É bom ter amigos em Tavira e que nos acolhem admiravelmente, sempre solícitos a mostrar as mudanças, algumas que nos enternecem muito, há para ali intervenções patrimoniais que nos merecem muito respeito, outras não tanto, derrubou-se o velho cinema e alterando completamente a escala está a erguer-se mais um daqueles centros culturais para encher o olho, cirandando à volta das muralhas (Tavira vista do jardim do castelo é um desafogo panorâmico, por ali se pode ver o ADN de um lugar por onde se cruzaram tais e tantas civilizações) fiquei de boca aberta a ver junto a um belo pano de muralha um calhamaço que seguramente vai ser hotel ou apartamento luxuoso, continuo a não entender os maltratos à volta de monumentos nacionais, é-me inexplicável esta ganância, este gosto pela ostentação, roubando aos munícipes e aos visitantes vistas de alto valor histórico – e chamam a isto progresso.
É bom caminhar por estas ruas antigas, indo conversando com amigos quanto aos propósitos desta visita que incluem Castro Marim, lá no castelo, dentro de um templo religioso, que já deixou de o ser, consta uma exposição sobre a história da Ordem de Cristo naquele ponto no então Reino do Algarve, lá iremos seguidamente, primeiro matar saudades de Tavira, visitar inclusivamente aquelas lojas de ajuda humanitária a que se entregam sobretudo os ingleses, metem para ali objetos que nas suas casas perderam préstimo, quem compra, compra barato, e as receitas do mealheiro são para ajudar quem precisa, dali saio alegre e feliz com um bom número de discos de música clássica comprado à pataco.
Pois bem, vamos subir ao jardim do castelo, é um dos pontos mais aprazíveis para ver o que se passa em Tavira e arredores.
Já estou no Castelo de Castro Marim, é um ponto alto de uma colina que é sobranceira ao Guadiana, aqui em 1319 houve sede da Ordem de Cristo, graças aos esforços diplomáticos de D. Dinis, socorreu-se de alianças ibéricas para não deixar de sair o rico património da Ordem do Templo, depois daquele miserável processo movido aos monges guerreiros que tinham fortunas, que emprestavam dinheiro a reis e que pagaram bem caro o serviço que prestaram à Cristandade no seu tempo. O monarca justificou a razão de ser desta Ordem aqui em Castro Marim dando razões compreensíveis, o Reino de Granada na vizinhança e a pirataria magrebina a encher de pânico a costa algarvia. Foi sede durante décadas (até 1356), depois seguiu para Tomar. Frente a este castelo está o Forte de S. Sebastião, desempenhou o seu papel na Guerra da Restauração. Diga-se em abono da verdade que Castro Marim merece uma cuidada visita, está cercada de belíssimo de património cultural, faz parte da Rede Nacional das Áreas Protegidas e a Rede Natura 2000, permite passeios pedestres muito belos, os amantes da natureza têm ali ao seu dispor belos troços da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, os amantes da praia também não se sentem desiludidos e convém recordar que as salinas ocupam mais de 580 hectares da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António.
Vamos visitar a exposição e andar por aí, já pedi a quem me acompanha para ir ver a estátua do Marquês de Pombal, de José Cutileiro, em Vila Real de Santo António.
(continua)