Em meados de novembro, chegou e em força, a tão desejada chuva. Prometia assim, resolver o enorme problema da falta de água, principalmente, onde essa falta mais falta faz, nas barragens do Algarve.
A esperança de uma chuva continuada, no sul de Portugal continental, não passou disso mesmo… esperança. Foi um género de chuva política: prometeu muito, mas deu pouco.
O dia em que o município de Tavira tiver o seu Plano de Ação Climática elaborado, se é que algum dia isso irá acontecer, o número de travessias para a ilha, terá de diminuir significativamente
Entretanto, o verão desobedecendo ao calendário, continuava por cá a sua estadia e só depois de já ter roubado mais de um mês ao outono, é que começou a dar mostra de ter que se ir embora, rumo ao hemisfério sul, como todos os anos o faz. Para trás, deixou um rasto de calor que, segundo as estatísticas, bateu o record das temperaturas mais elevadas, desde que há registos.
Dizem, os entendidos nesta matéria, que tal situação é consequência da acumulação de gases poluentes na atmosfera, devido ao efeito de estufa provocado pela utilização dos combustíveis fosseis. Certo ou não, o que é mesmo certo é que, cada vez e com mais frequência, acontecem fenómenos climáticos extremos.
Apesar destas evidências, os mandões da economia mundial não se conseguem entender, ou não o querem, no que às imprescindíveis medidas a tomar dizem respeito. Estarão, certamente, mais preocupados com o não arrefecimento da economia, do que propriamente, com o aquecimento global.
É assim em inúmeras situações, nomeadamente quando se trata da disputa entre, por um lado o bem comum, e por outro, a conveniência de quem não querendo saber do bem comum, vive sedento de lucro.
Lembra-me, esta situação, os interesses instalados na travessia marítima para a praia de Cabanas, onde pequenas embarcações a gasolina fazem diariamente e a toda a velocidade centenas de travessias, queimando incontáveis litros de combustível em águas que, por serem pouco profundas, sofrem de forma acrescida os reflexos negativos de uma prática inconcebível, considerando que se trata de uma zona classificada de “Zona Lagunar de Uso Restrito”, com incidência direta na destruição da sua biodiversidade. As entidades, com tutela na Ria Formosa, que deram esta classificação aquela zona da ria, são praticamente as mesmas que permitem, a todo o instante, a sua transgressão.
Por cada dia que passa, melhor se percebe que a travessia pedonal não é só a solução ideal; ela constitui, sem margem para grandes dúvidas, a única alternativa que permite chegar à ilha de forma segura e ecológica.
Julgo que, em consciência, ninguém negará as vantagens ecológicas de uma travessia pedonal, comparada com as atrocidades cometidas diariamente pela travessia marítima, com significativo prejuízo da qualidade do ambiente.
A Lei de Bases do Clima, estipula que os municípios deveriam ter um Plano de Ação Climática, elaborado até ao fim de fevereiro de 2024. Alegam vários municípios a falta de recursos financeiros e técnicos para a respetiva elaboração. Não se notam grandes esforços da Autarquia para ultrapassar este impasse. Assim se vão adiando os Planos de Redução da Queima de Combustíveis e Combate à Concentração de Gases Poluentes.
É evidente que a travessia marítima de Cabanas representa, no panorama mundial, uma gota de água no oceano, mas não deixa de ser um exemplo de como contribuir para o combate às alterações climáticas. As grandes coisas, fazem-se, muitas vezes, do somatório de pequenas coisas.
O dia em que o município de Tavira tiver o seu Plano de Ação Climática elaborado, se é que algum dia isso irá acontecer, o número de travessias para a ilha, terá de diminuir significativamente, não só pela destruição da biodiversidade, mas também pela produção de carbono; o grande responsável pelo aquecimento global.
Cabanas é, seguramente, o maior destino turístico do concelho de Tavira e um dos maiores do Sotavento Algarvio. É à noite que esta situação se torna mais evidente. Após o jantar, a marginal fica repleta de gente. Tomar um café, sentado numa esplanada não é tarefa fácil. É assim todos os anos, mas só durante cerca de três meses, tempo demasiado curto para quem tem que amealhar o suficiente para fazer face a, praticamente, nove meses de época baixa.
É, por isso, urgente concretizar estratégias que permitam prolongar a época sazonal de forma a que a economia local funcione para além do verão. Não tenho grandes dúvidas de que, a travessia pedonal daria um enorme contributo na concretização da referida estratégia.
A praia não é só para ser frequentada no verão. Todas as estações do ano têm a sua beleza. Se a temperatura da água não convida a nadar, a temperatura do ar convida a caminhar, a fazer exercício, a pescar, a bronzear…enfim, a beneficiar de tudo aquilo que a mãe natureza nos proporciona.
Mas, para que tal aconteça, é imprescindível uma travessia pedonal que permita chegar à ilha em qualquer momento do dia, ou em qualquer altura do ano.
Falo, obviamente, do prolongamento para sul do passadiço da marginal, numa extensão de, apenas, cento e noventa metros de forma a liga-lo ao passadiço já existente na ilha, entre a concessão e o cais de embarque/desembarque. Estou certo que, mais tarde ou mais cedo, a travessia pedonal, por força da sua necessidade, será uma realidade.
A praia de Cabanas tem uma extensão de 4.300 metros. É todo o comprimento do limite sul da freguesia, o qual se estende da Barra do Alacém, até ao meridiano que passa pela foz da Ribeira do Almargem. São 4.300 metros de fina areia, com fraco declive, o que permite aos banhistas afastarem-se dezenas de metros da praia, sem perder pé, desfrutando assim do enorme prazer das águas límpidas e calmas do Oceano Atlântico quase sempre com boa temperatura.
A barra mais próxima, a de Tavira, fica a alguns quilómetros de distância, não se notando, por isso, os efeitos negativos das marés de vazante, que por vezes trazem consigo algum lixo que flutua na ria formosa.
Estas características são, seguramente, as razões que justificam a enorme procura desta maravilhosa praia, que faz as delícias das gentes que a frequentam. Pena é que, a natureza que nos deu este enorme e maravilhoso espaço, não tenha total correspondência por parte da parte humana.
Ao invés de quem frequenta a praia ter de se instalar ou amontoar em algumas dezenas de metros, deveriam, no meu entender, as entidades com responsabilidade na zona, autorizarem a ocupação de mais espaços, ligados entre si por passadiços paralelos à linha de costa, criando assim as condições propicias à distribuição harmoniosa de quem frequenta a praia.
A travessia pedonal, essa obra absolutamente necessária para Cabanas, está por fazer. Mas tal não significa ausência de progressos. Eles já aconteceram e constituíram importante avanço para a sua concretização.
Brevemente, darei conta dos referidos progressos junto de algumas das entidades com tutela na Ria Formosa.
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