Nos últimos dias, Portugal assistiu a um cenário alarmante: duas mortes atribuídas a atrasos no atendimento da linha de emergência 112. Estes incidentes ocorreram num contexto de greve dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH), que reivindicam melhores condições laborais e revisão de carreira. O Ministério da Saúde já solicitou uma auditoria interna ao Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) para apurar as circunstâncias destas fatalidades.
A greve dos TEPH, iniciada a 30 de outubro, tem levado à paragem de dezenas de meios de socorro em todo o país. No turno da tarde desta segunda-feira, dia 4 de novembro, 44 meios estavam inoperacionais, incluindo ambulâncias nas principais cidades. Esta situação resultou em atrasos significativos no atendimento de chamadas de emergência, com relatos de mais de 100 chamadas em espera e tempos de espera superiores a 30 minutos.
O INEM reconheceu o impacto das greves no funcionamento da linha 112 e apelou à população para que não desligue as chamadas enquanto não forem atendidas, reforçando a necessidade de utilizar o número apenas em situações de emergência real. No entanto, a sobrecarga do sistema e a escassez de profissionais têm comprometido a eficácia do atendimento.
A confiança no sistema de emergência médica é um pilar fundamental da sociedade, e cabe a todos os intervenientes garantir que situações como as recentemente ocorridas não se repitam
A situação atual evidencia fragilidades estruturais no sistema de emergência médica português. A escassez de técnicos, aliada a condições laborais insatisfatórias, tem levado a uma degradação dos serviços prestados. As reivindicações dos TEPH são legítimas e refletem a necessidade urgente de investimento na valorização destes profissionais, essenciais para a segurança e bem-estar da população.
É imperativo que o Governo e as entidades competentes atuem de forma célere e eficaz para resolver este impasse. A realização de auditorias e inquéritos é um passo necessário, mas insuficiente se não for acompanhado de medidas concretas que garantam a operacionalidade dos serviços de emergência. A confiança da população no sistema de saúde depende da capacidade de resposta em situações críticas, e cada minuto conta quando se trata de salvar vidas.
A crise atual deve servir de alerta para a necessidade de uma reforma profunda no sistema de emergência médica em Portugal. Investir na formação, valorização e condições de trabalho dos profissionais de saúde não é apenas uma questão de justiça laboral, mas uma exigência para assegurar a qualidade e prontidão dos serviços de emergência. A vida dos cidadãos não pode estar refém de impasses laborais ou de ineficiências sistémicas.
É tempo de agir com responsabilidade e urgência, colocando a segurança e o bem-estar da população acima de quaisquer divergências. A confiança no sistema de emergência médica é um pilar fundamental da sociedade, e cabe a todos os intervenientes garantir que situações como as recentemente ocorridas não se repitam.
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