A disseminação acelerada da nova estirpe da gripe, a H3N2 K, está a gerar alertas em vários países europeus. O Reino Unido vive já o que o NHS descreve como o “pior cenário possível”, com um aumento superior a 50 por cento nas hospitalizações e milhares de doentes internados diariamente. Em Portugal, o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Bernardo Gomes, ouvido pela Executive Digest, site especializado em economia e atualidade, pede prudência mas rejeita qualquer paralelismo direto com a crise britânica.
Segundo a mesma publicação, Portugal entrou em fase epidémica nas últimas duas a três semanas, confirmada pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. Há um crescimento significativo da atividade gripal, mas ainda longe da pressão extrema sentida no Reino Unido. Para o especialista, este é um momento sensível, mas ainda com margem de atuação: vacinar, cuidar e ventilar.
Crescimento forte em Portugal, mas longe da saturação britânica
Os dados mais recentes do INSA mostram que, entre 24 e 30 de novembro, se registaram 10,5 casos de infeção respiratória aguda grave por 100 mil habitantes, com aumentos expressivos nas crianças até aos quatro anos e nos maiores de 65. Segundo a Executive Digest, nesse período foram internados 82 casos graves e dez doentes foram admitidos em cuidados intensivos, todos com doença crónica associada.
O subtipo H1N1 mantém ligeira predominância, mas o novo subgrupo H3N2 K representa já cerca de 45 por cento dos vírus caracterizados em Portugal. A tendência aponta para um crescimento adicional nas próximas semanas.
Para Bernardo Gomes, é essencial evitar previsões absolutas: a evolução depende das estirpes circulantes, dos comportamentos da população e até das condições meteorológicas.
O especialista recorda, contudo, que a capacidade de resposta do sistema de saúde é heterogénea e que regiões como Lisboa e Vale do Tejo enfrentam desafios mais intensos.
Uma estirpe nova e uma população sem memória imunitária
A Executive Digest sublinha que a principal preocupação com o H3N2 K está na ausência de memória imunitária, dado tratar-se de uma variante recente. A vacina desta época não foi concebida para este subgrupo, o que reduz a proteção natural da população.
Além disso, as últimas épocas gripais tiveram pouca circulação de H3N2, tornando a população ainda mais vulnerável.
Ainda assim, o especialista destaca que o país tem ferramentas eficazes. A vacinação continua a ser central, sobretudo entre crianças e avós. Para Bernardo Gomes, criar “bolhas familiares de proteção” pode reduzir significativamente o risco de complicações.
Natal, Ano Novo e a troca de “cromos infeciosos”
Com a aproximação das épocas festivas, o risco aumenta. São momentos de convívio intenso e cruzado, condições perfeitas para acelerar a transmissão. O especialista lembra que comportamentos simples como usar máscara quando há sintomas, evitar contactos desnecessários e privilegiar espaços ventilados podem fazer uma diferença substancial.
A vacinação, reforça, protege até contra complicações cardiovasculares associadas à gripe, um aspeto frequentemente ignorado.
Apesar do alerta internacional e da expansão da nova estirpe, já dominante no Canadá e em forte progressão nos Estados Unidos, o especialista recusa alarmismos. Prefere falar em alerta e prudência: a estirpe é nova, mas as ferramentas existem.
Leia também: Uso obrigatório de máscara volta a Portugal? Se entrar nestes locais tem de a usar a partir deste dia
















