O Algarve, uma região de beleza natural inigualável, enfrenta a cada ano a ameaça crescente dos incêndios florestais. Até ao momento, o verão de 2024 regista um número menor de fogos na nossa região. Contudo, episódios atuais, como os incêndios devastadores nas zonas de Albergaria-a-Velha, Oliveira de Azeméis e Sever do Vouga, são lembretes amargos de que o risco continua presente.
No Algarve, a vulnerabilidade não é menor. As vastas áreas florestais, muitas vezes mal geridas ou abandonadas, formam um cenário ideal para a propagação rápida do fogo. A seca severa, associada a ventos quentes e secos, torna a região um barril de pólvora prestes a explodir. Estas condições, agravadas pelas alterações climáticas, exigem respostas rápidas e eficazes, sob pena de vermos as nossas florestas transformadas em cinzas.
A seca severa, associada a ventos quentes e secos, torna o Algarve um barril de pólvora prestes a explodir
Neste contexto, Miguel Freitas, ex-secretário de Estado das Florestas, faz uma reflexão importante no podcast “P24”, que desde já recomendo. Ele sublinha que os incêndios florestais são um “pesadelo” com o qual temos de aprender a viver. Isso não significa resignação, mas sim a necessidade urgente de adaptação e preparação. A preparação não pode ser apenas uma palavra de ordem – deve ser um compromisso sério e duradouro, e sobretudo com maior aplicabilidade prática e menos burocrática.
A defesa da floresta passa, antes de mais, por um investimento sólido na gestão florestal. A criação de mosaicos agrícolas, o incentivo ao pastoreio, e o envolvimento das comunidades locais são apenas alguns dos exemplos de como podemos reduzir a carga combustível nas nossas florestas. A limpeza de terrenos e a criação de faixas de contenção são medidas eficazes, mas frequentemente ignoradas.
Além disso, o reforço dos recursos humanos e materiais na Proteção Civil é essencial. O país precisa de mais bombeiros, mais viaturas e um planeamento estratégico que envolva não só a resposta aos incêndios, mas a prevenção. As populações rurais, muitas vezes esquecidas, precisam de estar preparadas, com rotas de evacuação claramente definidas e informação acessível sobre os procedimentos de segurança.
Há ainda uma componente crítica a considerar: a consciência cívica. Não podemos subestimar o papel que todos temos na prevenção de fogos. Pequenos gestos, como evitar fazer queimadas durante períodos de maior risco, podem fazer toda a diferença. A proteção das nossas florestas é uma responsabilidade coletiva.
A temporada de fogos não pode ser vista como um fardo sazonal. O país tem de estar preparado para uma luta contínua contra os incêndios florestais, com um foco claro em soluções sustentáveis, prevenção eficaz e uma atuação coordenada. No final, a verdadeira vitória será a preservação das nossas paisagens e a segurança das nossas populações.
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