Nesta altura do ano, é comum ter estado ou estar de férias, descansar, viajar em lazer, praticar o autocuidado sem horários laborais e sem o stress do dia-a-dia. E os cuidadores informais? A maioria dos cuidadores informais não consegue, não pode usufruir de férias.
O relatório de 2020 da Associação Nacional Cuidadores Informais – Panóplia Heróis – refere que existem em Portugal cerca de 1,4 milhões de Cuidadores.
A prestação informal de cuidados é maioritariamente exercida por familiares e define-se com base nas interações entre um membro da família que ajuda outro, de forma regular e não remunerada, realizando atividades que proporcionam o bem-estar da pessoa cuidada.
Estas atividades são caracterizadas por gestão de dinheiro, tarefas domésticas e cuidados pessoais, como a alimentação e a higiene da pessoa cuidada.
O papel do cuidador informal raramente decorre de um processo de livre escolha consciente. A pessoa começa por prestar cuidados sem se identificar com o estatuto da pessoa responsável pela prestação de cuidados.
Desta forma, a definição de cuidador principal surge com a eleição dos cuidadores secundários, ou seja, quanto mais o cuidador principal se envolve, mais os cuidadores secundários se afastam.
Normalmente este processo tem por base dois fatores: a proximidade física e a proximidade emocional.
Na dinâmica familiar há uma sobrecarga suscetível de afetar diversos aspetos da vida do indivíduo cuidador, nomeadamente a intimidade, a liberdade, o equilíbrio emocional e a carreira profissional.
Ao não dispor de férias, de tempo para si, o cuidador informal estabelece menos relações sociais e fragiliza as que já tinha, perdendo, assim, oportunidades de encontrar apoio.
A satisfação com o suporte social ajuda na redução do stress/sobrecarga. Quanto maior for a satisfação com o suporte social, menor será a sobrecarga do cuidador informal da pessoa cuidada. É possível sugerir uma explicação para esta “causa – efeito”: se o cuidador estiver satisfeito com o seu suporte social, pode facilmente recorrer aos amigos, familiares, instituições para pedir ajuda, tendo também mais tempo para se dedicar a si próprio, reduzindo os efeitos da sobrecarga.
A Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) dispõe de um serviço de “descanso do cuidador”, em que a pessoa cuidada é admitida numa Unidade de tipologia de Longa Duração – Manutenção pelo período máximo de 90 dias, ou numa tipologia de Saúde Mental pelo período máximo de 45 dias.
No entanto, estas respostas estão dependentes das parcas vagas existentes e da questão financeira.
É um facto que muitos cuidadores informais não se sentem confortáveis ao institucionalizar ou permitir que outra pessoa preste os cuidados necessários à pessoa cuidada. Esta situação permite potenciar o sentimento de culpa, ou de abandono quanto à pessoa cuidada.
Verifica-se uma obrigação, não consciente, de terem de ser os próprios a cuidar.
Sabendo o efeito benéfico do suporte social na perceção das consequências dos cuidados, este deverá ser a fonte primordial de trabalho dos profissionais ligados aos cuidados familiares das pessoas cuidadas.
É sugerido como medida de prevenção e/ou intervenção na diminuição da sobrecarga, a implementação de mais gabinetes de apoio aos cuidadores informais com a formação de grupos de ajuda mútua mediados por um psicólogo, onde se promova o bem-estar e a qualidade de vida. Esta sugestão deveria passar pelas autarquias locais, centros de saúde e até mesmo pelas IPSS, com o objetivo de incentivar o cuidador informal da pessoa cuidada a participar nesta iniciativa.
A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) desenvolveu um manual de recomendações para os cuidadores informais durante a pandemia, o qual se mantém útil nesta fase de desconfinamento, assim como um documento de apoio denominado “Como me sinto? – Checklist para cuidadores informais”, disponível no site da OPP.
No entanto, é importante a sensibilização de todos para esta questão dos “pacientes ocultos”, no sentido de estarem em alerta e darem o apoio necessário e adequado aos cuidadores informais, com o objetivo de prevenir o surgimento de uma doença e promover o seu bem-estar, incluindo as merecidas férias.
Cuidar de quem cuida deverá ser uma preocupação e também uma responsabilidade de todos, para que quem cuida não fique por cuidar. Embora exista o estatuto do cuidador informal em Portugal, o trabalho destes cuidadores ainda é pouco reconhecido e muitos deles não vivem, sobrevivem.