Telefonei a um amigo muito querido que me tinha pedido que lhe lesse um manuscrito com olhos muito críticos; sabedor do estado debilitante da sua mulher, muito diminuída por uma sucessão de operações à coluna, perguntei pelo estado de saúde, ao que ele me informou que ela agora se sentia muito humilhada, tinha incontinência urinária, sentia-se um frangalho. Lá fiz as sugestões do costume, era urgente a consulta do urologista, assim me surgiu a ideia de tratar a prevenção e tratamento da incontinência urinária, o mesmo é dizer a perda involuntária ou incontrolável de urina. É uma situação que afeta ambos os sexos, patologia que atinge uma enorme percentagem de portugueses. Os seniores são o grupo etário mais atingido, estima-se uma prevalência de 90% de incontinente nos lares de terceira idade e casas de repouso.
Recordado da situação da mulher deste meu amigo, a vida destas pessoas fica limitada, inibidos pelo medo da perda involuntária de urina, há mesmo o preconceito e procura esconder-se o problema ao médico, resolvendo a questão pelo uso de fraldas e andando sempre com um saco com mudas de roupa. Ora a incontinência urinária não é uma consequência inevitável do processo natural do envelhecimento dos órgãos. Dito isto, há que falar claramente da patologia para a prevenir e tratar.
Tudo depende da integridade anatómica e fisiológica, uma bexiga normal pode acumular volumes de urina relativamente grandes; o estado de continência urinária depende de um funcionamento harmonioso eficaz entre a bexiga e o esfíncter (este é um músculo que assegura a oclusão ou abertura, no caso da bexiga tem dois componentes). A continência também depende dos rins, do sistema nervoso e da capacidade física e psicológica do indivíduo em reconhecer e responder à vontade de urinar.
Entre os fatores associados à incontinência, destacam-se a imobilidade associada a doenças crónicas; o uso de certos medicamentos; estilos de vida pouco saudáveis; a diabetes; alterações anatómicas (caso da descida da bexiga, uretra ou reto).
Nas mulheres, a principal causa de incontinência é a falta de suporte muscular no local onde a bexiga se une à uretra. Tudo conjugado, há múltiplas causas para a incontinência e daí a referência a três tipos: de esforço (tossir, espirrar, rir, levantar pesos, por exemplo) que resulta do aumento da pressão abdominal, deixando o esfíncter de ter força suficiente para suster a saída da urina; de urgência, que se traduz pela perda involuntária de urina precedida por uma sensação forte de necessidade de urinar, estando realmente associada ao processo de envelhecimento dos órgãos; mista, uma combinação de incontinência de esforço e de urgência.
Com o diagnóstico precoce tudo será muito mais fácil. Quando se descobre a causa desenvolve-se um plano de tratamento efetuados os exames necessários; o tratamento é proporcional à análise minuciosa da patologia e à natureza dos tratamentos que se prescrevem.
Falando do tratamento; em muitos casos basta que se tomem medidas simples que levem à mudança de comportamentos. Existem produtos para incontinentes que permitem diminuir as suas repercussões enquanto aguardam tratamento definitivo. A incontinência por urgência pode ser prevenida urinando frequentemente em intervalos regulares.
Na mulher, para a resolução de casos de incontinência provocada pelo esforço e associada à menopausa, pode contribuir o uso de cremes que contenham estrogénios, associados a exercícios de reabilitação dos músculos pélvicos, destinados a fortalecer os músculos que suportam a bexiga e fecham os esfíncteres. Nos tratamentos com medicamentos, o médico pode prescrever fármacos que controlam os espasmos, terapia hormonal de substituição, antibióticos, etc., de acordo com o tipo de incontinência e sua origem.
O Dia Mundial da Incontinência Urinária comemora-se no dia 14 de março. Não se esqueça que o farmacêutico é um especialista do medicamento cujo aconselhamento pode contribuir para a obtenção do máximo benefício prescrito pelo médico, alertá-lo para certos efeitos de medicamentos que podem agravar o problema, o que pode acontecer também com certos preparados que os doentes tomam sem prescrição médica.
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