A febre do chamado chocolate do Dubai tem vindo a espalhar-se um pouco por todo o país. Impulsionado pelas redes sociais, o fenómeno levou ao esgotamento imediato do produto nas prateleiras de vários supermercados, assim que começou a ser comercializado.
Com uma aparência vistosa, recheios cremosos e uma combinação pouco comum de ingredientes como pistácio e massa kadayif, o chocolate rapidamente se tornou tendência — não apenas pelo sabor, mas também pela estética apelativa que o tornou viral.
Entre versões industriais e variações artesanais, surgem agora marcas portuguesas que dão resposta a uma procura crescente por este doce de inspiração árabe.
Chocolate do Dubai produzido em Portugal
O que começou como um pequeno negócio de revenda de cosméticos viria a transformar-se, em poucos anos, num dos projectos mais singulares de produção artesanal de chocolate em Portugal.
A responsável chama-se Maria Mendes, tem 28 anos e é natural do Porto. Em janeiro de 2025, decidiu criar a sua própria versão do conhecido chocolate do Dubai, tendência que começava a ganhar visibilidade nas redes sociais e supermercados.
Inspirada por uma tendência internacional, Maria Mendes criou no Porto uma versão artesanal do popular “chocolate do Dubai”. Produzido sem máquinas, o doce tornou-se um sucesso nacional — e é vendido por 15 euros a unidade.
A loja onde tudo acontece chama-se Mari Boti e fica na Praça das Flores, no Porto. Originalmente dedicada à venda de gomas e produtos de cosmética, o espaço começou a ganhar notoriedade quando Maria decidiu apostar na chocolateria artesanal.
As primeiras tentativas não foram bem-sucedidas. Maria admite que os primeiros chocolates “ficaram horríveis”.
Mas, com persistência e formação, foi afinando a receita até chegar ao ponto que ambicionava: um chocolate recheado com creme de pistácio e massa kadayif, sem corantes artificiais e com textura cremosa.
A produção é feita inteiramente à mão, sem qualquer recurso a maquinaria industrial. Maria e a irmã, Jéssica Mendes, passam cerca de 14 horas por dia na loja, das 10h à meia-noite, com apenas uma pausa para almoçar. “É cansativo, mas temos cada vez mais encomendas e temos de dar resposta”, contou em declarações à NiT.
Inspiração familiar e exigências alimentares
A ideia de criar o produto surgiu também de uma necessidade pessoal. A filha de Maria, de 10 anos, sofre de dermografismo e pele atópica, duas condições que tornam a alimentação especialmente sensível.
“Era fundamental criar um chocolate que ela pudesse comer. Por isso foi a primeira a testar — e correu tudo bem”, afirmou.
A fórmula foi desenvolvida com base em chocolate belga, cujos ingredientes são devidamente identificados nas embalagens.
Maria alerta, no entanto, que o chocolate não é adequado a celíacos nem a pessoas com intolerância à lactose, devido à presença de glúten na massa kadayif e de proteína do leite no chocolate.
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Concorrência com supermercados impulsionou as vendas
O momento-chave aconteceu quando uma cadeia de supermercados lançou a sua própria versão do chocolate do Dubai. A loja Mari Boti, situada próxima de um dos estabelecimentos da marca, preparava-se para o pior — mas acabou por viver o seu dia de maior afluência.
“Quando o produto do supermercado esgotou, muitos clientes vieram até nós à procura de uma versão mais autêntica. Nesse dia vendemos ainda mais do que o costume”, recorda Maria.
Segundo a empresária, os clientes destacam a diferença na textura, sabor e qualidade geral entre o produto industrial e o artesanal. Apesar do preço mais elevado — 15 euros por 200 gramas — o produto continua a esgotar diariamente.
Versão ruby reforça o portefólio artesanal
Em março, a loja lançou uma nova versão do chocolate, feita com chocolate ruby, naturalmente cor-de-rosa, sem adição de corantes. A novidade teve receção imediata. “Foi a loucura. Tem sido uma das tabletes mais procuradas”, relatou Maria.
Além da versão original, existem variações com recheios como Nutella, Rafaello, Kinder Bueno ou outros ingredientes a pedido. Cada cliente pode personalizar o recheio, o que confere ao produto um carácter exclusivo.
A produção atual ronda as 60 tabletes por dia, mas a procura tem vindo a crescer. Em dias de maior movimento, o número ultrapassa as 100 unidades vendidas, com parte das encomendas a serem expedidas para outras regiões do país.
Ingredientes escassos e produção sob pressão
O crescimento da procura tem trazido também alguns desafios. Ingredientes essenciais como o creme de pistácio e a massa kadayif estão a tornar-se mais difíceis de adquirir. Maria, no entanto, mantém-se fiel aos fornecedores habituais para garantir a qualidade do produto.
“Felizmente, conseguimos manter o abastecimento. Mas temos de planear bem e fazer encomendas com antecedência”, explica.
De vendedora de cosmética a chocolateira artesanal
A loja Mari Boti nasceu durante a pandemia, quando Maria ficou desempregada por ter de cuidar da filha doente. Começou por vender produtos da marca Boticário e mais tarde, com a ajuda da irmã mais nova, passou a incluir gomas.
Apesar de ter encontrado algum sucesso, a empreendedora sentia que o projeto carecia de um lado criativo. A paixão pela confeitaria levou-a a procurar formação e a apostar em receitas próprias — uma delas viria a tornar-se referência entre os entusiastas de chocolate do Dubai em Portugal.
Expansão nacional e entregas por plataformas
As encomendas podem ser feitas diretamente através do site da loja ou por aplicações como Uber Eats, Glovo e Bolt Food, estando estas disponíveis apenas para a zona do Porto.
Apesar disso, a loja já envia para todo o país. “Temos clientes em Lisboa, Coimbra, Braga… Enviamos tudo manualmente e tentamos que o produto chegue em perfeitas condições”, refere Maria.
Perspetivas futuras e reforço da produção
Com o crescimento contínuo da procura, Maria pondera reforçar a equipa ou aumentar o espaço de produção. A ideia, no entanto, é manter o caráter artesanal da marca, mesmo com mais mãos envolvidas.
“Queremos crescer, mas não perder aquilo que faz os nossos chocolates especiais: o cuidado, o detalhe e a produção feita à mão”, sublinha.
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