital Central, apesar do anúncio do concurso público feito pelo primeiro-ministro Sócrates, em 2008, é uma realidade incontornável que as estatísticas oficiais não desmentem.
O ancestral tratamento de desfavor dado à região, só é desculpável pelo masoquismo dos algarvios que, confrontados com tais injustiças, não só não mostram indignação, como continuam a apoiar os responsáveis por estas decisões – uma constatação evidente e preocupante -, consubstanciada na recusa em construir o Hospital Central do Algarve, um verdadeiro atentado à paciência dos algarvios.
O pouco peso político da região, só por si, não justifica este comportamento dos sucessivos governos, tanto mais que o contributo do Algarve para a riqueza do País não está em causa, conforme provam os resultados económicos oficiais e mandam as mais elementares regras do interesse público.
Em nome de um complexo anti turismo, reinante nos corredores do poder, o Algarve tem sido ignorado, quer nesta quer em outras matérias, quando comparado com outras regiões com maior peso eleitoral, mas cujo contributo para a riqueza nacional é muito menor, dando razão àqueles que afirmam, a pés juntos, que se os turistas votassem, este e outros problemas há muito que teriam sido resolvidos.
Os fundos públicos alocados à região não podem continuar a obedecer a uma distribuição equitativa, tendo por base apenas a população oficial residente, pouco mais de 450 mil habitantes, mas antes selectivamente, no respeito pelo princípio da importância económica do Algarve.
Ora, sendo o turismo um sector estratégico e prioritário da economia portuguesa, e o Algarve a maior e mais importante região turística nacional, importa reconhecer que a saúde e o bem-estar associados ao turismo são uma realidade que não pode continuar a ser menosprezada.
Existe hoje uma economia da saúde intimamente ligada à economia do turismo, devendo estes serviços passar a ser entendidos como uma valorização do posicionamento competitivo do destino turístico regional.
Assim sendo, para além da necessidade de haver um reescalonamento salarial equilibrado e mais justo, de forma a atrair profissionais de saúde qualificados para o Algarve, o governo deve, em colaboração com as autarquias locais, proceder a uma reavaliação dos Centros de Saúde, modernizando-os e/ou construindo novos onde tal se justifique, dotando-os dos meios técnicos e humanos capazes de responder eficazmente às solicitações, melhor forma de libertar as urgências dos Hospitais Centrais.
O governo prepara-se para, pela “enésima” vez, anunciar um calendário para a construção do novo Hospital Central. Mais do que anunciar calendários em que já ninguém acredita, importa avançar para a sua construção no mais curto espaço de tempo, até porque a existência de infraestruturas e equipamentos modernos constitui uma mais-valia na atracção de novos profissionais e competências para uma região onde é agradável viver todo o ano.